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6.01.2015

Crise reduz melhores salários


Aumento do número de demissões no ramo do comércio. No Sindicato dos
Empregados no Comércio do Rio, empregados demitidos esperam para 
fazer a homologação. Fabíola Brazil, ex-funcionária da Casas Bahia.
 - Gabriel de Paiva / Gabriel de Paiva
BRASÍLIA e RIO - Mesmo com a crise no mercado formal de trabalho
 — que já eliminou 137 mil postos até abril e fez a geração de empregos 
recuar ao nível de 1999 — alguns setores resistem e estão gerando 
empregos. Um levantamento do consultor Rodolfo Torelly, do site
 especializado Trabalho Hoje, feito a pedido do GLOBO, revela as 
20 ocupações que mais contrataram neste ano e as 20 com maior
 número de demissões. A conclusão é que a crise está levando à
 destruição de empregos com melhores salários, em cargos 
intermediários de chefias - gerentes de produção e operações,
 de áreas de apoio e supervisores de serviços administrativos e
 da construção civil, por exemplo - e à abertura de vagas nas 
áreas da educação (professores do ensino fundamental, 
médio e superior); saúde (técnicos em enfermagem, por 
exemplo), e na base da pirâmide, em ocupações com 
baixos salários e alta rotatividade.
Entre as atividades que mais contrataram também aparecem
 operadores de telemarketing, recepcionistas e o ramo de
 manutenção de edifícios, como faxineiros e porteiros,
 auxiliares nos serviços de alimentação em hotéis e 
restaurantes, embaladores e alimentadores de linha 
de produção. O levantamento foi feito com base nos 
dados do Cadastro Geral de Empregados e 
Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.
— Estamos perdendo empregos melhores, com maior 
remuneração, e criando empregos na área da educação,
 saúde e na base da pirâmide — disse Torelly.
Em um cenário difícil para a maioria das pessoas encontrar
 um emprego, a professora de educação infantil Luana 
Miranda, 30 anos, conseguiu uma segunda ocupação. 
Funcionária da unidade da Creche Escola Primeira na
Barra da Tijuca, ela começou a procurar uma vaga em
 agosto do ano passado. O envio de currículos rendeu 
frutos rapidamente. Em novembro já fazia entrevistas
 e em janeiro estava empregada na creche. No mês 
seguinte, assumiu uma nova turma em outra filial.
— Já trabalhava no turno da manhã e queria uma 
ocupação também no turno da tarde. Tem demanda,
 vejo muitas escolas abrindo. Há mercado para 
todo mundo.
Luana Miranda, professora do Ensino Infantil na Creche Primeira, na 
Barra da Tijuca - Fabio Rossi / O Globo
O expediente, porém, tem um custo. Cada turno é de cinco
 horas. Somado ao tempo perdido no trânsito, são 12 horas
 que Luana passa longe do marido e da filha, de 7 anos.
— É cansativo, mas é um esforço necessário para poder
 manter o padrão e a qualidade de vida — conta ela.
Baiana natural de Irecê, Joélia Batista, de 26 anos, que
 vive em Brasília, também conseguiu boas oportunidades.
 Ela trabalhava com coleta e seleção de materiais recicláveis 
e soube de uma vaga para auxiliar de manutenção de 
prédios, que oferecia melhores condições de trabalho e
 retorno financeiro. Depois de participar do processo 
seletivo, foi contratada. Hoje trabalha das 6h às 16h e
diz sentir orgulho da conquista.
—- Quando soube da oportunidade não pensei duas
 vezes. Consegui aumentar minha renda mensal e deixei
 de correr riscos na coleta seletiva — enfatizou.
Se certos males vêm para o bem, no caso de Fabíola 
Brazil, de 35 anos, uma demissão trouxe boas notícias.
 A técnica de enfermagem trabalhava há pouco mais de 
um ano como vendedora das Casas Bahia, no Norte 
Shopping, no Rio, depois de procurar sem sucesso
 vagas na área de saúde. Mas o movimento fraco no
 comércio levou a uma redução da equipe de vendas 
e ela foi demitida no fim de abril.
— As vendas não são como antes, e eu trabalhava por
 comissão. No início, tirava R$ 2 mil, mas depois passou
 a R$ 120, R$ 150. Os clientes não querem mais comprar 
com juros e não têm mais tanto para gastar.
 O shopping está cheio de gente olhando vitrine e 
comendo na praça de alimentação, mas na loja falam
 que vão comprar só em dezembro —- conta.
Agora, Fabíola voltou a trabalhar como enfermeira num
 hospital e espera complementar a renda da família:
— Foi meu marido quem segurou as pontas nesse início 
de ano. Com três filhos, os gastos com alimentação
 pesam muito. Os meses de fevereiro e março foram
 terríveis — conta.
Fortemente afetado pela crise, o mercado da construção 
civil em Brasília já acumula 13 mil demissões na capital,
 entre janeiro e março. Entre elas, cerca de 250 eram 
engenheiros. O empresário Paulo Muniz, presidente
 da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário 
do Distrito Federal (Ademi-DF), contou que precisou
 tomar algumas decisões difíceis para manter a 
Construtora Conbral funcionando, como a redução 
da equipe.
— Nenhum empresário faz isso com felicidade.
 É uma questão de sobrevivência da empresa. 
A Conbral tem 47 anos no mercado imobiliário 
de Brasília. O último lançamento da empresa
 foi em 2010. Os problemas do setor não começaram agora.
 Em 2010 eram 1,2 mil homens trabalhando. Hoje, 
são 200 profissionais que trabalham em obras de terceiros.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/crise-reduz-postos-de-tra

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