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10.09.2016

Uma proposta legítima de um governo ilegítimo


Sempre disse que 90% da crise econômica do país é culpa do Congresso Nacional. É falta de responsabilidade pública do Congresso. Aliás, nos últimos anos a incoerência tem sido a marca do Congresso Brasileiro. Os parlamentares mudam de posição de acordo com os seus interesses e nunca de acordo com os interesses do país.
A atual base de sustentação do governo ilegítimo de Michel Temer, cerca de 400 deputados, no dia 1º de fevereiro de 2015 apoiou Eduardo Cunha (PMDB) e Júlio Delgado (PSB) para a presidência da Câmara Federal. Eu votei em Arlindo Chinaglia (PT).
Mesmo conhecendo o histórico político de Eduardo Cunha, e a sua vida pregressa, a maioria – inclusive com o voto de muitos paladinos da ética - elegeu Eduardo Cunha presidente. A partir daquele momento, o governo da presidente Dilma começou a ser chantageado, diariamente, e o ajuste fiscal do Brasil a ser atacado sistematicamente.
Esta base do atual governo ilegítimo, que hoje cobra responsabilidade fiscal, fez de tudo para prejudicar o governo da presidente Dilma. Aprovou, por exemplo, o fim do fator previdenciário, o que iria provocar definitivamente a quebra do sistema previdenciário do Brasil. Aprovou um "pacote de bondades", a chamada "pauta-bomba", que vai gerar um prejuízo ao país, a longo prazo, em torno de R$ 80 bilhões. Tudo isso com o grande objetivo de desestabilizar o governo da presidente Dilma.
À época, com muita honra, eu exercia a vice-liderança do governo da presidente Dilma, uma mulher digna que foi arrancada do poder sem cometer nenhum ato de corrupção. Reiteradas vezes fui à tribuna da Câmara Federal e solicitei que esses parlamentares não trabalhassem contra o país, não prejudicassem as finanças públicas da União.
Algumas vezes eu citei a famosa frase: "a diferença do político para o estadista é que o político pensa nas próximas eleições e o estadista pensa nas próximas gerações". Disse mais: ressaltei que o Brasil estava, e está, em um momento que nunca precisou tanto de estadistas. Sugiro que busquem meus pronunciamentos na Câmara ao longo de 2015 e 2016. Minhas convicções são perenes, são definitivas.
Quando os parlamentares aprovaram o fim do fator previdenciário, a presidente Dilma vetou, mostrando que tinha compromisso com o Brasil e com o ajuste fiscal. Se a presidente quisesse fazer demagogia, não teria vetado, pois, o impacto financeiro até o final do seu governo, em 2018, seria pouco relevante, mas nos próximos dez anos o déficit da previdência chegaria perto de R$ 350 bilhões. Mesmo assim, eles trabalharam para derrubar o veto da presidente Dilma.
Não tenho outra palavra para qualificar a maioria desses parlamentares que compõem a base do governo Michel Temer: são irresponsáveis. Não têm moral para cobrar da atual oposição que, na próxima segunda-feira, vote a favor da PEC 241.
Aprendi a fazer política com coerência, responsabilidade pública e, acima de tudo, respeito às pessoas. Tenho compromisso com o meu país. Tenho compromisso com o futuro das próximas gerações. Sei que se eventualmente a PEC 241 for derrotada, na próxima segunda-feira, o "risco Brasil" irá aumentar e teremos dificuldades de diminuir o desemprego, porque iremos afugentar os investidores.
Quero salientar para aqueles que odeiam os governos do presidente Lula e da presidente Dilma que o desajuste fiscal no Brasil, lamentavelmente, é histórico, sobretudo por conta das posições corporativistas e demagogas do Congresso Nacional. O Congresso, ao longo dos anos, tem sido tão irresponsável que já na Constituição de 1988 os constituintes criaram a aposentadoria rural, ao meu ver uma política de inclusão social justa, mas esqueceram de dizer quem pagaria a conta.
A maioria dos parlamentares federais pensa que o Estado brasileiro pode tudo e esquece que o Estado tem receitas e despesas, exatamente igual a qualquer família brasileira que quando as despesas aumentam não tem outra solução a não ser cortá-las.
Quero me dirigir aos meus atuais companheiros de oposição do PT, do PCdoB e do PSOL. Acho que não podemos perder este momento histórico e dar exemplo ao país. Devemos repensar alguns valores da esquerda. Precisamos ter grandeza e, mesmo com a dor de quem sabe que a democracia brasileira foi violada, deveríamos administrar as nossas feridas e votar a favor da PEC 241, para que amanhã a gente entre na história como uma nova esquerda, uma esquerda que, diferente deles, pensou no país.
Lembro aos meus companheiros de oposição que o ex-presidente Lula, por algumas vezes, chegou a sugerir o nome de Henrique Meirelles para compor o governo da presidente Dilma. Infelizmente, não foi possível construir na política. Ratifico que, por diversas oportunidades, conversei com os competentes ex-ministros Nelson Barbosa e Joaquim Levy e ambos tinham como meta prioritária o ajuste fiscal, porém, sempre registravam a falta de apoio congressual.
Vou fazer oposição a este governo golpista de Michel Temer até o dia 31 de dezembro de 2018. Não é correto o ataque que eles fizeram à democracia. Tomaram o mandato da presidente Dilma, rasgando a Constituição, mas declaro que, pelo meu país, na próxima segunda-feira vou votar a favor da PEC 241. E, ao mesmo tempo, registro a minha homenagem aos ex-ministros Nelson Barbosa e Joaquim Levy.

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