Estudo da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-RJ) revela que os consumidores estão sumindo das lojas, comprando somente o necessário
Rio - Moradora de Copacabana, na Zona Sul, a turismóloga Susana Madruga, de 51 anos, decidiu, com as três filhas,
rever o orçamento familiar e mudar radicalmente de hábitos para
enfrentar a crise econômica. Entre as medidas, cortou o plano de saúde —
mais de R$ 2,5 mil mensais — e cancelou as sonhadas e planejadas
viagens internacionais nas férias das filhas.
Na Zona Norte, a comerciante Sheila Reis, 55 anos, dona de uma loja em Madureira, conseguiu realizar o sonho de comprar um apartamento no Recreio. Mas, diante das dificuldades, acabou não mudando de endereço. Continuou morando com os dois filhos no bairro onde trabalha, economizando R$ 1 mil por mês. Além disso, abriu mão de marcas alimentícias tradicionais. O imóvel no Recreio virou ‘casa de veraneio’.
“Nem o Dia dos Pais, uma grande data para o comércio, conseguiu reverter o pior resultado para o mês de agosto registrado desde 2004”, lamenta o presidente do CDL-RJ, Aldo Gonçalves. Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, diz que a população está começando a tomar iniciativas que deveriam ter sido tomadas há dez anos.
“Se as mudanças de hábitos tivessem sido tomadas na época das vacas gordas, as pessoas teriam até dinheiro guardado para superar essa fase, que pode durar mais de dois anos. Agora, têm que fazer na marra”, comenta.
Segundo Alex, quando se mudam hábitos de consumo, sempre há impactos. “É preciso haver um pacto entre os familiares, unindo forças e buscando soluções”, observa. Para ele, não basta apenas cortar excessos. “É preciso cortar caprichos com mais roupas e calçados. E cortar manias, como usar o carro para ir à academia, por exemplo. Menos roupas, menos carro, menos celular, menos internet, menos compras, menos combos, e menos marcas e grifes. Resumindo: menor consumo em geral e menos consumismo em particular”, opina.
No livro, Alex condena o cartão de crédito. “Deve ser mantido fora do alcance de adultos. Em média, eles já representam 30% do consumo das famílias”, alerta, lembrando que há outras formas de financiamento mais baratas e menos perigosas, como o empréstimo consignado, com desconto em folha, e o micropenhor da Caixa, adequados para urgências de curto ou médio prazos. Ele indica ainda serviços que gerem renda extra, como fazer bicos, frilas e serviços temporários.
O Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe-RJ) não tem ainda estatísticas fechadas de inadimplência e transferências para escolas públicas. Mas, estimativas do setor dão conta de que podem ter chegado a quase 20 mil — 14% a mais que 2014. “As negociações estão aumentando”, admite Anna Collares, presidente da entidade, que tem 134 associadas em 63 municípios. Para não perderem estudantes, alguns colégios, como o tradicional Oga Mitá, vão manter a mensalidade em 2016.
No melhor estilo “há sempre alguém para vender lenço para quem chora”, profissionais que andavam esquecidos estão em alta. É o caso das costureiras, técnicos em manutenção e informática, sapateiros, vendedores de carros usados e donos de brechós. “Estou recuperando, em média, 600 pares de calçados por mês, o dobro que há um ano”, comemora o sapateiro Francisco La Câmara, 81 anos, da Tijuca.
Na Zona Norte, a comerciante Sheila Reis, 55 anos, dona de uma loja em Madureira, conseguiu realizar o sonho de comprar um apartamento no Recreio. Mas, diante das dificuldades, acabou não mudando de endereço. Continuou morando com os dois filhos no bairro onde trabalha, economizando R$ 1 mil por mês. Além disso, abriu mão de marcas alimentícias tradicionais. O imóvel no Recreio virou ‘casa de veraneio’.
Suzana, Sheila, e os filhos
fazem parte dos 56,1% dos brasileiros que, segundo pesquisa inédita da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), mudaram hábitos de consumo ou
planejamento financeiro para apertar os cintos das despesas, depois de
mais de uma década de consumo desenfreado.
“Se
não fizéssemos esses esforços, as coisas estariam piores”, justifica
Susana. “A economia que estamos percebendo, ficando em Madureira durante
a semana, sem trânsito e sem jantar fora, tem nos trazido recompensas incríveis”, garante Sheila.
Os
primeiros sinais da alteração do comportamento dos cariocas são
refletidos no comércio. Estudo da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-RJ)
revela que os consumidores estão sumindo das lojas, comprando somente o
necessário. É o que traduz a pesquisa Termômetro de Vendas, feita
mensalmente pela entidade, com base no Serviço Central de Proteção ao
Crédito (SPC). A última mostra que o número de consultas ao comércio
(índice que aponta a intenção de compra) diminuiu 3,6% em agosto em
relação ao ano passado.“Nem o Dia dos Pais, uma grande data para o comércio, conseguiu reverter o pior resultado para o mês de agosto registrado desde 2004”, lamenta o presidente do CDL-RJ, Aldo Gonçalves. Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, diz que a população está começando a tomar iniciativas que deveriam ter sido tomadas há dez anos.
