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12.21.2015

Este Menino que não sabemos o nome é o maior monumento de um Brasil que ainda se procura

Provavelmente nunca iremos saber ao certo o nome daquele menino de 12 anos que no último domingo foi agredido na orla de Copacabana, durante o protesto pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef.
Acusado de ter furtado um celular, foi detido por policiais mas deixado quase que a própria sorte por intermináveis minutos, diante de homens e mulheres que extravasavam um ódio inexplicável e incontido, desferindo-lhe tapas, socos e xingamentos.
À beira da praia, sozinho, quem sabe a mirar um cristo com braços abertos estático e petrificado no alto de um morro que nada poderia fazer por ele. Como nunca realmente o fez durante a sua breve vida.
Quiça, antes de ouvir a sentença: “Tem que metralhar esse daí. Metralhar. Tiro na cabeça!”, tenha lido uma palavra estranha na camiseta de alguns daqueles agressores: impeachment. Tenha lido e não compreendido.
Esses termos jurídicos e de poder servem para isso mesmo, impossibilitar a compreensão por grande parte da população. Palavras como “pedaladas fiscas”, “crime de responsabilidade”, “adpf”, “interpretação conforme” ou “imbricação”, este último saído do vazio, raso e inconstitucional voto do ministro Fachin, escondem e, ao mesmo tempo exalam, quase que impercetíveis  subterfúgios e estratégias.
É isso o que fala Raduan Nassar em Lavoura Arcaica:
... foi o senhor mesmo que disse há pouco que palavra é uma semente: traz vida, energia, pode trazer inclusive uma carga explosiva no seu bojo: corremos graves riscos quando falamos.
A distância entre esse menino do rio que nunca saberemos o nome e os donos do poder no Brasil é tão grande quanto a dele para o cristo inerte e petrificado em cima do morro. E foi justamente por essas lonjuras terem diminuído nos últimos anos através do projeto desenvolvimentista e de valorização do salário mínimo do Lulismo que aquela palavra estranha na camiseta das suas agressoras veio à tona.
Dilma precisa entender que ela só está no cargo para estreitar essa distância e nada mais. Esse é o seu papel histórico.
A semana que se iniciava trágica com essas lamentáveis cenas de domingo, conspiração de Temer e o desprezível voto de Fachin referendando as sandices de Eduardo Cunha, terminou com milhares de manifestantes na rua a exigir mudanças na política econômica, fora Cunha e em defesa da Democracia.
Em maior número do que a manifestação de domingo, acabou coroada com uma estupenda atuação do ministro Barroso e com o STF chamando o país de volta à racionalidade democrática.
Outra vitória da mobilização popular foi o pedido de afastamento do nefasto presidente da Câmara dos Deputados apresentado ao STF.
Ontem, organizações de diversos movimentos da Frente Brasil Popular estiveram com a presidenta Dilma, demonstraram solidariedade e indicaram caminhos. Leonardo Boff em uma comovente intervenção, lembrou a presidenta da tortuosa e quase solitária tarefa de comandar uma nação e fez a extrema-unção de Eduardo Cunha.
Dilma me pareceu ter entendido o recado, é mais uma das oportunidades que tem em suas mãos para reorientar os rumos do País e encurtar a distância entre aquele menino e a esplanada dos ministérios. Se não for para isso que serve a política, não há sentido algum em disputar e tentar se manter no cargo.
Quem sabe, ouvindo Leonardo Boff, tenha de alguma forma se aproximado daquele menino que se tornou uma trágica metáfora da diferença entre os projetos de poder que estão na rua.
Aos pés do morro, distante do cristo, sozinho, com os pequenos braços torcidos pela força de homens e mulheres ensandecidos, xingado, humilhado e agredido, este menino que não sabemos o nome é o maior monumento de um Brasil que ainda se procura.
Maior que o cristo e que os palácios de Brasília, sem provocar calor ou arrepios, fez com que o país naquele domingo entardecesse atônito e melancólico. Felizmente, foi apenas um domingo.
Patrick Mariano é escritor.

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