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3.02.2015

Ex-ministro do FHC, o Tucano e conservador ressalta que ricos nutrem ódio ao PT





Ex-ministro Bresser Pereira diz que elite brasileira detesta pobre






O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, tucano e conservador, declara em entrevista à Folha de S. Paulo deste domingo que a elite brasileira detesta pobre. Daí a razão do ódio ao PT e, consequentemente, a Lula e a todos os petistas. Bresser disse o que diriam todos os sociólogos e homens preocupados com a crise social que vive o Brasil, com mais de 120 milhões de pessoas passando quase um pouco da linha de pobreza, e o que poderiam fazer se liderados por um líder tipo Lula.
Abaixo a entrevista de Bresser Pereira à Folha de S. Paulo:
Ricos nutrem ódio ao PT, diz ex-ministro
Para Bresser-Pereira, defesa que governo faz dos pobres explica sentimento da burguesia em relação à presidente
Em novo livro, ele discute a história e o desenvolvimento do Brasil desde a independência
O pacto nacional-popular articulado pelos governos do PT desmoronou pela falta de crescimento. Surgiu um fenômeno novo: o ódio político, o espírito golpista dos ricos. Para retomar o desenvolvimento, o país precisa de um novo pacto, reunindo empresários, trabalhadores, setores da baixa classe média. Uma união contra rentistas, setor financeiro e estrangeiros.
A visão é do economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, 80, que está lançando "A Construção Política do Brasil", livro que percorre a história do país desde a independência. Ministro nos governos José Sarney e FHC, ele avalia que o ódio da burguesia ao PT decorre do fato de o governo defender os pobres.
Folha - Seu livro trata de coalizões de classe. O sr. diz que atualmente a coalização não é "liberal-dependente", como nos anos 1990, nem "nacional- popular", como no tempo de Getúlio Vargas. Qual é, então?
Bresser-Pereira - Não há. Desde 1930 houve cinco pactos políticos. O nacional-popular de Getúlio, de 1930 a 1960. De 1964 ou 1967 até 1977, há um pacto autoritário, modernizante e concentrador de renda, de Roberto Campos e dos militares. Depois, há o pacto democrático-popular de 77, que vai promover a transição. Esse chega ao governo, tenta resolver o problema da inflação e fracassa. Com Collor e, especialmente com FHC, há um pacto liberal-dependente, que fracassa novamente.
Aí vem o Lula, que se propõe a formar novamente um pacto nacional-popular, com empresários industriais, trabalhadores, setores da burocracia pública e da classe média baixa. O governo terminou de forma quase triunfal, com crescimento de 7,4%, e prestígio internacional muito grande. Mas esse pacto desmoronou nos dois últimos anos do governo Dilma.
Por quê?
O motivo principal foi que o desenvolvimento não veio. De repente, voltamos a crescer 1%. Houve erros nos preços da Petrobras e na energia elétrica. E o mensalão. Aí os economistas liberais começaram a falar forte e bravos novamente, pregar abertura comercial absoluta, dizer que empresários brasileiros são todos incompetentes e altamente protegidos, quando eles têm uma desvantagem competitiva imensa. É o que explica o desaparecimento de centenas de milhares de empresas. O pacto político nacional-popular... Vupt! Evaporou-se. A burguesia voltou a se unificar. 
E achou que podia ganhar a eleição do ano passado?
Sim. Aí surgiu um fenômeno que eu nunca tinha visto no Brasil. De repente, vi um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente. Não era preocupação ou medo. Era ódio. Esse ódio decorreu do fato de se ter um governo, pela primeira vez, que é de centro-esquerda e que se conservou de esquerda. Fez compromissos, mas não se entregou. Continua defendendo os pobres contra os ricos. O ódio decorre do fato de que o governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, aos rentistas.
Mas os rentistas tiveram bons ganhos com Lula e Dilma, não?
Não. Com Dilma, a taxa de juros tinha caído para 2%. Isso, mais o mau resultado econômico, a inflação e o mensalão, articularam a direita. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia que está infeliz.
Ao ganhar, Dilma adotou o programa dos conservadores?
Isso é uma confusão muito grande. Quando se precisa fazer o ajuste fiscal vira ortodoxo? Não faz sentido. Quando Dilma faz ajuste ela não está sendo ortodoxa. Está fazendo o que tem que fazer. Havia abusos nas vantagens da previdência. Subsídios e isenções foram equívocos. Nada mais desenvolvimentista do que tirar isso e restabelecer as finanças. Em vez de dar incentivo, tem que dar é câmbio. E de forma sustentada.
