Câncer, obesidade e outras doenças não transmissíveis podem e devem ser prevenidas antes de se manifestarem
por Rogério Tuma
Houve um tempo em que as epidemias que colocavam a existência da humanidade em risco estavam ligadas apenas às doenças infecciosas. Hoje, o que mais assusta são as doenças não transmissíveis. O fato de o mundo ter se tornado “menor” com a globalização pode ter facilitado o surgimento de pandemias por doenças transmissíveis, mas a massiva aculturação da humanidade também universalizou os maus hábitos, como fumar, beber e comer demais. Houve um aumento na incidência das doenças não transmissíveis (DNTs), como câncer, obesidade, diabetes e doenças cardiocerebrovasculares em proporções maiores que as infecções.
Anos atrás, os habitantes de países ricos morriam dos efeitos do cigarro, do álcool e da comida em excesso, e os dos pobres morriam de doenças infecciosas, como tuberculose e malária. Hoje, excetuando-se a região do subsaariana, todos sofrem mais com as DNTs. Elas são responsáveis por 65% das mortes anuais e mais da metade do custo econômico que todas as doenças provocam. O mais assustador é que 85% desse custo e perda de vidas ocorrem nos países mais pobres. Para Lawrence Gostin, diretor da Organização Mundial da Saúde, o custo de tratamentos e o prejuízo com as mortes prematuras somarão 47 trilhões de dólares por volta de 2030.
Cientistas identificaram alguns fatores que, se controlados por legislação internacional, trariam dramática redução na incidência das DNTs. A redução do uso do tabaco no mundo é um exemplo. As regras de uso do tabaco da ONU são utilizadas em 178 países por ratificação de um tratado, onde 51 deles incluíram em sua legislação as regras, que recomendam altos impostos, proibição de uso em locais públicos e controle de publicidade. Já a obesidade tem passado ao largo desse sucesso. De acordo com Gostin, nenhum país signatário da OMS conseguiu até hoje reduzir a taxa de obesidade. Focada em doenças como Aids, tuberculose e malária, a organização gasta apenas 8% de seu orçamento para controle das DNTs. A única ação da OMS foi em 2012, quando definiu como objetivo global a redução de 25% das mortes prematuras por DNTs até 2025.
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, as leis para controle dessas doenças não são aplicadas porque os governos estão ligados à indústria de alimentos, bebidas e tabaco; seria o medo de perder uma indústria para o país vizinho. A ONU recomenda uma lista de medidas de baixo custo que promovem alto impacto na redução das DNTs. São elas:
Tabaco: Aumentar impostos, tornar as áreas públicas livres de cigarro.
Álcool: Aumentar impostos, restringir acesso a lojas e proibir propaganda.
Dieta: Reduzir sal e açúcar nos alimentos, substituir gordura trans por poli-insaturada nos alimentos industrializados.
Exercício: Fomentar programas de atividades físicas e esportivas no trabalho e escolas, aumentar vias para bicicletas .
Doença cardiovascular e diabetes: Identificar a doença e tratá-la precocemente.
Câncer: Imunizar toda a população contra o vírus da hepatite B para prevenir o câncer de fígado e identificar e tratar lesões de colo do útero para evitar câncer uterino em mulheres.
Fonte: Carta Capital
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