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6.23.2015

Comissão atende pedido de Feliciano e faz reunião para ouvir oito 'ex-gays'

Autor do texto afirma que eles são 'minoria da minoria' e sofrem preconceito.

Audiência, marcada para quarta, foi aprovada pela maioria do colegiado.


Uma vez "gay" sempre "gay" ???
Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados marcou para esta quarta-feira (24) uma audiência pública em que deverão ser ouvidas oito pessoas que se consideram “ex-gays”. O objetivo, segundo o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), autor da iniciativa, é discutir os problemas enfrentados por essas pessoas que sofreriam preconceito tanto entre grupos héteros quanto na comunidade LGBT.

Marco Feliciano, que é pastor evangelico, presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara em 2013. O mandato dele à frente do colegiado foi marcado por embates com grupos de militantes em defesa de homossexuais. O parlamentar já se manifestou publicamente contra a união de pessoas do mesmo sexo.

Nesta segunda, Feliciano defendeu aqueles que se consideram "ex-gays". “Eles são minoria da minoria, os discriminados dos discriminados. Estão vivendo um problema seríssimo, não estão felizes”, justifica.

Entre os depoentes há três pastores, uma missionária, um estudante de teologia, dois psicólogos e um estudante de psicologia. O deputado argumenta que a realização da audiência é necessária para poder ouvir essas pessoas e ver como é possível ajudá-las.
“Eles foram [gays] e deixaram de ser, são pais de família e dizem que sofrem preconceito. Viraram motivo de piada dos apresentadores de TV, nas redes sociais. Por que não existe o caminho contrário? Se é uma orientação [sexual], por que não pode haver uma desorientação ou uma reorientação?”, defende.
Feliciano relata como exemplo a história de um rapaz que o procurou na semana passada após o seu culto e contou estar arrependido de ter colocado próteses de silicone no peito em um processo de mudança de sexo.
“Ele me disse: 'Lutei três anos para colocar [as próteses] e agora não consigo me olhar no espelho'. Ele chorou e eu chorei junto com o rapaz. Só que falei para ele que ele tinha vindo no lugar errado. Qualquer coisa que eu fizesse iriam rotular de 'cura'”, conta Feliciano.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), membro da comissão que votou a favor da audiência com os depoimentos, afirmou que esta será uma oportunidade para entender os problemas dessas pessoas. “Votei [a favor da realização] e louvei porque entendemos que o movimento LGBT é minoria no país, mas nunca consideraram a minoria da minoria”, diz.
Segundo ele, os depoimentos serão importantes, “inclusive, para os próprios deputados de matiz ideológica de esquerda”, para entender as dificuldades vividas por essas pessoas.
Embora não defenda a realização da audiência, o deputado Luiz Couto (PT-PB) observa que o pedido de audiência foi aprovado pela maioria da comissão.
“É o direito de cada cidadão debater o que acha importante. Eu posso até discordar de que isso seja motivo para uma audiência pública, mas, se o autor achou importante e a comissão aprovou, ela tem que ser realizada”, diz, ressaltando que não estava presente na sessão de 15 de abril, quando foi aprovado o requerimento.
Críticas
Integrante do colegiado, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) considera a audiência um “equívoco” e uma exposição “inadequada e desnecessária” dos depoentes. “Ela gera uma discussão de que esse tema [homossexualidade] deveria ser tratado, de que pode ser curado, de que é uma patologia, uma doença. Isso projeta mais preconceito, mais discriminação da sociedade”, opina.
Para o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), que também faz parte da comissão, a única intenção da audiência é “criar um clima de provocação, de divisão da sociedade”. “Eu lamento quando a comissão é utilizada para criar uma falsa disputa para ter ganhos eleitorais para alguns. Já basta as pessoas estarem sendo rotuladas e agora vai se fazer um terceiro rótulo: o de ex-gays”, afirma.
Para a deputada Érika Kokay (PT-DF), o “real motivo” da audiência é reacender o debate sobre o projeto de lei que permitiria a psicólogos ofereceram tratamento a homossexuais e que foi batizado de projeto da “cura gay”. “Essa audiência é um escárnio, é um circo, espetáculo macabro”, afirma.
O projeto da chamada “cura gay” foi colocado em discussão por Feliciano quando presidiu a comissão em 2013, época em que se tornou nacionalmente conhecido por conta de suas posições polêmicas. O texto acabou arquivado após ser alvo de críticas nos protestos de junho de 2013.
Feliciano, porém, rebate as críticas dos colegas. “Nunca existiu cura-gay. Vou ter que repetir isso para a imprensa 54 mil vezes?”, questionou. Segundo ele, a imprensa foi a responsável por rotular a proposta e deixar a opinião pública contrária à proposta.

“A mídia é a culpada de colocar um rótulo em um projeto que iria trazer tranquilidade e paz para as pessoas, mas ela colocou a sociedade contra isso. Não se trata de cura porque não é doença, mas os psicólogos são proibidos de ouvir essas pessoas”, critica. “Ninguém quis ouvir naquela época. Então, vamos ouvi-los agora.”

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