O plano B dos golpistas, para ser executado caso o
impeachment da presidenta Dilma Rousseff seja derrubado no Senado, já
começa a ser alvo de discretas discussões nos círculos políticos e
jurídicos, conforme os sinais emitidos pelo ministro Gilmar Mendes,
presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Ele tem repetido com regular
insistência, como se preparasse o terreno para evitar surpresas, que é
possível separar Temer de Dilma na ação movida pelo PSDB, que pede a
cassação do mandato da chapa Dilma-Temer por abuso de poder econômico
nas eleições de 2014. Em recente declaração ele foi mais específico, ao
afirmar que já existe jurisprudência a respeito, firmado no caso do
ex-governador Ottomar Pinto, de Roraima, que morreu durante o processo
de cassação por crime eleitoral e cujo vice, que assumiu o governo, foi
inocentado.
Gilmar, que tem marcado a sua atuação no Supremo
Tribunal Federal por uma gritante “imparcialidade”, com essas
declarações escancara a sua disposição de cassar apenas Dilma,
preservando Temer que, se perder no Senado e tiver de devolver a cadeira
de Presidente da República para ela, voltaria novamente para o Palácio
do Planalto, dessa vez de maneira definitiva. Além dessas sintomáticas
declarações, outra pista sobre as intenções de Gilmar foi a sua decisão
de, mesmo ocupando a presidência da corte eleitoral, permanecer como
relator do processo, para cuja tarefa foi mais uma vez “sorteado” pela
roleta eletrônica do TSE, que parece ter o mesmo vício de idêntico
aparelho do Supremo onde, coincidentemente, ele também é sempre
escolhido para relatar os processos que envolvem interesses políticos
de petistas e tucanos. Se esses “sorteios” significassem mais dinheiro
na conta dele, Gilmar sem dúvida seria o mais sortudo dos ministros do
STF.
Aparentemente, as perspectivas quanto à queda do
impeachment no Senado, que começa a ser vislumbrada com as manifestações
de desagrado de senadores com o governo interino de Michel Temer, já
preocupam os conspiradores e executores do golpe, inclusive a advogada
Janaina Paschoal, uma as signatárias do pedido de afastamento da
presidenta Dilma Rousseff. Ela declarou em Recife não ter mais certeza
quanto a aprovação do impeachment, porque receia que a proposta de
novas eleições possa atrair a simpatia do povo. “Confesso estar
preocupada com esta história de novas eleições, que é como um canto da
sereia, capaz de agradar a gregos e troianos”, ela disse. Na sua
opinião, as pessoas já começam a hesitar em relação ao afastamento da
Presidenta. Desapontada, porque o que ela queria mesmo era eliminar
Dilma definitivamente da vida pública, Janaína se recusa a admitir que o
povo já se conscientizou que o impeachment não passou de um golpe
para atender interesses que não são exatamente os do país. Como disse
Leonardo Boff:”A população já se deu conta das tramoias golpistas”.
Mas ao mesmo tempo em que os responsáveis pelo
golpe, diante da possibilidade de uma derrota no Senado, buscam uma
nova alternativa para se manter no poder, cresce nas ruas a pressão por
eleições diretas ainda este ano, o que, na opinião de observadores,
seria a única solução para a crise em que o país se debate. Um grupo de
30 senadores, à frente Roberto Requião, do PMDB do Paraná, já abraçou
essa tese, cujos reflexos certamente serão sentidos na votação do
impeachment, com a sua derrubada. Quem também já defende eleições gerais
em outubro, obviamente por interesses pessoais, é a ex-senadora Marina
Silva, que certamente acredita na sua vitória. As mais recentes
pesquisas de intenção de votos a apontam em segundo lugar na corrida
sucessória presidencial, atrás apenas de Lula, que lidera em todos os
cenários. O ex-presidente, aliás, já disse que se for para garantir as
conquistas sociais será candidato, declaração que deve ter dado um
tremendo susto naqueles que há tempos tramam a sua eliminação da vida
política do país.
O mais pitoresco, nesse clima de tensão e
incerteza, foi a declaração do ministro Geddel Vieira Lima, da
Secretaria de Governo, que, depois de afirmar que "esta hipótese de a
presidente Dilma reverter votos, mudar posição dos senadores, é zero”,
classificou de golpismo a convocação de novas eleições ainda este ano. A
sua visão de democracia, pelo visto, foi obliterada pela conquista de
um cargo de ministro no governo interino de Temer, porque golpismo é
precisamente a ausência do povo na escolha de seus governantes. Foi
exatamente o que aconteceu com a assunção de Michel Temer à Presidência
da República, desrespeitando a vontade de 54 milhões de brasileiros.
Geddel, ao que parece, sabe que numa eleição Temer não terá a menor
chance de ocupar o Palácio do Planalto e, por isso, para os usurpadores
não convém eleições, este ano ou em 2018. Ele só esqueceu um pequeno
detalhe: o governo ao qual serve não tem condições de sustentar-se,
justamente pela falta de respaldo popular.
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