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11.02.2015

Dieta vegetariana ganha força após alerta sobre risco de câncer em carnes

Além de mais saudável, opção se torna mais acessível e pode até ser mais barata em tempos de crise

Carmen Lucia
Rio - Já pensou em ficar 21 dias sem consumir carne? Esse é o desafio que a Sociedade Vegetariana Brasileira está propondo nas redes sociais. Na semana em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que ingerir carne processada — como salsicha, linguiça e presunto — em excesso pode gerar células cancerígenas no corpo, a dica é fazer mudanças. Além de mais saudável, os novos hábitos podem fazer bem até ao seu bolso! Em tempos de crise, adotar uma dieta sem carne e outros produtos de origem animal pode ser a saída. E que tal começar hoje, no Dia Mundial do Veganismo?

É melhor ser vegetariano ou carnívoro?
Foto: Istock

Segundo o presidente da SVB, Ricardo Laurino, mais de 20mil pessoas já aderiram ao desafio #21DiasSemCarne, encabeçado por personagens como Luisa Mell e João Gordo.Para a nutricionista Renata Miranda, da Benessere Clinic, em Ipanema, a dieta vegetariana pode trazer muito benefícios. “Quando a pessoa deixa de comer carne, ela abandona a gordura saturada. Com isso, é possível evitar problemas de saúde graves como doenças cardiovasculares e elevação do colesterol ruim”, explica.
Em seu blog ‘Papacapim’, a vegana Sandra Guimarães explica como a mudança foi essencial, inclusive, para sua saúde econômica: “Quando parei de comer animais, passei a gastar menos com comida. Sem o suchi de sexta, o frango assado do sábado, o peixe do domingo e o peito de peru da semana, as despesas com comida diminuíram muito. Quando o veganismo entrou na minha vida, a conta no mercado foi drasticamente reduzida”, explica.
Uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2012 mostra que 8% da população se declara vegetariana, mais de 15 milhões de brasileiros. Com um mercado em expansão, o vegetarianismo gira hoje em torno de R$ 10 bilhões no Brasil, entre gastronomia, roupas e cosméticos. “É visível o aumento desse mercado, principalmente pelo crescimento dos estabelecimentos vegetarianos e de restaurantes que, cada vez mais, voltam seus cardápios para esse público”, conta o presidente da SVB.
Tornar-se vegetariano, porém, não é tão simples assim. De acordo com a profissional, apesar de a alimentação trazer ótimos resultados para a saúde, deve-se consultar um especialista antes de adotar essa nova forma de alimentação. “É preciso tomar cuidado e ter uma boa orientação. Se a pessoa faz essa dieta por conta própria, ela pode ter carências nutricionais, como falta de vitamina B12, ferro, cálcio e proteínas. Outro risco é o paciente acabar ingerindo muito carboidrato refinado. Nesse caso, pode ocorrer diabetes e ganho de peso”, alerta Renata.
Na contramão, o especialista em Medicina do Esporte, Leonardo Souza, defende que não é necessário eliminar a carne para obter uma vida saudável: “Não é preciso cortar completamente a carne. É preciso saber balancear. Tudo que tem uma pré-disposição cancerígena deve ser consumido com cautela. O grande desafio não é viver sem carne, mas manter uma rotina alimentar saudável com ela.”
A modelo e surfista Michelle des Bouillons, de 25 anos, adora se aventurar na cozinha. Mas tem alguns pratos que não entram no seu cardápio de jeito nenhum. “Eu não como carne de porco, frango e boi há quase dois anos. Quando tenho que cozinhar, opto por macarrão integral e variados molhos. Também gosto de todos os tipos de legumes e aí na hora eu invento o que fazer com eles ou tempero com azeite”, conta a moça.
Para o chef de cozinha Thiago Andrade, do restaurante BioCarioca, o segredo para ter aquele prato vegano incrível é adotar as famosas substituições. “O que dificulta em um prato que teria carne é o paladar, então o legal é fazer trocas inteligentes. Quando faço a sopa de ervilha, por exemplo, coloco tofu defumado. Ele cria aquele aroma gostoso e age como se fosse uma calabresa. Nessas horas pesquisar na Internet é uma boa. Acho muita coisa na rede”, aconselha Thiago.
