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1.03.2016

Você sabe como é calculada a remuneração da poupança?


Ainda que o mercado ofereça uma extensa gama de produtos financeiros, a aplicação que ainda é a mais buscada e conhecida pelos brasileiros é a caderneta de poupança. A força desta modalidade é tamanha, que mesmo na atual conjuntura, em que o rendimento da poupança não consegue sequer superar a inflação, a caderneta ainda continua como a principal alternativa da população. Segundo a Fecomércio, cerca de 85% das pessoas que economizam dinheiro colocam o que possuem na poupança. 


A baixa rentabilidade da caderneta e as alternativas a ela são assuntos que abordo com frequência, hoje vou tocar em um aspecto diferente, mas que é igualmente preocupante. O que você sabe sobre a forma como o rendimento da poupança é calculado? Em linhas gerais, as pessoas sabem que quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Com Selic igual a 8,5% a.a. ou menor que isso, o rendimento passa a ser 70% da Selic mais a TR. Mas afinal, como essa TR é calculada?

A verdade é que o cálculo para chegar a ela é muito mais complexo do que você pode imaginar. O valor da TR não é fixo, ele é feito com base em uma fórmula que leva em consideração algumas variáveis. A primeira delas é a Taxa Básica Financeira (TBF), que é obtida pela média ponderada das taxas mensais de juros pagas em aplicações de CDB nas 30 maiores instituições financeiras do país. O valor da TBF mensal é divulgado todos os dias pelo Banco Central, ou seja, varia ao longo do ano. 

Outra variável que entra na fórmula da TR é o chamado "redutor", calculado com base na soma de dois valores definidos pelo Conselho Monetário Nacional e multiplicado pela TBF. Os valores definidos pelo conselho também não são fixos e mudam de acordo com a Selic. Pelo que expliquei até aqui, já deu para entender que a conta está longe de ser simples e que depende de variáveis que estão constantemente mudando. 

Não vou entrar em explicações mais profundas sobre a fórmula da TR porque o texto tornaria-se um artigo técnico, quando meu objetivo aqui é justamente questionar a complexidade desta conta. O professor e especialista em matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho inclusive fez um projeto sugerindo a mudança deste cálculo, justamente em função da complexidade do mesmo.

Se estamos falando da aplicação mais utilizada pelos brasileiros, qual o sentido do rendimento ser calculado de um jeito tão complicado? De modo contrário, o investimento deveria ser estruturado de forma que o entendimento fosse mais simples. Com um cálculo tão complexo, quem não tiver um nível avançado de conhecimento em cálculo financeiro não terá respaldo para entender se essa fórmula utilizada hoje é a mais adequada para definir o rendimento da aplicação. Em suma, a maior parte dos brasileiros investe na poupança sem entender ao certo como ela funciona. 

Além disso, voltando ao que mencionei no início do texto, não deveria ser permitido a oferta de uma aplicação que não seja capaz de acompanhar sequer a inflação. Partindo do princípio que o instrumento não garante nem o poder de compra da população, ele deixa de ser um investimento. 

O mais justo seria a poupança pagar pelo menos 75% da Selic ou garantir o pagamento da inflação e dar um percentual a mais. Enquanto isso não acontece, a maior parcela dos brasileiros segue economizando dinheiro com um rendimento atrelado à TR, que mais atrapalha do que ajuda.

por Samy Dana

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