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9.03.2016

Dilma ironiza Temer: não se acha golpista?


Roberto Stuckert Filho/PR:
Em coletiva à imprensa internacional ao lado do advogado José Eduardo Cardozo, Dilma Rousseff destacou que "há uma grande inconformidade dos golpistas com a palavra golpe", um dia depois de Michel Temer ter dito que não irá tolerar ser chamado de golpista; sobre o fatiamento da votação que manteve seus direitos políticos, comentou, sobre o resultado a seu favor: "eles [os parlamentares] se desnudam. Eu acho que é estranhíssima essa dupla votação. É no mínimo estranho"; Dilma também condenou a repressão da polícia às manifestações contra o governo Temer – "é assim que se começam as ditaduras" – e faz críticas à cobertura da mídia brasileira sobre o impeachment; "Agora não vão poder dizer que o New York Times é petista, ou que o Le Monde é petista", brincou A presidente Dilma Rousseff comentou pela primeira vez nesta sexta-feira 2, em uma entrevista coletiva à imprensa internacional, no Palácio da Alvorada, o fatiamento da votação do processo de impeachment que manteve seus direitos políticos e de ocupar cargos públicos nos próximos oito anos.
"No processo de votação, eles se desnudam. Eu sei que tinham muitos senadores indecisos, desconfiados que esse processo não era o que pintava. Mas sei também que o governo interino fez uma enorme pressão [para conseguir votos]", disse. Para Dilma, "o segundo voto é o voto daqueles que não consideram que cabiam uma punição. São senadores que estavam indecisos que sofreram pressões".
"Essa cassação é de fato uma pena principal. Você já afasta uma pessoa sem crime de responsabilidade. E depois tira os direitos também sem crime de responsabilidade? E aí?", questionou. "Eu não acho que atenua ou não atenua o que fizeram. Acho que são detalhes em decorrência do que fizeram. O ato é que me condenaram a uma morte política, que é a retirada do meu mandato", condenou, completando que a "dupla votação" – no caso, a mudança do resultado – é "estranhíssima". "É no mínimo estranho", opinou.
Um dia depois da primeira fala de Michel Temer como presidente da República, dizendo que não irá tolerar ser chamado de golpista, Dilma afirmou que "há uma grande inconformidade dos golpistas com a palavra golpe. Tenta-se de todas as maneiras evitar que fique evidente o caráter desse processo". "É um golpe parlamentar, mas é um golpe", lembrou.
Dilma também condenou a repressão da polícia às manifestações contra o governo Temer que vêm ocorrendo nos últimos dias. "Nós sempre convivemos com manifestações democráticas, nunca reprimimos, como está ocorrendo nesse momento", observa. "É assim que se começam as ditaduras, e não precisam ser só militares, podem ser civis disfarçadas", alerta a petista.
Afirmando que ficará "alerta" em relação à violência nos atos, Dilma disse também que não se pode aceitar que se digam que "a culpa é dos manifestantes". "Isso não se pode deixar acontecer", defendeu. Nesta sexta, os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo publicaram editoriais chamando os manifestantes de "fascistas" e pedindo maior repressão da polícia de Temer contra eles.
"A força do estado é muito maior do que a força das pessoas, o terrorismo de estado é gravíssimo, o estado não pode fazer isso principalmente porque vivemos numa democracia e também porque a poder do estado é muito forte", reforçou.
Dilma também fez críticas à cobertura da mídia brasileira sobre o processo de impeachment e destacou a importância de veículos internacionais e das redes sociais na visão de que se trata de um golpe o que ocorreu no Brasil. "Agora não vão poder dizer que o New York Times é petista, ou que o Le Monde é petista. É muito importante o que aconteceu e o papel da mídia internacional no Brasil", disse.


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