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10.17.2016

O PT precisa ir além da mudança cosmética



Mauro Pimentel/Folhapress
Lula discursa em aniversário de 36 anos do PT ao lado do presidente do partido, Rui Falcão
Lula discursa no aniversário de 36 anos do PT ao lado do presidente do partido, Rui Falcão
Ainda que tenha tomado outra dimensão por causa das repercussões da Lava Jato, a crise do Partido dos Trabalhadores tem algumas semelhanças com a que atinge os partidos sociais democratas europeus.
Diante da multiplicação de candidaturas nas últimas semanas, o Partido Socialista francês corre o risco de ver François Hollande, o atual presidente, sofrer uma derrota humilhante nas primárias do partido.
No Reino Unido, a reeleição de Jeremy Corbyn à liderança do partido, no mês passado, parece condenar os trabalhistas a uma interminável disputa interna entre a base parlamentar tradicional e a nova geração de militantes.
Incapaz de resistir à estratégia de terra arrasada do Podemos, o Partido Socialista Operário Espanhol, cujo líder Pedro Sanchez se demitiu na semana passada, continua a sua descida ao inferno, onde já se encontra o bloco social democrata grego, arrasado pelo avanço eleitoral da extrema esquerda.
Apesar da urgência, as principais lideranças parecem hesitar entre o refúgio na nostalgia e a acrobacia desesperada de mudar tudo para continuar tudo igual.
Num livro de entrevistas publicado nesta semana, François Hollande sugere rebatizar o Partido Socialista de Partido do Progresso. Uma iniciativa que constrange pela sua banalidade.
Sempre que pressionadas, as mentes cansadas da social democracia anunciam a intenção de trocar o nome dos seus partidos. Uma ideia vetusta que remonta à experiência efêmera do novo trabalhismo britânico dos anos 1990.
Propensas a apoiar renovações de fachada, essas mesmas mentes resistem à formação de frentes de esquerda.
Na França, os membros do aparelho socialista sabotaram o movimento em favor de primárias para as presidenciais abertas a todos os partidos progressistas. A agonia dos socialistas espanhóis tem origem na recusa dos seus chefes locais em aceitar a inevitável aliança com o Podemos.
Em Portugal, António Costa, líder da coalizão de governo dos principais partidos de esquerda, teve de enfrentar os socialistas que preferiam a formação de um bloco central com a direita.
Vitorioso, Costa fez de Portugal, eterno candidato a ser a próxima Grécia, um modelo de governabilidade para o sul da Europa.
O caso português pode servir de exemplo para a esquerda brasileira. Resta saber se as lideranças do PT entenderam que, para sobreviver, o partido precisará de ir muito além da mudança cosmética.

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