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1.15.2017

Golpe anestesiou o Ethos social. Toda aberração ficou natural


Alguma surpresa com a última operação da Polícia Federal, revelando que Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha, eminências do golpe, cobravam propina para liberar créditos na Caixa Econômica Federal? Nenhuma. E também não se registra qualquer indignação, qualquer panelaço, qualquer ato na Avenida Paulista contra a corrupção oceânica todo dia revelada.
O golpe anestesiou o Ethos da sociedade brasileira - entendido como seu "caráter moral", seu conjunto de crenças e valores - a um ponto tal que até mesmo uma manifestação extrema de barbárie e regressão ao primitivo, o banho de sangue e as degolas nos presídios, não arrancaram um soluço coletivo, um grito de compaixão em forma de protesto contra o inaceitável.
Mas fiquemos na corrupção, pois até há poucos meses ela mobilizava milhares, produzia passeatas em que uma classe média supostamente portadora de maior exigência ética pedia o impeachment da presidente eleita e bradava contra a corrupção. Vestia de presidiários os bonecos de Lula e Dilma, enforcava-os na avenida estimulando o ódio social que anda solto entre nós. Derrubado o PT e entronizado outro governo, tornaram-se cotidianas a revelações de que o poder foi açambarcado por um grupo político essencialmente corrupto, que corre desesperadamente contra o tempo para implementar a agenda socialmente regressiva prometida aos capitais e para realizar os negócios de Estado que ainda podem render um butim. As privatizações, as concessões, as vendas dos nacos da Petrobrás, a contratação de empresas estrangeiras para substituir as brasileiras, o desmonte da rede social, tudo é para ontem.
Geddel não é mais ministro mas era um dos homens fortes do Planalto até há poucas semanas. No entorno do presidente não restam auxiliares importantes inalcançados por uma denúncia, seja da Lava Jato ou de outras investigações. Resta o ministro da Fazenda, mas este vem tendo a biografia carbonizada pelos resultados desastrosos na economia. O próprio presidente tem explicações a dar sobre recursos recebidos de empreiteiras. E no entanto, cadê as panelas? Cadê a Janaína Paschoal e os garotos amestrados pela cada vez mais revelada ação americana no golpe? Estes não irão mesmo admitir que ajudaram a embarcar o Brasil num trem fantasma que corre célere para um buraco negro. Mas os outros, os que estão perdendo empregos, tendo direitos ameaçados, a renda subtraída, a dignidade afrontada, como os aposentados por invalidez convocados a provar que são doentes? Ou os que, mesmo preservando um território social e econômico melhor, historicamente defenderam um país mais justo, mais soberano e menos cruel, capaz de admitir e respeitar “o outro”, apesar das divergências? Onde a classe média iluminista ou melhor iluminada? Todos anestesiados pela vertigem da derrocada, pela velocidade com que os fatos graves e chocantes se sucedem, “naturalizados” pela ausência de contraditório.
Por isso, tudo bem, tudo natural com a Operação Cui Bono, informando que  Geddel integrava uma “verdadeira organização criminosa”. Não fosse o berro do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, aí estaria ele bem faceiro, comandando a maioria reacionária do Congresso. Tudo normal, tudo natural, mas anestesias uma hora passam.
A frente de esquerda não saiu. A unidade das oposições muito menos, pois não há oposição liberal neste momento. Só a de esquerda. Lula anuncia que passará 2017 percorrendo o Brasil e debatendo a tragédia política e econômica. Ela exige, porém, mais que sua liderança e sua identidade com o povo brasileiro. Exige a unidade, a frente que as lideranças de oposição não entenderam ainda como imperiosa, assim como o foi em outros momentos da História do Brasil e da humanidade diante dos arreganhos do atraso

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