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5.18.2015

Jovem de 16 anos que convocou protestos de 2013 pede atenção com panelaços


Raphael Godoi, hoje com 18 anos, trocou o Ensino Médio e a Tijuca pelas Ciências Sociais, na UENF, em Campos

CAIO BARBOSA
Rio - Quando o Rio de Janeiro parou, em junho de 2013, com mais de 1 milhão de pessoas na Avenida Presidente Vargas, pouca gente sabia que um dos responsáveis por tudo aquilo era um menino de 16 anos, chamado Raphael Godoi. Filho da classe média tijucana, baixinho e magrinho, Raphael cursava o segundo ano do Ensino Médio no Colégio Batista Shepard e entendia muito pouco de política. Quase nada. Era apenas mais um adolescente indignado, contra "tudo isso que está aí".
Raphael foi quem convocou a primeira manifestação no Rio, em 2012, que acabou virando o ponto de partida para passeatas históricas
Foto:  Fernando Souza / Agência O Dia

Rubro-negro fanático e evangélico praticante, foi dele a iniciativa de convocar a primeira manifestação contra o aumento das passagens, para 24 de novembro de 2012, em frente à prefeitura. Naquele momento surgiria o Fórum de Lutas Contra o Aumento da Passagem, que se tornou o núcleo central das manifestações que culminaram na histórica passeata de 20 de junho de 2013.
"A gente esperava umas trinta pessoas na primeira manifestação, mas apareceram umas cento e cinquenta (risos)", recorda. "Mas foi um vídeo de um policial dando um choque numa manifestante, pelas costas, que correu a internet e potencializou todo aquele movimento que se iniciava", acrescentou.
Dois anos e meio depois, a vida de Raphael, ou Godoi, como é chamado, mudou. O secundarista que estava na dúvida entre Direito, Psicologia e Ciências Sociais tomou gosto pela terceira opção e hoje cursa o primeiro período na UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), criada por Darcy Ribeiro, de quem ainda vai ouvir falar muito nos próximos quatro anos. E, claro, trocou a Tijuca por Campos.
"Vim para cá porque queria estudar. Depois de tudo o que eu vivi nestes dois anos, se eu fosse para o IFCS/UFRJ, naquele burburinho onde tudo acontecia, iria militar mais e estudar menos. E agora eu preciso adquirir mais conhecimento para poder compreender melhor tudo o que vivi e estamos vivendo", explica o calouro, com discurso de veterano.
Em um longo papo com o DIA , Raphael faz uma análise particular e interessante do momento político do país. Adepto do apartidarismo em 2013, Raphael decidiu, no fim do ano passado, se filiar ao Psol por entender ser "um partido que leva a política a sério". E admite que a falta de uma cara definida ajudou a pôr um fim nas manifestações daquele ano e acabou abrindo espaço para os protestos declaradamente de direita, que têm dado o tom das ruas em 2015.
"Existia um processo de indignação legítimo, mas muito superficial. Na primeira entrevista que eu dei, ao DIA , também não tinha noção do jogo político. As manifestações são legítimas, mas as pessoas precisam entender o que está em disputa. Foi bom a gente ter mostrado que para pularmos de uma manifestação de 2 mil pessoas para 1 milhão não precisávamos de uma liderança. Mas depois que o aumento da passagem foi revogado, faltou esta liderança ou algo para canalizar a insatisfação, que não era apenas por vinte centavos. E aí o movimento se perdeu", recorda.
Cauteloso nas palavras para evitar polêmicas estéreis com os chamados "black blocs", Raphael admite que a violência, primeiramente por parte da polícia, mas também presente em atos de depredação tanto do patrimônio público como privado, acabou afastando o povo das ruas e mudando o perfil das manifestações.
"Essa questão dos black blocs é complicada. As ações de resistência, em defesa dos manifestantes contra a violência policial, eu mesmo participei e defendo. Mas nunca entendi a ação direta, que é como eles chamam a depredação de símbolos do capitalismo, mas que incluiu até bancas de jornal, como algo que ajudasse à causa da manifestação", lamentou.
A falta de maturidade política foi, segundo ele, o grande problema após a passeata de 1 milhão. Um problema compreensível, visto que muitos ali nunca haviam participado de nenhum ato político na vida, sobretudo daquela magnitude. E essa falta de maturidade acabou jogando por terra, naquele momento, todo um propósito.
No primeiro ato, em 2012, Raphael Godoi tinha apenas 16 anos
Foto:  Divulgação

"Faltou ser mais inteligente e observar como o jogo estava sendo jogado. Focamos a disputa contra o Estado e esquecemos da população, por falta de experiência mesmo. Mas acho deixamos um legado, uma sensação de que é possível conquistar o que a gente quer com mobilização. Vimos isso aqui no Rio com os garis e os professores, por exemplo", comparou.
Longe das manifestações deste ano, não apenas pela distância geográfica, agora que virou campista, mas também pela diferença ideológica com o conteúdo, Raphael faz o que considera um importante alerta para quem está voltando às ruas. Ou tomando coragem de ir pela primeira vez, como ele fez em 2013. Ou para quem prefere manifestar sua indignação através de panelaços:
"Acho super legítimo, mas um pouco perigoso. A população não está ciente do que vem por trás. Acho que estamos restringindo o que acontece de ruim ao PT, quando na verdade o que está por trás é uma disputa política promovida por grupos cujas práticas não são muito diferentes, e que não querem mudar nada. Querem apenas o poder. Não podemos virar massa de manobra", alerta.
Quem pensa que Raphael se tornou "dilmista", está enganado. A indignação com os rumos do governo federal permanecem, mas agora com uma percepção que considera mais próxima aos fatos, diferentemente daquele "contra tudo que está aí" de 2013.
"Eu não defendo o PT em nada, sou opositor ferrenho, mas reduzir tudo ao Lula e à Dilma é absolver todos os muitos outros que estão envolvidos. Além disso, as medidas adotadas pela Dilma são as mesmas que o Aécio disse, em campanha, que tomaria. Então, falta coerência a ele e a quem agora está criticando. A Dilma está fazendo o que ele disse que faria", lembrou.

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