Dilma chamou [o ministro da Fazenda] Joaquim Levy por uma questão de sobrevivência. Ela tinha perdido o apoio na sociedade, formada por quem tem poder. A divisão que ocorreu nos dois últimos anos foi violenta. Quando os liberais e os ricos perderam a eleição, muito antidemocraticamente não aceitaram isso e continuaram de armas em punho. De repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo. Não há chance de isso funcionar.
Dilma está na direção certa?
Claro. Mas não vai se resolver nada enquanto os brasileiros não se derem conta de que há um problema estrutural, a doença holandesa. Enquanto houver política de controle da inflação por meio de câmbio e política de crescimento com poupança externa e âncora cambial, não há santo que faça o país crescer. Juros altos só se justificam pelo poder dos rentistas e do sistema financeiro. Falar em taxa alta para controlar inflação não tem sentido.
Qual pacto seria necessário?
Um pacto desenvolvimentista que una trabalhadores, empresários do setor produtivo, burocracia pública e amplos setores da baixa classe média. Contra quem? Os capitalistas rentistas, os financistas que administram seus negócios, os 80% dos economistas pagos pelo setor financeiro e os estrangeiros.
Um pacto assim não fere interesses consolidados?
Em primeiro lugar, fere interesses do capitalismo. Não há nada que o capitalismo internacional queira mais em relação aos países em desenvolvimento do que eles apresentem deficit em conta-corrente. Porque esses deficit vão justificar a ocupação do mercado interno nosso pelas multinacionais deles e pelos empréstimos deles. Que não nos interessam em nada. O Brasil está voltando a ser um país primário-exportador. Esse câmbio alto resultou numa desindustrialização brutal.
No livro o sr. trata das dubiedades da burguesia. Diz que muitos industriais são hoje quase "maquiladores". Viraram rentistas. Como compor esse pacto com empresários?
A burguesia tem sido ambígua, contraditória. Em alguns momentos se uniu a trabalhadores e ao governo para uma política de desenvolvimento nacional, como com Vargas e Juscelino. Em outros, não foi nacional, como entre 1960 e 1964. Ali, a burguesia se sentiu ameaçada. No contexto da Guerra Fria e da Revolução Cubana, se uniu e viabilizou o regime militar.
Estamos vendo isso novamente. A burguesia voltou a se a unir sob o comando liberal. Há esse clima de ódio, essa insistência de falar de impeachment.
Mas esse espírito não vai florescer. A democracia está consolidada e todos ganham com ela, ricos e pobres. O Brasil só se desenvolve quando tem uma estratégia nacional de desenvolvimento.
Como define a burguesia hoje?
É muito mais fraca do que nos anos 1950. Tudo foi comprado pelas multinacionais. O processo de desnacionalização é profundo. Todos que venderam suas empresas viraram rentistas, estão do outro lado. Mas continuam existindo empresários nacionais e jovens com ideias. Mas não há oportunidade de investir com esse câmbio e esse juro. É uma violência que se está fazendo contra o país. Em nome de uma subordinação da nação aos estrangeiros e de uma preferência muito forte pelo consumo imediato.
Os brasileiros se revelam incapazes de formular uma visão de seu desenvolvimento, crítica do imperialismo. Incapazes de fazer a crítica dos deficit em conta-corrente, do processo de entrega de boa parte do nosso excedente para estrangeiros. Tudo vai para o consumo. É o paraíso da não nação.
Desnacionalização preocupa?
Profundamente. É uma tragédia. Vejo uma quantidade infinita de áreas dominadas por empresas multinacionais que não estão trazendo nenhuma tecnologia, nada. Simplesmente compram empresas nacionais e estão mandando belos lucros e dividendos para lá. Isso enfraquece profundamente a classe empresarial brasileira e, assim, a nação.
Então o senhor está pessimista em relação à burguesia?
A burguesia brasileira está sendo um cordeiro nas mãos do carrasco. O carrasco é o juro alto e o câmbio apreciado. Ela é incapaz de se rebelar. Suas organizações de classe se mostram muito fracas. Como vão defender mudanças no câmbio se têm empresas endividadas em dólar? Líderes ficam manietados. Eles sentem que estão indo para o cadafalso, mas não sabem o que fazer; estão divididos.
O senhor está pessimista?
É claro. Não vejo nenhum sinal de que esse problema vá ser enfrentado. Nem da parte do governo, nem das oposições, nem da academia.

