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5.27.2015

Lendo a mente das pessoas




Mark Griswold, físico e professor Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
Mark Griswold, físico e professor - 
Antonio Scorza / Agência O Globo


“Para mim, a radiologia é o melhor trabalho do mundo.
 Com ela podemos capturar imagens 
de dentro das pessoas sem prejudicá-las. Trabalho 
no desenvolvimento de novas técnicas 
nessa área em um hospital e é muito gratificante ver 
o que começou como uma ideia 
da física ou da matemática salvar a vida de alguém”
Conte algo que não sei.
A ressonância magnética (RM) é o mais detalhado
 exame de diagnóstico por imagem 
que temos. 
É como viajar por dentro do corpo. Mas o que muita 
gente não sabe é que tudo em 
torno dela hoje é qualitativo. Usamos palavras para
descrever os resultados. Dizemos,
 por exemplo, que algo 
é mais claro, ou mais escuro, do que deveria ser. 
Tudo depende da nossa experiência e de 
quais palavras escolhemos para descrever o que 
vemos. É muito subjetivo, e não há outra 
área da Medicina que seja assim.
E como a nova técnica desenvolvida em seu 
laboratório muda isso?
O que estamos tentando fazer é que a RM seja 
como o resto da Medicina, que possamos 
associar números ao exame, como em nosso peso,
 nossa pressão sanguínea ou nossa 
frequência cardíaca, pois são eles que nos permitem 
tomar decisões quanto a tratamentos.
 Do jeito que a RM é feita hoje, já podemos ver
 muitas coisas, mas queremos levar o 
exame para o futuro. Assim, desenvolvemos um 
método, chamado de “impressão digital”,
 em que podemos obter estes dados quantitativos,
 os números, num tempo de uso do 
equipamento equivalente ao de um exame normal.
 E agora que temos os números, 
eles nos dizem muito sobre as doenças que vemos.
E quais são os exemplos de aplicação clínica disso?
Queremos ser capazes de dizer se uma lesão está 
melhorando ou piorando, se um tumor
 está crescendo ou morrendo. No caso do câncer,
 se você tem um tumor, faz quimioterapia,
 passa pelo tratamento e espera três meses para
 fazer um exame a fim de saber se ele cresceu ou
 se diminuiu. Perde-se muito tempo que poderia 
ser usado em uma terapia eficaz, e isso pode 
ser a diferença entre a vida e a morte.
A ressonância magnética funcional (fMRI) tem 
sido muito usada nas pesquisas 
de neurociência em busca de melhor 
compreensão do funcionamento da mente humana.
 Chegará o dia em que poderemos “ler” 
pensamentos com uma máquina?
De certa forma já é possível “ler” a mente com
 a fMRI hoje. Um pesquisador, Jack Gallant,
 na Universidade da Califórnia em Berkeley, está 
fazendo algo que é preciso ver para crer.
 Durante muito tempo tive dúvidas e fui cético 
quanto a essa possibilidade. Não achava 
que um dia teríamos sensibilidade para ver esse 
tipo de coisa, mas as pesquisas de Gallant 
mudaram minha opinião. É incrível! Eles mostraram 
às pessoas cenas de filmes e montaram
 uma “biblioteca” de sua atividade cerebral enquanto
 as assistiam. Então, pegaram essas pessoas e 
mostraram a elas cenas diferentes, só gravando 
o padrão de atividade de seus cérebros. 
Eles adivinharam, só com os dados da fMRI, como
 era a cena que estavam vendo no momento. 
Não é perfeito, mas é muito bom.
Mas também temos o caso de um estudo, na 
verdade uma crítica, que demonstrou 
que, do jeito que muitas dessas pesquisas são 
feitas, é possível encontrar atividade 
cerebral até em um salmão morto, o que lhe 
valeu o Prêmio IgNobel de 
Neurociência em 2012...
Se seu experimento está mal modelado, você 
sempre vai encontrar algo. 
Não é difícil ver alguma coisa quando se está 
procurando muito por ela, especialmente
 quando se monta errado o experimento. A fMRI 
é muito difícil de fazer, pois você
está detectando sinais muito tênues. Assim, 
qualquer problema e você terá falsos
 resultados. Por isso, quem usa a fMRI são 
cientistas muito bons. E sei que 
Gallant está sendo muito cuidadoso.

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