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9.28.2016

SUS terá novo medicamento no combate à AIDS a partir de 2017

Pacientes com HIV que apresentaram resistência e novos usuários do tratamento farão uso do dolutegravir no lugar do efavirenz

Brasília - O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira um novo medicamento no combate ao HIV e Aids. Trata-se do dolutegravir, um antirretroviral que deverá ser usado em cerca de 100 mil pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 2017.
O uso do dolutegravir será exclusivo para quem apresentou resistência aos medicamentos atuais e também para quem ainda não iniciou o tratamento. Os atuais pacientes que fazem uso da medicação do SUS continuarão usando o 'três em um': tenofovir, lamivudina e efavirenz.

Expectativa é que 100 mil pacientes do SUS façam uso do novo medicamento para combater o HIV undefined
O dolutegravir será indicado no lugar do efavirenz. Segundo o Ministério da Saúde, a limitação é por conta da produção e distribuição do medicamento. 
De acordo com a pasta, o preço do dolutegravir  caiu de US$ 5,10 para US$ 1,50, viabilizando a aquisição. O Ministério da Saúde terá orçamento de R$ 1,1 bilhão para comprar o novo medicamento.

Glaxo quer revolucionar tratamento da Aids

Em 2015, a Glaxo iniciou testes clínicos para mostrar que a combinação do dolutegravir com apenas outro remédio contra o HIV funciona tão bem quanto a terapia tripla tradicional.
Em 2015, a Glaxo iniciou testes clínicos para mostrar que a combinação do dolutegravir com apenas outro remédio contra o HIV funciona tão bem quanto a terapia tripla tradicional. Photo: luke macgregor/reuters
A farmacêutica britânica GlaxoSmithKline PLC está definindo o futuro de sua unidade de medicamentos  para o HIV com uma aposta audaciosa: virar de cabeça para baixo uma estratégia de tratamento que vigora há décadas e que transformou uma doença fatal em crônica.
O tratamento contra o HIV, o vírus que causa a Aids, mudou pouco desde meados da década de 90, quando uma nova classe de drogas melhorou drasticamente a terapia adotada. Os médicos descobriram que uma combinação de tipos mais novos de medicamentos antirretrovirais com duas drogas já usadas impediam o vírus de desenvolver resistência.
Desde então, um regime de três drogas se firmou como o tratamento padrão e o foco do desenvolvimento de novos medicamentos continua sendo combinações triplas cada vez mais eficazes.
Agora, os executivos da Glaxo querem mudar isso. Eles esperam que o mais recente comprimido da farmacêutica seja forte o suficiente para debelar o vírus HIV com a ajuda de apenas mais uma droga. Isso, diz o diretor-presidente Andrew Witty, seria uma reviravolta no setor porque o uso de menos drogas produziria menos efeitos colaterais.
A ViiV Healthcare — unidade dedicada a combater o HIV que é controlada pela Glaxo e na qual a americana Pfizer Inc. e a japonesa Shionogi & Co. possuem fatias minoritárias — deu início à longa missão de transformar o projeto em realidade. ENLARGE
A droga em questão, a dolutegravir, pertence a uma classe conhecida como inibidores da enzima integrase, cujo efeito é reduzir rapidamente o nível do vírus HIV no sangue. Ela foi aprovada para uso como parte de uma terapia tripla tradicional e, até agora, não há casos registrados em que o vírus tenha desenvolvido resistência à droga em novos pacientes. Isso torna o dolutegravir único entre os inibidores da integrase, diz David Hardy, médico especialista em HIV e porta-voz da Associação de Medicamentos contra o HIV, um grupo de defesa dos interesses dos pacientes.
Embora o perfil do dolutegravir sugira que o medicamento talvez possa suprimir o HIV sem a ajuda de qualquer outro medicamento, a Glaxo está adotando uma abordagem mais cautelosa, diz uma porta-voz da empresa.
O benefício mais importante de um tratamento com duas drogas é que ele causa menos efeitos colaterais. Náusea, diarreia, problemas renais e enfraquecimento dos ossos são as razões mais comuns para alterar o tratamento contra o HIV. O uso de só duas drogas também custaria menos.
Rochelle Walensky, professora associada da Faculdade de Medicina de Harvard, estimou que migrar 25% dos pacientes que hoje usam a terapia tripla para uma combinação de dolutegravir e 3TC — um medicamento  genérico mais antigo — reduziria em mais de US$ 3 bilhões o custo de tratamento do HIV durante cinco anos. A economia é menos clara se as duas drogas do tratamento ainda estiverem sob proteção de patentes.
A Glaxo está pondo “um foco e prioridade tremendos” no desenvolvimento do tratamento com as duas drogas, diz Witty.
Segundo o banco suíço UBS, a oportunidade é significativa: se o tratamento “dual” tornar-se a estratégia preferida dos médicos, a Glaxo pode abocanhar uma fatia bem maior do mercado e substituir a Gilead Sciences Inc. como a principal farmacêutica da área de HIV em três anos.
Em 2015, a Glaxo iniciou uma série de amplos testes clínicos com o objetivo de mostrar que a combinação do dolutegravir com apenas outro medicamento contra o HIV funciona tão bem quanto a terapia tripla tradicional.
Um grupo desses testes está testando o dolutegravir com a rilpivirina, medicamento produzido pela Janssen Pharmaceuticals, uma unidade da Johnson & Johnson. Outro teste combina o dolutegravir com o 3TC, droga genérica usada na análise de Walensky.
A Glaxo também planeja iniciar um teste de estágio avançado combinando uma versão injetável do dolutegravir com a rilpivirina. Um teste anterior revelou que esta combinação era tão eficaz quanto o tratamento com três drogas quando o vírus já havia sido eliminado por um período inicial de terapia tripla.
Os testes só começarão a produzir resultados em 2017, mas um pequeno estudo realizado pelo médico argentino Pedro Cahn oferece razões para otimismo. No teste de 48 semanas, a combinação do dolutegravir e o 3TC reduziu os níveis de HIV em 18 de 20 pacientes que nunca haviam recebido tratamento.
Mesmo se os testes clínicos mais amplos da Glaxo tiverem sucesso, ela pode enfrentar outro desafio: a inércia. Em 2015, a Gilead lançou uma série de terapias triplas usando uma nova droga contra o HIV, a TAF, que pode ser administrada em doses muito menores que seus antecessores, causando menos danos aos rins.
Christoph Wyen, especialista em HIV do Hospital Universitário de Colônia, na Alemanha, diz que o advento de terapias triplas menos tóxicas reduz o incentivo dos médicos mudarem os tratamentos para outros mais simples. Ele diz que a terapia dual pode ser adotada mais rapidamente entre pacientes mais velhos e mais propensos a complicações de saúde relacionadas à idade.
A Gilead está desenvolvendo um novo inibidor de integrase que, se for similar ao dolutegravir, pode dar a ela uma vantagem importante no mercado de terapia tripla. O pior cenário para a Glaxo ocorreria se suas terapias duais fracassarem e o inibidor de integrase da rival — que, se tiver êxito, deve ser lançado em 2018 — tirar participação de mercado do dolutegravir, embora Witty diga que o dolutegravir estará bem estabelecido quando a concorrência da Gilead chegar.
“Não é uma conclusão garantida que [a terapia dual] funcionará”, diz Hardy. Mas “vi o desenvolvimento do dolutegravir por tempo suficiente para entender a razão de estarem tentando fazer isso”.

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