Burguesia não tem só preocupação com o PT, tem medo e ódio, diz ex-tucano

Insuspeito por ser até pouco tempo atrás um dos mais destacados quadros do PSDB – pediu desfiliação do partido em abril de 2011 – o ex-ministro Luís Carlos Bresser Pereira, quatro vezes ministro de Estado nos governos FHC e Sarney concedeu entrevista à Folha de S.Paulo, publicada no fim de semana (ontem), preocupante para os petistas e, mais do que isso, que merece uma profunda reflexão por parte dos políticos e de todos os brasileiros.
“Os ricos nutrem ódio ao PT e a Dilma”. Esta frase do ex-ministro – utilizada, aliás, como título da entrevista pelo jornal – explica e justifica bem o porque desse sentimento, de parte dos brasileiros, da parcela rica, da elite, em relação ao nosso partido e ao governo da Presidenta da República.
Aos que não sabem ou não acompanham a vida do ex-ministro, é preciso destacar que Bresser é um profundo estudioso do país, da vida e história do Brasil como Estado e nação, uma paixão a que ele dedicou toda a vida. Inclusive sobre esta paixão ele está lançando agora mais um livro “A Construção Política do Brasil”, no qual disseca a história, o desenvolvimento, a vida do país enfim da independência em 1822 aos nossos dias.
Porque o ódio aflorou tão forte e violento contra o PT
Na entrevista o ex-ministro fundamenta muito bem suas colocações acentuando que “o pacto nacional-popular articulado pelos governos do PT desmoronou pela falta de crescimento. Surgiu um fenômeno novo: o ódio político, o espírito golpista dos ricos.” Na sequência, ele faz uma proposta com a qual este blog do ex-ministro José Dirceu e, por isso mesmo, tem repetido aqui a exaustão: a saída para retomar o desenvolvimento do país é um novo pacto nacional, reunindo empresários, trabalhadores, setores da baixa classe média e demais segmentos populares da nação.
“Uma união contra rentistas, setor financeiro e estrangeiros”, prega Bresser Pereira.  Para o ex-ministro dos governos Sarney e FHC, o ódio da burguesia ao PT decorre do fato de os governos do partido defenderem os pobres. Bresser fala do desencanto e desespero da burguewsia com os governos do PT, a expectativa da classe de ganhar a eleição do ano passado, de golpe e impeachment.
“(Concretizada a vitória do PT em 2014) surgiu um fenômeno que eu nunca tinha visto no Brasil. De repente, vi um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente. Não era preocupação ou medo. Era ódio.Esse ódio decorreu do fato de se ter um governo, pela primeira vez, que é de centro-esquerda e que se conservou de esquerda. Fez compromissos, mas não se entregou. Continua defendendo os pobres contra os ricos. O ódio decorre do fato de que o governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu (preferência) à classe rica, aos rentistas”, assinala Bresser.
Não deixem de ler a íntegra da entrevista do ex-ministro na Folha deste domingo. Acessem aqui:“Ricos nutrem ódio ao PT, diz ex-ministro”.

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