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12.24.2015

Akira Homma, epidemologista da Fiocruz: “Não se deve dizer ‘caro’ quando se trata de vidas”

Eleito em 2014 uma das figuras mais importantes na indústria das vacinas no mundo, filho de imigrantes que atua na Fiocruz - Bio-Manguinhos

Akira Homma, ex-presidente da Fiocruz, é eleito uma das figuras mais importantes na indústria das vacinas no mundo

“Sou filho de imigrantes que trabalhavam em plantações de café. Comecei técnico de laboratório e me especializei em cultura de tecidos. Depois me envolvi com vírus humanos, isolando a poliomielite, e epidemologia ambiental. Hoje sou presidente do Conselho Político e Estratégico da Bio-Manguinhos”
Conte algo que não sei.
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A erradicação do aedes aegypti por Oswaldo Cruz se deve a uma série de fatores. Um presidente da República que deu carta branca, um prefeito modernizando a cidade... Mas o mérito é dele, não?
Ele reconheceu que a doença era transmitida através do mosquito. Erradicou a febre amarela sem as tecnologias de hoje. Invadia as casas, fazia coisas hoje impensáveis por causa da evolução da legislação no sentido da privacidade. Os mecanismos de controle não evoluíram tanto...
De quem é o problema?
O problema é que cada um acha que o problema não é dele. A constituição de 1988 dividiu competências, sendo o município o mais fraco sempre, porque não tem recursos. E a população esquece da sua própria responsabilidade.
A TV divulga bastante...
É preciso usar gente da educação para a mobilização na mídia. Dilma falou, em Recife, da necessidade de atacar o aedes. Mas a população não abraça a causa.
Virá a vacina?
Sim, mas não antes de dez anos. O conhecimento da patologia, da relação viral com o hospedeiro humano ainda é pequeno. A dengue já tem vacina em processo de registro.
O Japão tem trabalho específico voltado para vacinas?
O presidente do Conselho do Soka University, que trabalhou aqui e conheceu Osvaldo Cruz e Carlos Chagas, achava que a febre amarela causava leptospirose. Ele conseguia isolar e fazer cultura pura do leptospiras, ainda hoje algo bem difícil. Morreu de febre amarela na África.
E depois?
No início dos anos 1980 foi feito um acordo entre Brasil e Japão para a transferência de tecnologia. Se hoje podemos bater no peito que erradicamos a poli no Brasil, em parte se deu por essa parceria.
Semana passada obtivemos certificação de livre de rubéola.
Produzimos essa vacina aqui. Um personagem do imaginário ligado à saúde pública, o Zé Gotinha, a gente até brinca que ele trabalha aqui e que a poliomielite está prestes a ser erradicada no planeta.
Está?
Em vez da vacina oral, de vírus atenuados, passaremos à vacina inativada, que evita a disseminação dos vírus vivos, que dá em crianças e depois são excretados no ambiente.
É muito caro?
É difícil, eu diria. Não se deve dizer “caro” quando se trata de vidas. É um investimento. Evitar a doença é muito mais eficaz e positivo do que ter que levar a criança ao hospital e ainda com o risco de morrer.

Esse trabalho todo pode ser repetido com relação ao controle de vetores?
As campanhas nacionais de imunização são dias de festa. Em dois dias imunizamos 90% da população, mesmo nas regiões mais distantes da Amazônia. Por isso que eu acho que é possível mobilizar a população contra o aedes.
Você tem uma energia fantástica. Quem te inspirou?
Você tem que trabalhar aqui pra saber. É como cachaça. A casa respira responsabilidade, coisa positiva.
Já viu algum dos famosos fantasmas da Fiocruz?
Quando trabalhava até tarde, eu escutava algumas coisas, mas não sentia medo.


Fonte: Bio-Manguinhos/Fiocruz
Depois de dois meses de eleição, a organização Vaccination divulgou a lista com os nomes das 50 pessoas mais influentes na indústria de vacinas no mundo. Foram indicados mais de 100 candidatos, envolvendo cientistas, pesquisadores, estudiosos e presidentes de grandes empresas. A seleção foi elaborada com o apoio do Congresso Europeu de Vacinas, que acontece na Filadélfia, dede 26 a 28 de outubro. Em primeiro lugar, ficou o empresário Bill Gates, que tem apoiado diversas pesquisas nos países em desenvolvimento.
O presidente do Conselho Político e Estratégico de Bio-Manguinhos (CPE), Akira Homma, conquistou a 20ª posição.  O pesquisador nasceu em 12 de agosto de 1939, em Presidente Venceslau, São Paulo e graduou-se em medicina veterinária em 1967, na Universidade Federal Fluminense (UFF). De 1969 a 1971, com bolsa da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), estudou no Baylor College of Medicine, Houston, e em 1972 obteve o grau de Doutor em Ciências pelo Departamento de Medicina Preventiva, na Faculdade de Medicina da USP.
Akira foi diretor de Bio-Manguinhos  (1976 - 1989), presidente da Fiocruz (1989-1990)  e coordenador do Programa de Autosuficiência Nacional de Imunobiológicos (1990-1991) do Ministério da Saúde, além de assessor regional em Biológicos da Organização Pan-Americana de Saúde  (1991 - 1997), assumindo a vice-presidência de Tecnologia da Fiocruz  (1997 – 2000). Atualmente, é membro do Grupo Técnico Assessor do Programa de Imunização da OPAS/OMS e do Programa Nacional de Imunizações do Brasil, membro do Conselho Científico e Tecnológico da Hemobrás, do Conselho Executivo do DCVMM, vice-presidente da área de Biotecnologia da Abifina; presidente do Conselho Político e Estratégico de Bio-Manguinhos e do IBMP.
Akira recebeu várias homenagens ao longo de sua carreira, como na 10ª Mostra Nacional de Experiências Bem Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (Expoepi), Ministério da Saúde  (2010); Medalha de Mérito Oswaldo Cruz - Categoria Ouro, Presidência da República  (2009); Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS (2007); Pesquisador Emérito da Fiocruz (2000); Comenda da Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro com Laço ( 2013) e Comenda Medalha de Mérito Marechal Cordeiro de Farias, da Escola Superior de Guerra (ESG), em 2014.
Para o presidente do CPE, este título reflete, além de suas contribuições para a saúde pública no Brasil e no mundo, a crescente importância das vacinas como principal forma de erradicação das doenças. “Ao selecionar as 50 pessoas mais influentes na área de vacinas, estamos reconhecendo o trabalho de diversas instituições que lutam por um mundo melhor e representa a valorização da equipe de Bio-Manguinhos e da Fundação Oswaldo Cruz”, conclui.



A vacina contra a dengue, de acordo com o cientista Akira Homma, não virá antes de dez anos Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A vacina contra a dengue, de acordo com o cientista Akira Homma, não virá antes de dez anos - Márcia Foletto / Agência O Globo


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