“Se as mudanças de hábitos tivessem sido tomadas na época das vacas gordas, as pessoas teriam até dinheiro guardado para superar essa fase, que pode durar mais de dois anos. Agora, têm que fazer na marra”, comenta.
Lições de economia
Para
ela, o lado positivo é que as lições de economia, em todos os setores,
entre eles saúde, lazer, educação, vestuário e alimentação, tendem a
ficar para sempre. “O limão pode virar uma limonada, uma vez que nenhuma
crise é para sempre”,diz.
Mas olhar para o futuro com
otimismo está difícil atualmente para a população. Na consulta de ‘O
Cenário Econômico na Visão dos Consumidores’, do SPC Brasil e
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), apenas um em cada
dez cidadãos diz que confia na melhora do quadro atual.
Supérfluos, os maiores vilões
O
economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-RJ),
Gilberto Braga, ensina que nunca é tarde para cortes de supérfluos. “É
preciso revisar todos os gastos e eliminar dívidas. E insistir na
economia de água, luz e telefone. Mas toda a família tem que estar
comprometida, não só os pais”, diz.
Susana Madruga conta
que a família levou um certo tempo para se acostumar a ficar sem plano
de saúde e projetos de viagens. “Mas essas eram as maiores ‘gorduras’ no
orçamento. Há vida sem essas despesas.”
'É preciso cortar caprichos e manias na rotina diária'
Fazer
cortes no orçamento exige disciplina e não é fácil para o consumidor.
Titular da Academia Nacional de Economia, o jornalista Alex Campos
reuniu dicas que ele faz diariamente na rádio JBFM no livro ‘Faça as
Pazes com o Dinhe!ro’. Ele ensina como as famílias devem proceder diante
da crise. “Minha principal dica é: de modo em geral, dê-se ao luxo de
gastar menos, com as coisas que precisa; e não gastar mais, com o que
não precisa. É na crise que a gente deve pagar barato”, aconselha.Segundo Alex, quando se mudam hábitos de consumo, sempre há impactos. “É preciso haver um pacto entre os familiares, unindo forças e buscando soluções”, observa. Para ele, não basta apenas cortar excessos. “É preciso cortar caprichos com mais roupas e calçados. E cortar manias, como usar o carro para ir à academia, por exemplo. Menos roupas, menos carro, menos celular, menos internet, menos compras, menos combos, e menos marcas e grifes. Resumindo: menor consumo em geral e menos consumismo em particular”, opina.
No livro, Alex condena o cartão de crédito. “Deve ser mantido fora do alcance de adultos. Em média, eles já representam 30% do consumo das famílias”, alerta, lembrando que há outras formas de financiamento mais baratas e menos perigosas, como o empréstimo consignado, com desconto em folha, e o micropenhor da Caixa, adequados para urgências de curto ou médio prazos. Ele indica ainda serviços que gerem renda extra, como fazer bicos, frilas e serviços temporários.
O economista Gilberto Braga, por sua vez, lembra
que, diante do número de famílias brasileiras endividadas (62,7%
conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor —
Peic), as compras parceladas a longo prazo devem ser evitadas. Ele dá
outros exemplos que podem reduzir gastos: “O cinema pode ser trocado por
aluguel de filmes ou pelos canais a cabo; o transporte escolar pode ser
substituído por caronas solidárias; jantares fora podem ser feitos em
casa mesmo.”
Escolas negociam preços e sapateiro fatura em dobro
Ajustes
nas despesas com a escola dos filhos também fazem parte da
reengenharia. A comerciária Luzimar Beltrão, de 42 anos, decidiu que no
ano que vem a filha Aline,11 anos, sairá da escola particular para uma
pública. Meu marido ficou desempregado. Não poderemos mais arcar com a
mensalidade de R$ 800, que pode ter até 15% de aumento”, lamenta.O Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe-RJ) não tem ainda estatísticas fechadas de inadimplência e transferências para escolas públicas. Mas, estimativas do setor dão conta de que podem ter chegado a quase 20 mil — 14% a mais que 2014. “As negociações estão aumentando”, admite Anna Collares, presidente da entidade, que tem 134 associadas em 63 municípios. Para não perderem estudantes, alguns colégios, como o tradicional Oga Mitá, vão manter a mensalidade em 2016.
No melhor estilo “há sempre alguém para vender lenço para quem chora”, profissionais que andavam esquecidos estão em alta. É o caso das costureiras, técnicos em manutenção e informática, sapateiros, vendedores de carros usados e donos de brechós. “Estou recuperando, em média, 600 pares de calçados por mês, o dobro que há um ano”, comemora o sapateiro Francisco La Câmara, 81 anos, da Tijuca.
Dispensei o mordomo e troquei o motorista. Mas continuo xingando a Dilma
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