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8.10.2016

Joanna Maranhão desabafa


Revista Fórum - A nadadora Joanna Maranhão concedeu, no início da tarde desta terça-feira (9), uma entrevista que acabou se transformando em um depoimento representativo de uma atleta brasileira mulher contra a cultura do ódio e do machismo no Brasil. Após ser eliminada da fase classificatória dos 200 metros borboleta dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Maranhão revelou os ataques preconceituosos e machistas que vem recebendo através das redes sociais.
“Ontem à noite foi o dia mais difícil para mim. Tentei ficar fora de rede social, mas fui no Facebook e vi uma enxurrada de críticas, ataques. Alguns dizem que eu merecia ser enxutada, que minha história é uma grande mentira. Eu tentei segurar a onda, mas agora eu desabafei. E muito duro receber”, desabafou.
Conhecida pelo seu desempeno nas piscinas, Joanna já foi alvo de inúmeras críticas por se posicionar politicamente contra o conservadorismo, a redução da maioridade penal e figuras como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. Na entrevista que deu há pouco, a nadadora revelou que voltou a ser xingada pelas suas posições políticas e chegou a sair em defesa do governo da presidenta afastada Dilma Rousseff quando comentou a medalha de ouro da judoca Rafaela Silva.
“Esses perfis que nos atacam não sabem o sufoco que passa o atleta brasileiro. A Rafaela Silva, há quatro anos, não tinha nada, mas com a ajuda dos programas assistenciais, conseguiu essa medalha”, comentou.
Outro ponto alto de sua entrevista coletiva foi quando tratou da questão do estupro, já que a atleta já havia revelado anteriormente ter sofrido abusos sexuais quando criança. De acordo com Joanna, após a eliminação ela chegou a se deparar com mensagens desejando sua morte ou ainda que fosse estuprada.
“Desejar que eu seja estuprada é passar dos limites”, disse.
Confira, abaixo, os principais trechos da fala da nadadora.
“O Brasil é um país muito racista, preconceituoso, racista, homofóbico, voltado ao futebol, e os ataques que são feitos lá as pessoas pensam que não afeta. Eu sempre me posicionei politicamente, porque sinto que todo ser humano tem um papel a fazer, mas eu quero um país para todo mundo. Não quero que a Tais Araújo seja chamada de ‘macaca’, que a Rafaela Silva seja chamada de ‘decepção’, amarelona'”.
“Felipe Kitadai, Charels Chibana, Sarah Menezes não entraram para perder. É muito difícil as pessoas entenderam isso. Mas passar para a linha do desrespeito é difícil. Treinei muito para ser a melhor nadadora do Brasil e não sucumbir à minha depressão, e de repente as pessoas me questionando, questionando minha história”.
“Nem todo mundo entende a dificuldade que é [estar aqui nas Olimpíadas]. Mas desejar que minha mãe morra, que eu me afogue, que eu seja estuprada, que a história da minha infância seja algo que eu inventei para estar na mídia já ultrapassa. Eu falo sobre coisas que a maioria dos atletas não fala, eu aguento porrada, mas tudo tem limite. Quando tem desrespeito por eu ser mulher ou ser do Nordeste, aí eu vou tomar as medidas jurídicas”.

“Um país de psicopatas, país de doidos, que confundem religião, política e esporte”

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por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho
Ontem em entrevista ao Uol, a doutora Terezinha Maranhão, mãe da atleta Joanna Maranhão, foi direto ao ponto quando perguntada sobre as ofensas dirigidas à sua filha: “Este é um país de psicopatas, país de doidos, que confundem religião, política e esporte. Minha filha tem opiniões próprias, mas não merece ser ofendida e atacada como foi”.
Sobre os ataques machistas e preconceituosas não há o que dizer. Um completo absurdo sem sentido. Mas quero aqui atentar para outro detalhe, cada vez mais comum no debate político.
Acusar os defensores do governo Dilma, do PT, ou de qualquer coisa que lembre a esquerda de receberem 'mamatas' com dinheiro público.
Abaixo segue um exemplo deste tipo de argumento cada vez mais comum nos debates políticos:
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(Foto: Reprodução/ Facebook)
Primeiro aconteceu com os blogs progressistas. Depois com os artistas que se manifestaram contra o golpe. E ontem vi muitas pessoas acusando Joanna Maranhão de receber algum tipo 'mamata' ou vantagem com dinheiro público, seja lá o que isto signifique. E a culpa é do PT, claro.
Me espanta o nível de alienação e psicopatia na rede.
Se o Estado não deve financiar a imprensa alternativa, a cultura e o esporte, deve financiar o que afinal? O que sugerem os anti-petistas raivosos? Que o Estado continue a distribuir dinheiro somente para os mais ricos, através dos juros mais altos do mundo?
Abaixo a entrevista completa com a mãe de Joanna Maranhã, no Uol.
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Mãe de Joanna fica indignada com ataques à filha: “Um país de psicopatas”

Por Roberto Salim, do UOL
A doutora Terezinha Maranhão é geriatra. Está acostumada a atender velhinhos com problemas inevitáveis na vida de qualquer um. É uma médica dedicada, uma pessoa paciente e uma mãe que se levantava todo dia às quatro da manhã para levar sua filha aos treinamentos de natação, em Recife. A doutora dormia dentro de seu fusquinha, esperava o fim do treino, dava o lanche para pequena Joanna e a levava para a escola. Só depois disso ia para seu consultório na capital pernambucana.
Por ter educado Joanna Maranhão dentro desses princípios, a médica não se conformava nesta terça-feira com as ofensas recebidas pela filha nas redes sociais.
“Este é um país de psicopatas, país de doidos, que confundem religião, política e esporte. Minha filha tem opiniões próprias, mas não merece ser ofendida e atacada como foi”.
A doutora disse que Joanna não dormiu direito, ficou abalada, mesmo sendo forte.
“Foram ofensas pessoais que mexeram com ela. E é óbvio que ela não rendeu o melhor que podia na piscina, se tivesse repetido seu melhor desempenho teria passado às finais”.
Em sua família, doutora Terezinha foi criada para ser guerreira. Um dos ensinamentos da infância: a vida segue, seja qual for a dificuldade.
“E é vida que segue, às vezes se paga um preço alto por ser autêntico, mas faz parte”.
Ela volta para seus pacientes nesta quarta-feira. Joanna fica no Rio até dia 14, acompanhando o judoca Luciano Correa, seu namorado, que está comentando os jogos por uma emissora de TV.
“Se a Confederação de Desportos Aquáticos ou o Comitê Olímpico Brasileiro vão tomar alguma atitude? Eu não acredito. Eles nunca fizeram nada pela minha filha, não vai ser agora que vão agir”.

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