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9.06.2016

Para onde vão as ruas?

Leopoldo Vieira
Estrategista político, analista de cenários e consultor para o setor público e privado



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Até agora o jogo do Impeachment foi um confronto de classe média.
Uma, de oposição, que sustentou a deposição da presidenta com milhões nas ruas, ode à operação Lava Jato e bandeiras ultra-conservadoras.
Outra que, sem Dilma e sem a aliança PT-PMDB, se ampliou, inclusive com engajamento de tucanos ideológicos, liberais em questões civis, que não quiseram se misturar à fotos com PMs, exaltação à ditadura militar e desfiles de modelos nuas.
Esta teve seu ápice na Avenida Paulista no último domingo.
Contudo, isso não deve entusiasmar os que sonham com a também deposição de Michel Temer.
Este lado, o derrotado até agora na crise política deve saber que segue com a hegemonia política perdida e que é absolutamente inverídico que a sociedade reconhece que Dilma foi uma presidenta honesta e, muito menos, apoiou a sua volta.
Muito pelo contrário.
Todas as pesquisas até aqui foram unânimes em registrar que a maioria acreditava que Dilma estava envolvida nos escândalos de corrupção e apenas 30% sustentou seu retorno à cadeira presidencial.
Menos ilusões.
Por trás da euforia "contra o golpe" por não terem sido 40 pessoas, há algo muito mais efetivo sendo desenhado por trás.
Os casos mais repercutidos da repressão policial às manifestações registraram-se em estados administrados pelo PSDB. Como se viu em junho de 2013, repressão gera aumento de participação. Aumento de participação radicalizada, porque a questão não é meia dúzia de black blocks, mas o sentimento dos engajados nas manifestações.
Esta é a fenda da manipulação política. Por isso a PM tenderá a aumentar as doses de repressão, pois será vista como o prenúncio da "ditadura Temer". Se é ditadura, "vamos à luta" e amplificam-se os confrontos.
Na dificuldade de visão que dias como os nossos têm como característica, conselheiros do governo dirão que é preciso fazer-se respeitar a ordem, outros sugerirão aumentar a repressão para dispersar a classe média. De seu turno, conselheiros anti-governo venderão super-narrativas "táticas" numa idiossincrasia fetichista sobre as "jornadas de junho": um discurso de que os protestos não são por Dilma, mas pela democracia, cujo inimigo maior seria Michel Temer. Conversa que não atrairá um gato pingado sequer das marchas que foram encabeçadas pelo Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua et caterva.
Este jogo nem precisa de muita coordenação política.
Tal como a esquerda imagina uma ditadura em curso, a PM, corporação formada para ser ideologicamente de extrema-direita, acha também que pode ser uma no "bom sentido", para exercer seus ímpetos mais primitivos contra "baderneiros" e os que "defendem bandidos".
Desta maneira, encerra-se completamente qualquer diálogo político e social com o governo, até por que, quem, dos contra o Impeachment, em sã consciência política, poderia remar contra a "maré vermelha" das ruas?
O PSDB, então, terá dado um xeque no PMDB, uma vez que, simultaneamente, a Lava Jato avança sobre o partido. Ela Wiecko saiu revelando que há uma delação em curso contra Temer. A mídia, há dois dias, estampou que propinas de Belo Monte irrigaram altos dirigentes peemedebistas. A Greenfield contra os fundos de pensão foram em cheio a operadores ligados ao PMDB.
Mudou o governo, mudou o foco.
A foto de Alexandre de Moraes com Moro e o núcleo do Ministério Público em Curitiba antes do espetáculo contra a sede do PT em São Paulo não deixa dúvidas sobre a coordenação política disso. Neste caso, ao que parece, a máxima de manter os inimigos ainda mais próximos que os amigos tem uma inversão na hierarquia. Parece ser o jogo dos tucanos com o PMDB.
Ninguém se espante se, daqui há pouco, começarem a surgir convocatórias pela paz e contra "a violência do PT", porém com uma novidade: "a corrupção do PMDB".
Pela primeira vez, poderemos ter duas ruas gritando "Fora Temer", embora jamais venham a marchar juntas, com exceção de um ou outro mais nonsense.
Serão as duas facetas que formaram a consciência de Carlos Lacerda se fazendo carne e história.
A decisão de pôr isso em marcha dependerá muito do quanto Temer aceitar terceirizar seu governo ao PSDB e implementar a agenda liberal. Mas tudo indica já estar sendo costurada para forçá-lo a entregar todos os anéis possíveis e estar completamente desmoralizado em 2018.
In other words: condições para eleições indiretas ou um 2018 sem todas as forças e lideranças políticas, com um PSDB musculoso, dizendo-se pai da estabilidade e dos primeiros programas sociais.
Estas ruas juntas, então, cumprirão um papel extraordinário para ser aplicado 100% do programa neoliberal, com mais um ciclo de projeção da extrema-direita em questões civis.
Todavia, há tesouro escondido no meio de tudo isso: quem desempata impasses como o atual são os mais pobres e os trabalhadores. Desde que Dilma ainda era presidenta, eles assistem à crise política e a enxergam como "briga de elites". Em sua ampla maioria, votaram pela reeleição da presidenta e de seu antigo vice em virtude do compromisso de proteger os empregos e os salários, mas se desencantaram quando o ajuste fiscal foi mal anunciado e nada explicado, e quando o desemprego começou a bater nas portas.
Dilma, para se manter no Palácio do Planalto, não conseguiu entusiasmar estes setores a lhe defender nas ruas e a classe média que a defendeu foi menor do que a queria derrubá-la

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