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7.14.2015

Pessoa cita em delação suposto repasse de R$ 1 mi a ministro do TCU

14/07/2015 13h20 - Atualizado em 14/07/2015 14h47

Como sempre a TV Globo teve acesso a trecho inédito da delação do presidente da UTC.

Tribunal de Contas da União negou envolvimento de Raimundo Carrero.

Camila BomfimDa TV Globo, em Brasília

O dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, investigado pela operação Lava Jato, disse em depoimento de delação premiada ao qual a TV Globo teve acesso que repassou R$ 1 milhão para o advogado Thiago Cedraz, quantia que, segundo afirmou, deveria chegar ao ministro Raimundo Carreiro, do Tribunal de Contas da União (TCU).
A informação dada pelo empreiteiro consta da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou a execução nesta terça-feira (14) de mandados de busca e apreensão em inquéritos que investigam políticos na Operação Lava Jato. O dinheiro supostamente enviado para Carrero estaria relacionado à licitação de uma das unidades da usina de Angra 3.
A Secretaria de Comunicação do TCU informou que Carrero "não participou de qualquer negociação envolvendo valores para decidir sobre o processo que analisou no TCU irregularidades na licitação para serviços de montagem eletromecânica em uma das unidades de Angra 3, ou sobre qualquer outro processo".
A Polícia Federal realizou buscas e apreensões nas casas de Thiago Cedraz e do sócio dele, Luciano Araújo. Segundo informou ao Blog do Matheus Leitão o escritório de Thiago Cedraz, o advogado "considera uma violência sem precedentes, um atentado ao regular exercício da profissão, medidas autorizadas com base em uma delação negociada por um réu confesso que mente a fim de se beneficiar".
A citação de Ricardo Pessoa foi feita em depoimento prestado em 26 de maio no qual ele fala da atuação do advogado Thiago Cedraz em processo sobre a usina de Angra 3, no Rio.
Segundo o Ministério Público Federal, Pessoa relatou que, em dado momento, foi procurado por Thiago Cedraz, e o advogado disse que estava precisando de dinheiro, “deixando antever que a importância solicitada, no valor de 1 milhão de reais, seria ao ministro Raimundo Carreiro, do Tribunal de Contas da União , relator do processo de Angra 3 no TCU”, diz o MPF.
Ainda de acordo com o MPF, após o pagamento do valor pedido por Thiago Cedraz a licitação da usina de Angra 3 finalmente chegou a seu termo.
Logo depois do pagamento da importância, presumivelmente ao ministro Raimundo Carrero, publicou-se o resultado da concorrência respectiva, da qual saíram vencedoras as empresas que compunham, os  consórcios Angra 3 e Una 3 – esse último integrado pela UTC, de Ricardo Pessoa.
Na delação, Ricardo Pessoa afirmou que , após o pagamento de 1 milhão a Thiago Cedraz, não houve problema com o contrato de Angra 3 no TCU, ou seja, “tudo fluiu”.
De acordo com o empreiteiro, ”o valor de 1 milhão solicitado por Thiago Cedraz e que seria destinado, conforme acreditava , a Raimundo Carrero, foi retirado da sede da UTC por Luciano Araujo”.
Carrero agiu 'com rigor', diz TCU
A assessoria do TCU informou que a atuação no caso do ministro Raimundo Carrero foi regular e que ele agiu "com todo o rigor".
"O ministro agiu com todo o rigor técnico que o caso exigia, tendo recomendado correções, exigido acompanhamento por parte da unidade técnica do tribunal e inclusão do empreendimento no rol de obras constantes do planejamento de fiscalização de obras do TCU. O Acórdão 3.238/2012-Plenário foi aprovado de forma unânime pelos Ministros presentes à sessão do Plenário do TCU, que foi acompanhada pelo Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal", afirmou a assessora por e-mail.
Valores mensais
Segundo o Ministério Público, Pessoa disse que havia valores pagos mensalmente por ele a Thiago Cedraz, que também também eram retirados por Luciano Araujo. O MP relata que , em pesquisas em fontes abertas, Luciano teria afirmado que começara a militância política com o pai de Thiago, o ministro Aroldo Cedraz.
Na delação, o empreiteiro contou que, em uma das ocasiões que Luciano Araujo foi retirar o pagamento mensal solicitado por Thiago Cedraz, deixou um cartão de visita no qual se apresenta como tesoureiro do partido Solidariedade. O MP diz que Thiago Cedraz aparece como secretário de Assuntos Jurídicos da Executiva Nacional do Partido.
De acordo com o Ministério Público, o relato de Pessoa vai ao encontro de outro depoimento, de Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca – que realizava entregas de dinheiro a mando do doleiro Alberto Youssef.  Ele prestou depoimento em 18 de novembro do ano passado.
O MP diz ainda que o endereço fornecido por Pessoa na delação coincide com o endereço do escritório Cedraz Advocacia. É possível verificar também que o escritório está localizado no final de uma rua sem saída, conforme também relatou Jayme Alves em seu depoimento à Polícia Federal.
Thiago Cedraz
Na decisão que permitiu as buscas, o ministro Teori Zavascki incluiu a informação do MP de que Thiago Cedraz foi investigado em 2007 por supostamente ter solicitado vantagem indevida a pretexto de influir em decisão do TCU .
O MP destacou que “conforme delineado na petição de requerimento de instauração de inquérito, há indícios de prática de crimes, sobretudo tráfico de influência, corrupção e lavagem de dinheiro. Entretanto, esses indícios ainda não são suficientes para determinar com precisão os fatos criminosos, inclusive, para saber se eles ainda estão ocorrendo”. Por isso, pede a busca de documentos alegando ser “essencial para a descoberta da verdade”.
Os procuradores dizem que os elementos constantes dos autos se relacionam a um esquema de recebimento e repasse de valores ilícitos para várias pessoas, mediante utilização de várias empresas com a finalidade de ocultar a origem e o destino final dos recursos envolvidos

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