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2.01.2017

Em editorial a Globo propõe a Eike uma delação contra Lula

247 – Responsável pela denúncia do chamado triplex do Guarujá (SP), a Globo, maior monopólio de comunicação do mundo, transformou a destruição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua razão de existir.
Essa guerra, que já dura mais de três anos, contribuiu decisivamente para a quebra das construtoras brasileiras e para a maior recessão da história do País.
No entanto, a Globo para não estar convencida de ter encontrado sua bala de prata contra Lula.
Por isso mesmo, em editorial publicado nesta quarta-feira, a Globo praticamente fala em nome do Poder Judiciário e oferece a chave da liberdade ao empresário Eike Batista: uma delação premiada contra Lula.
O problema é que Eike, antes de tentar ser um símbolo do capitalismo de compadrio que a Globo condena, foi o protagonista de uma das maiores fraudes privadas de todos os tempos. Com o aval de bancos de investimento e de grupos de comunicação, incluindo a Globo, Eike levantou bilhões no mercado de ações, iludindo milhares de investidores.
Foi só quando percebeu que seus negócios poderiam ruir que ele tentou se socorrer no Estado. Eike, no entanto, sempre afirmou ser persona no grata na Petrobras – o que é mérito do corpo técnico da estatal. E quando obteve recursos no FI-FGTS, quem mandava ali dentro era o PMDB de Eduardo Cunha e Michel Temer, a quem a Globo se aliou para promover o golpe parlamentar de 2016.
Abaixo, o editorial em que a Globo estabelece suas condições para a liberdade de Eike:
A importância de uma delação de Eike Batista
O empresário poderá esclarecer o toma lá dá cá em Brasília e no Rio, ajudando a compor o mais detalhado mapa da corrupção em negócios com o Estado brasileiro
O instrumento da colaboração premiada tem sido chave para o êxito da Lava-Jato e de outras investigações menos conhecidas, feitas no universo do crime de colarinho branco. Repete o que aconteceu no exterior, por este tipo de delação, na repressão a organizações criminosas. Como a do petrolão.
Lançada em março de 2014, a Lava-Jato só decolou e avançou devido a delações estratégicas: a primeira delas, a do próprio doleiro Alberto Youssef, marco zero das investigações; veio em seguida a de Paulo Roberto Costa, primeira pessoa do esquema do petrolão, enraizado na diretoria da Petrobras, a trocar informações por redução de penas; e assim transcorreu até se chegar ao maior e mais importante acordo feito até agora na Lava-Jato — entre acionistas e diretores da Odebrecht, 77 pessoas e 800 depoimentos.
O empresário Eike Batista só agora entra para valer em toda esta história, mas reúne características que podem elevar bastante sua possível delação premiada no ranking de importância dos depoimentos feitos desde 2014, quando começou a Lava-Jato, de que a Operação Eficiência, em cujas malhas caiu Eike, é ramificação.
Eike Batista sonhou alto — chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo, ao vender projetos inflados de expectativas que ele criava, mas que não eram tudo aquilo que acenava — e poderá relatar as cumplicidades não apenas no plano federal, mas também no estadual.
Ao circular entre Rio e Brasília nos governos Lula e Dilma, Eike foi incluído na lista dos “campeões nacionais”, com livre acesso ao BNDES, a ferramenta financeira usada no projeto lulopetista de um capitalismo de estado para empresários companheiros. Na tentativa infrutífera de se livrar de uma prisão que devia pressentir, Eike se apresentou voluntariamente à Lava-Jato, para relatar a cobrança de R$ 5 milhões feita pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a campanha eleitoral de Dilma. Sem que surpreenda, o dinheiro foi entregue aos marqueteiros do lulopetismo, João Santana e Mônica Moura. Informação interessante, mas que não livrou Eike de Bangu 9.
No plano estadual, o empresário terá de explicar a mirabolante transferência de US$ 16,5 milhões a Sérgio Cabral, ex-governador fluminense. Eike, pelo que disse no aeroporto de Nova York e no avião de volta, ao GLOBO, deve explorar a linha de defesa de que políticos o achacaram. Pode ser, porém não o inocenta de crimes.
Uma desejável delação de Eike deverá levantar um aspecto deste capitalismo de estado e de compadrio que o lulopetismo ajudou a enraizar no Brasil: grandes investidores não conseguiam contornar o pagamento de pedágios para tocar seus projetos. Isso não os torna vítimas, até porque são agentes ativos da corrupção.
Uma bem-vinda colaboração de Eike Batista ajudará a compor talvez o mapa mais detalhado da cultura da corrupção, em altas e médias esferas, numa das dez maiores economias do mundo. Servirá de agenda de trabalho para a sociedade pressionar pela criação de barreiras institucionais contra esta perigosa degradação nos negócios públicos, que envenena o universo político e a gestão do Estado.

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