Por que se tornar um vegetariano
Vegetarianos seguem uma dieta à base de ovos (ovovegetarianismo); leite e laticínios (lactovegetarianismo) e ovos, leite e laticínios (ovolactovegetarianismo). Os veganos integram a “ala mais radical” dos vegetarianos e não consomem qualquer produto que gere exploração e/ou sofrimento animal.
Adeptos de uma dieta sem carne seriam menos propensos a morrer de doenças crônicas de forma geral. Estudo da Loma Linda University na Califórnia (EUA) com mais de 70 mil participantes sugeriu que os vegetarianos vivem mais tempo que os consumidores de carne. Em seis anos, foram 2.570 mortes, por diversas causas, com índice 12% inferior entre os vegetarianos se comparado com os não vegetarianos.
Pesquisa publicada em 2014 no JAMA Internal Medicine, revista da Associação Médica Americana,mostrou que pessoas que não comem carne têm pressão arterial mais baixa em comparação com as pessoas que comem carne.
Segundo o presidente da SVB, Ricardo Laurino, o alerta da OMS vem ao encontro não apenas da saúde. “As pessoas passam a atentar também para a questão ambiental (do desmatamento), a questão dos maus tratos aos animais e a todos os seus reflexos; é momento de repensar.”
Para ele, os principais alimentos que substituem a carne são baratos e fáceis de conseguir: feijões, lentilha, grão de bico, tofu, soja. “Você pode comer de forma vegana barata ou cara. Depende da escolha, mas não tem nada a ver com a questão de ser vegano”, explica.
A fisioterapeuta e professora de ioga Daniela Muniz, 35, a carne vermelha contém elevados níveis de adrenalina. Cortá-la do cardápio foi fundamental para diversificar o seu cardápio: “Passei a comer muito melhor. É possível suprir a proteína da carne com um bom prato de arroz, feijão, verduras escuras e castanhas. Hoje sou uma pessoa mais calma”, conta.
Por que continuar a ser um carnívoro
Adeptos da dieta carnívora não economizam argumentos para justificar por que, apesar dos alertas, se mantêm fieis à carne vermelha. E, claro, os mais radicais contra-atacam os vegetarianos: “Isso não dá sangue”, brinca Rodrigo de Souza, 32, que não troca a picanha de domingo por uma lasanha de berinjela. Faz sentido. Especialistas dizem que a carne — assim como o leite e derivados — é um dos alimentos mais completos que existem, rica em proteínas, aminoácidos e ferro.
O nutricionista clínico esportivo funcional Leonardo Acro entende o ser humano como um ser proteico. “Como nutricionista, eu reconheço a importância da proteína de origem animal. ”Para ele, vegetarianos podem ficar sem suplemento de vitamina B12, cuja principal fonte é a carne vermelha. “A deficiência dessa vitamina pode, inclusive, gerar uma anemia.”
Um estudo do Instituto Ludwig Boltzmann, na Áustria, constatou nos vegetarianos uma redução da síntese de colágeno, que tem papel fundamental na prevenção do envelhecimento da pele. A vegetariana Daniela Muniz admite sentir os músculos mais flácidos. “Tenho que prestar muita atenção na dieta, para balancear bem as proteínas, senão, sinto a musculatura muito mais flácida.”
Um dos principais desafios de cortar a carne é a questão do ferro. O ferro tipo ‘heme’, encontrado na carne vermelha, é mais fácil de ser absorvido pelo organismo humano do que o ‘não heme’, encontrado nos grãos e legumes. Dessa forma, a diferença do ferro pode potencializar o desenvolvimento de uma anemia.
Estudos mostram que a deficiência de zinco, um dos problemas que podem afetar os vegetarianos, pode deixar o sistema imunológico mais fraco. Um estudo da Universidade Estadual de Michigan, nos EUA, constatou que em apenas um mês a eficiência do sistema imunológico diminuiu de 30% a 80%.
Colaborou a estagiária Marina Brandão

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