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3.18.2015

É legítima qualquer manifestação. Seja ela de onde vier. É disso que se trata a democracia.



“Vaca”, “piranha”, “vadia”, "puta" e "vagabunda"...

escrito por : SILVANA MASCAGNA

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Está insatisfeito, proteste! Mas, por favor, deixe claras as razões do seu protesto. Me faça entender, bem rapidamente, com palavras de ordem, frases curtas e musiquinhas simples, suas reivindicações. Para que eu, que não estou me manifestando, possa entender. E que, se eu concordar com seus apelos, possa me identificar e me aliar. Ou, se eu for contra, possa criar minhas próprias palavras de ordem, frases curtas e musiquinhas para combater as suas.

Mas, por favor, não bata panelas de dentro de suas casas e nem grite “vaca”, “piranha”, “puta”, “vagabunda” e “vadia”. Essas palavras não significam nada pra mim quando penso que você está promovendo um panelaço porque é contra o governo. Com gritos de “vaca”, “piranha”, “puta”, “vagabunda” e “vadia”, a única coisa que identifico é seu discurso de ódio, sexista, machista, misógino. E, então, a coisa muda de figura. Meu cérebro percebe imediatamente que não é possível se identificar com esse discurso, mas tampouco é capaz de transformar meus argumentos em palavras de ordem, frases curtas e musiquinhas em resposta a quem, acima de tudo, quer atingir a MULHER que nos governa e não o seu governo.

Isso porque, se tudo o que você tem a dizer contra a presidenta é tachá-la de “vaca”, “piranha”, “puta”, “vagabunda” e “vadia”, você não está fazendo nada além do que qualquer um faz quando quer depreciar uma mulher poderosa. Seja ela governante de um país, presidente de uma empresa, editora de um jornal, dona de um boteco, líder de uma sala de aula. Faz parte do nosso cotidiano. Nos ofende, nos revolta, muito, mas não nos paralisa.

E, se o 8 de Março existe, não é para sermos parabenizadas, ganharmos flores e bombons, mas para lembrarmos que nessa data mulheres foram queimadas vivas por exigirem igualdade de condições de trabalho com relação aos homens e que hoje, 158 anos depois, ainda a luta é diária. Contra o assédio, o estupro, o feminicídio, a misoginia, o machismo, o sexismo. A ideia, como disse lindamente Aline Valek num texto na “Carta Capital”, “é nos esmagar, nos diminuir, nos calar, tirar nossos espaços e nos fazer pequenas até sumir”.

Por isso, quando você bate panela e grita “vaca”, “piranha”, “puta”, “vagabunda” e “vadia”, eu imediatamente me identifico com a ofendida. Questão de afinidade.

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