Dilma foi eleita com 54 milhões de votos, o equivalente a 52% contra 48% dos votos válidos, a mesma diferença que elegeu Hollande na França, e muitas vezes superior à que elegeu John Kennedy e George Bush filho, quando impediu a apuração dos votos da Florida.
Eleita, Dilma submergiu.
Só saiu da caverna neste domingo (08/03), quatro meses depois, para pedir paciência eavisar que o ajuste do Levy é apenas uma travessia no caminho de dias melhores.
Nos bairros de classe média alta e nem tão alta assim de São Paulo, Rio, Brasília e outras cidades do Sudeste para baixo, foi recebida com ódio e insultos.
Dilma pagou um preço muito alto por sua ausência inexplicável, inaceitável.
O político tem que se expor.
O líder tem que aparecer, enfrentar, mostrar-se, liderar com o corpo, a presença física.
Que esse panelaço venezuelano, germinado no ventre do massacre do jornal nacional e seus “artistas”, como o Chico Caruso, que essa amarga experiência – rara na vida política do país – sirva de lição.
Nesse período de longa hibernação, Dilma montou um ministério.
Um ministério para ter base no Congresso e não necessariamente espelhar as forças políticas que a elegeram.
Foi um Ministério para o Congresso conservador que se elegeu com ela.
Isso foi antes da Lava Jato, que desfigurou o Congresso e o PMDB, seu principal aliado, e agora essa novidade irrecorrível, a rebelião explícita, violenta, com os olhos vermelhos de ódio da classe média venezuelana.
Diante da nova realidade, esse Ministério é disfuncional, diria o Príncipe dos Sociólogos e da Privataria.
(O Mestre Câmara Cascudo achava que a Sociologia só servia para explicar a carreira dos Sociólogos !)
Disfuncional.
Não funciona.
Esse Ministério não entrega votos no Congresso, depois da Lava Jato.
Não representa o PMDB que não foi colhido na Lava Jato.
E não tem autoridade Moral e Política para enfrentar a Venezuela nas ruas.
A Dilma precisa de um ministério que:
1) entregue a mercadoria no Congresso, ou seja, possa recosturar a aliança com o que restou do PMDB; como diz o Aldo Rebelo, apressar a formação uma nova base política, que se definirá.
2) demonstre fisicamente, materialmente, simbolicamente que é fiel a quem a elegeu, os 54 milhões, hoje, perplexos e muitas vezes desiludidos;
3) que peite seu maior inimigo: a Globo.
O resto é o luar de Paquetá.
Esse panelaço de domingo é um segmento da programação dominical da Globo, extensão do Faustinho Silva e do Fintástico, articulado no Whats’app e no Facebook.
Se a Dilma bernardizar o Berzoini, esquece.
Se ela se trancar no Palácio por dentro e entregar a chave ao General Aloysio Oliva (ver noABC do C Af), esquece.
Se mantiver o zé da Justiça, esquece.
Se esconder o Jaques Wagner e o Aldo Rebelo, esquece.
Se não deixar o Lula montar uma barraquinha na frente do Palácio, esquece.
Quando o ajuste do Levy apertar e o pessoal não puder mais levar a garotada a Disney, trocar o Fiat, ou comprar TV Led 50”, ela vai precisar disso tudo: dos 54 milhões e do Lulinha !
Esse ministério não aguenta o tranco.
Em tempo: quando Carlos Lacerda se deu conta de que os militares do Golpe de 64 não iam lhe entregar a rapadura, ele foi para a Oposição.
(Ele tinha a consistência política do FHC, como ele, ex-marxista.)
A certa altura, Lacerda se perguntou – ele tinha acesso total ao PiG e à tevê: qual o nome do Ministro do Trabalho ?
O pau roncando no lombo do trabalhador, ele ponderou, e ninguém sabe o nome do Ministro do Trabalho.
E aí, amigo navegante, qual o nome do Ministro do Trabalho da Dilma ?
Paulo Henrique Amorim
Em algumas capitais – especialmente do sul e sudeste – e em bairros de classe média -, panelaços aconteceram. Em São Paulo, onde ela perdeu por larga margem de Aécio, nada a surpreender. Ainda mais em regiões mais abastadas (moro na zona leste de SP e por aqui nada se ouviu).
Algumas pessoas saíram em blogs, tuíteres e pelo Facebook a vociferar contra o caráter fascista dessas manifestações. Menos, gente. Bater panelas não é em si um gesto fascista. Nas diretas-já, em 1984, houve vários panelaços em cidades médias e grandes e a balbúrdia nada tinha de fascista. Ao contrário.
Há – claro – os valentões de janela, que xingam, pedem intervenção militar e graças do gênero. Os filhotes de Bolsonaro em cruzamento com Alexandre Frota. Exibem uma intolerância atroz e devem ser denunciados. É ainda preciso ver quanto representam entre os raivosos em geral.
Um pedaço da classe média, que tem nojo de pobre, que vê no governo petista fantasmas que não assombram e que é fortemente influenciada pela mídia, decidiu botar sua bílis para fora. Faz parte da boa e velha luta de classes, sempre negada pelos governos petistas e pelo próprio PT, em seu afã de parecer pós-moderno. Sim, ela existe e vai para as ruas no dia 15.
O curioso é que a turma das caçarolas não forma o contingente dos prejudicados por Dilma. Poucos devem estar preocupados co restrições ao seguro-desemprego, às pensões das viúvas etc. Não são os que pagarão um valor na conta de luz que retirará comida da geladeira. Ao contrário. Boa parte integra aquela pequena-burguesia – desculpem o palavrão – que também se beneficia do rentismo proporcionado pelos juros dilmistas em suas aplicações bancárias.
O governo bem faria se operasse uma guinada e desse uma banana para os paneleiros e seus incentivadores, na mídia e no mercado financeiro. Seria pedir muito.
Dilma teria de brigar não apenas com os emergentes que adoram Miami – mais distante com o dólar a R$ 3 – mas com seus financiadores, que colocaram gentilmente R$ 319 milhões em sua caixinha de campanha.
Vamos ver como será 15 de março.
Duas coisinhas, para terminar: panelaço não é fascismo, mas impeachment é golpe.
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