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4.22.2015

Gastrite torna-se problema comum em crianças e adolescentes


Marina Oliveira e Rita Trevisan
Do UOL, em São Paulo
  • Getty Images
    Uma rotina sem tempo livre pode favorecer o aparecimento da gastrite em crianças
    Uma rotina sem tempo livre pode favorecer o aparecimento da gastrite em crianças
Doença ligada, costumeiramente, à vida adulta, a gastrite tem, cada vez mais, atingido crianças e adolescentes. Segundo Yu Kar Ling Koda, chefe da Unidade de Gastroenterologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, os hábitos alimentares da juventude favorecem o aparecimento da inflamação da mucosa que reveste as paredes internas do estômago, caracterizando a enfermidade.
"Muitas crianças estão se alimentando em horários irregulares e seguem uma dieta rica em gorduras e condimentos, fast-food, sucos artificiais e refrigerantes", afirma Yu Kar. "Em adolescentes, cigarro e bebidas alcoólicas também aumentam a vulnerabilidade ao problema", diz. 
Para o gastropediatra Thiago Gara, da unidade Anália Franco do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo, fatores comportamentais também merecem atenção. "Hoje em dia, as crianças têm uma rotina cheia de atividades e praticam esportes competitivos desde muito cedo. Tudo isso pode gerar ansiedade e estresse e levar a uma gastrite, principalmente se o indivíduo tiver predisposição à doença", diz.
A contaminação por bactérias, como a Helicobacter pylori ou H. pylori, é outro fator apontado pelos médicos como um facilitador do desenvolvimento da patologia. O microrganismo acomete 30% das crianças brasileiras de seis a oito anos e 78% das crianças e jovens de dez a 18 anos, de acordo com levantamento divulgado pela Organização Mundial de Gastroenterologia, em 2010.
"A H. pylori coloniza a mucosa do estômago, provocando uma resposta inflamatória e, como consequência, altera a função gástrica", diz a médica Yu Kar.
Muitas vezes, é o próprio adulto quem contamina a criança (compartilhando talheres, por exemplo), segundo o gastropediatra Mauro Batista de Morais, chefe do Departamento de Pediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "Trata-se de uma bactéria que, uma vez adquirida, permanece no estômago até ser descoberta e tratada. Se o diagnóstico não for feito corretamente, ela poderá ficar lá a vida toda", diz.
O uso indevido de medicamentos, como os anti-inflamatórios não hormonais –a exemplo da nimesulida e da aspirina–, soma-se aos demais fatores que causam a gastrite em idade precoce, de acordo com Morais.

Os sintomas

Nem sempre as crianças são capazes de explicar o que sentem, por isso, os pais ou responsáveis devem estar atentos a queixas de dores abdominais, enjoo, ocorrência de vômito, perda de apetite e emagrecimento.
"Em bebês de até dois anos, os pais precisam ficar alertas se houver recusa constante de alimentos, se a criança estiver crescendo abaixo da média e se chorar muito", diz Mauro Batista de Morais.
O diagnóstico é feito com o auxílio de uma endoscopia (exploração visual de uma cavidade por meio de um aparelho chamado endoscópio) e, uma vez confirmada, a gastrite será tratada com medicamentos que diminuem a secreção de ácido pelo estômago.

Acompanhamento psicológico pode ser necessário para complementar o tratamento. "Situações de estresse, tensão e ansiedade devem ser investigadas e, quando presentes, a família será orientada sobre a melhor terapia a ser adotada", diz Yu Kar Ling Koda.

Vida mais saudável

Para evitar que os mais jovens sofram com a gastrite, o cuidado com a alimentação é fundamental. Crianças e adolescentes devem fazer refeições em horários regulares –pular o café da manhã, por exemplo, é algo que pode agravar a doença.
Além disso, é fundamental que a família tenha uma dieta equilibrada, rica em verduras e legumes, alimentos com uma boa quantidade de fibras e que, preferencialmente, sejam preparados em casa.
Também é importante garantir que a criança seja preservada em caso de conflitos familiares e que tenha tempo livre para aproveitar como quiser. "Toda criança e adolescente precisa reservar um período do dia para brincar, cochilar ou, simplesmente, não fazer nada", diz Yu Kar.

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