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12.02.2016

O governo golpista do Temer sobrevive por inércia


O sonho da direita, desde que perdeu o governo, em 2002, era tirar o PT do governo, da forma que fosse. Tentou o impeachment do Lula, com o "mensalão", mas recuou, não se atreveu, com medo da reação popular. Tentou nas eleições de 2006, 2010 e 2014, mas foi derrotada, porque os brasileiros preferiram o modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, do PT, à prioridade do ajuste fiscal dos tucanos.
Diante da possibilidade de seguir perdendo, a direita apelou para o atalho do golpe. Com Aécio e os tucanos ou com quem fosse, se buscava a forma de tirar o PT do governo. Que terminou recaindo em Temer e o PMDB.
Haveria um risco, pela incompetência do Temer, pelo programa de ajuste fiscal reformulado pelo PMDB, pelo caráter ilegal do impeachment, mas era o que a direita tinha para usar contra o governo da Dilma. E apelou para essa aventura.
Seis meses depois, fica claro que houve um assalto ao poder por parte de uma gangue mafiosa, que usa o pretexto do ajuste fiscal para ganhar o grande empresariado, para culpar o PT pelos supostos gastos excessivos em políticas sociais, que teriam gerado a crise econômica. Avançaram no caminho aventureiro de desmonte do Estado, na direção oposta da forma como o Brasil tinha resistido à crise recessiva internacional. Na via de ruptura com a prioridade das políticas sociais, que tinha feito o Brasil se tornar menos desigual, de sair do Mapa da Fome. Desfaz a política de alianças do Brasil no mundo, que permitiu a projeção internacional do pais, para transforma-lo numa republiqueta sem nenhuma importância, que merece o desprezo do mundo.
Mas nada deu certo. A economia não da nenhum sinal de recuperação, começa o empurra-empurra de anuncio de retomada de um semestre para o seguinte, como mera falta de resposta. O governo vive de crise em crise, revelando sua fragilidade política e moral diante de qualquer episódio que envolva ministros notoriamente envolvidos com corrupção, antes mesmo de que saia a delação da Odebrecht, que promete comprometer grande parte da base de apoio parlamentar do governo, além de outra leva de seus ministros.
Se reitera a pergunta e as especulações sobre até quando sobrevive o governo Temer, que notoriamente deu errado. A direita não tem hoje um comando unificado. Ela tinha uma unidade férrea contra o governo do PT, agora se divide entre fortalecer o governo do Temer ou buscar alternativa para substituí-lo.
O governo visivelmente perdeu o apoio da mídia, que cada vez mais o critica. Mas a operação de substituição do Temer por outro quadro da direita, já no começo do ano que vem, que pode parecer uma operação razoável, tem riscos. Ela precisa obter um novo grande consenso entre as forcas da direita, sem o qual não pode ocorrer. Conseguiram o consenso em torno do apoio ao Eduardo Cunha para levar a cabo o golpe e depois para depô-lo, quando ele já não lhes servia. Será difícil conseguir algo similar.
Em primeiro lugar, o PMDB, que continua a ser o partido majoritário no bloco da direita, perderia muito com a mudança, se não for por um quadro dele. Os membros do governo, no qual se protegem das acusações de corrupção, se veriam desprotegidos e provavelmente resistiriam muito a uma mudança desse tipo. Ou então usariam sua forca parlamentar para entregar o Temer, se a situação deste se tornar insuportável – o que pode acontecer com as delações da Odebrecht -, mas impondo alguém do PMDB, que os projeta. Nesse caso, as fragilidades atuais persistiriam, porque grande parte dele está citado ou é diretamente réu na Lava Jato. As delações da Odebrecht produzirão um novo cenário em termos de acusações e fragilidades dos quadros do próprio governo, permitindo reavaliar as possibilidades de uma operação de mudança dentro do golpe.
O que acontece hoje é que o governo Temer sobrevive por inércia, por aparelhos, por dificuldades de uma operação de sua substituição. Se vale, ao máximo, da sua maioria esmagadora no Congresso, para avançar seu pacote de projetos, mas não se sabe até quando seguira contando com essa maioria. O mais provável, hoje, é que a inércia empurre o governo pra frente, até quando as condições de governabilidade o permitam, incluindo ate quando a blindagem do próprio Temer possibilite.
O que faz prenunciar um ano de 2017 em nada menos instável do que anos anteriores, pela fraqueza do governo, pela sua rejeição popular cada vez mais acentuada e pela proximidade da campanha eleitoral de 2018, para a qual o governo está em péssimas condições.

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