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2.03.2016

Tempo doado é caridade

Hoje, precisei me apressar para sair do carro e correr para me abrigar sob a marquise, pois a chuva veio sem tréguas. Procurei saber que horas eram, e enumerei em minha cabeça tudo que eu tinha que resolver e, com horário espremido, fiquei ali, quase como uma estátua, sem ao menos olhar quem estava ao meu lado, também se escondendo da chuva.
Só pensava em meus problemas, meu valioso tempo. Muita gente, apesar da chuva ia em frente, carros que passavam respingavam água em tudo, eu já estava muito impaciente, e deixei de ser estátua, virei a cabeça e olhei ao meu redor, havia uma família acampada sob a mesma marquise que eu, imagine eu  perdendo a paciência por ficar alguns minutos ali, sabendo que tudo iria passar, o sol voltaria, e eu voltaria para minha casa, chuveiro quente, cama e teto.
Comecei a observar aquelas pessoas, havia o casal, duas crianças pequenas e dois cachorros.
A situação me deixou constrangida, senti vergonha de mim mesma, resolvi saber um pouco sobre a família.
Contaram- me que trabalhavam juntando papelão e latinhas, precisavam trabalhar muito para ganhar o suficiente para a comida. As duas crianças ficavam na creche, estavam com eles agora, devido ao período de férias. 
Perguntei se não ficavam com medo pelas crianças, dormindo ao relento, sentindo o frio, o respingar da chuva. O senhor, do qual eu já sabia o nome, seu Teodoro, disse-me que sempre procuravam por lugares que achavam ser seguros. Ele me contou que fora um jogador compulsivo, e junto vinha a bebida, assim, o pouco que tinham ele perdeu. Por isso, me contou com lágrimas nos olhos que se arrependia pelo seu passado, pois era o culpado de estar na rua com esposa e filhos. Perguntei sobre o restante da família, ele me disse que morava em outra cidade, mas por vergonha, mudou. A esposa, que estava quieta, quebrou o silêncio e me disse:
-Rezo muito para que  Deus nos dê outra chance, de termos a nossa casinha e que meus filhos tenham uma cama quentinha quando voltarem da escola.
O seu Teodoro, me olhou firmemente e disse:
-Sabe, com meus erros enormes, aprendi muita coisa, estou pronto para reparar tudo, basta Deus me ajudar. 
Quando percebi, a chuva havia passado, o sol estava brilhando e, eu ali, "perdendo meu precioso tempo". 
Meu celular tocou , mas não me deu tempo de atender, parece que era para me avisar de algo. De repente, lembrei da conversa com minha família, há dois dias, na hora do almoço.
Um vizinho precisava de uma família para cuidar da chácara para ele. A mulher deveria cuidar da casa e jardim, o homem o restante, os filhos teriam escola, pois o ônibus escolar passa na frente da chácara. Minha alma estava em festa, pois eles aceitaram, mas o que fazer agora, o lugar ficava longe. Então.....
Coloquei toda aquela gente no meu carro, (pequeno),mais os cachorros, e os levei até o endereço que eu conheço, pois somos vizinho de chácara. Acreditem, deu tudo certo, parece que eu tinha um encontro marcado com aquela família. Meu tempo?
Aprendi que a maior caridade é o seu tempo doado, pois ele é seu, e não volta mais a você. 
Um naco de prosa

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