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12.04.2016

Os Coveiros da democracia



Rovena Rosa/Agência Brasil

Muitos a consideram a avenida mais bonita de São Paulo.
Já foi o habitat da nata dos fazendeiros de café.
Uma disputa silenciosa apontava, a cada nova mansão desenhada por arquiteto francês qual seria a mais suntuosa delas.
Foi a avenida dos corsos de carnaval dos anos 20, passagem obrigatória dos primeiros calhambeques lotados de pierrôs e colombinas que faziam guerra de confetes.
A disputa, mais tarde, mudou dos casarões para os edifícios.
Arquitetos de alta linhagem mudaram o perfil da via que foi larga desde sempre.
E ficou conhecida como a avenida da São Silvestre, a corrida de rua que acabava no mesmo instante em que o ano em que transcorria.
A seguir, passou a ser identificada como a avenida do Masp, tal a força de seu vão livre que choca pela beleza e abre a vista para a sinuosa Nove de Julho.
Também era chamada de “avenida do Conjunto Nacional”, o primeiro e imponente prédio que ao mesmo tempo abrigava conjuntos comerciais e apartamentos de todos os tamanhos.
As calçadas foram tomadas por artesãos e artistas improvisados, o que não degradou, mas humanizou a avenida que oferece esse espetáculo a céu aberto e inteiramente grátis.
Também já foi a “avenida da Parada Gay”, invadida anualmente por um alegre enxame de homens e mulheres fantasiados por fora e por dentro.
Já estava lá, plantada bem no meio do caminho entre a Praça Oswaldo Cruz e a avenida Consolação uma construção que lembra uma pirâmide.
Vários faraós a ocuparam sem alarde, até que o mais magro deles decidiu adotar a companhia de um pato amarelo gigante de plástico e transformar o local no ponto de encontro da insensatez com a ignorância e a truculência.
Em lugar da alegria da Parada Gay a avenida virou território de uma parada de mortos-vivos à semelhança de “Walking Dead”.
A turba vestiu-se de verde e amarelo para, a partir dali, desferir o primeiro golpe desde a fundação da Nova República.
Golpe não apenas num governo de que não gostavam, mas na democracia.
A pretexto de proteger a pátria eles a denigrem e corrompem, apesar de levantar bandeiras contra a corrupção.
Hoje ela pode ser chamada de “a avenida dos coveiros da democracia”.

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