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3.08.2017

Por um 8 de março de mulheres pretas, pobres e periféricas

Militantes da Uneafro-Brasil em ato de 20 de Novembro de 2015

Por Rosângela Martins*

Nós militantes feministas negras, estamos com nossas bandeiras empunhadas, nossas faixas, nossos batuques, para que nossas vozes possam ecoar pelas ruas das cidades.  
O 8 de março é uma data de extrema importância para o movimento de mulheres, e este ano, em especial, corresponde a um chamado de paralisação internacional ou greve geral das mulheres.
Por óbvio, não podemos perder de vista o fato de que no Brasil, vivenciamos um golpe político com a clara intenção de promover uma deliberada retirada de direitos conquistados a duras penas. O mais triste é ver o quanto isso reflete na vida das mulheres negras. Motivo que nos leva a parar.

As mães negras, que choram a perda de seus filhos por conta da violência policial, verdadeiro genocídio da juventude preta, estão em luta.

É notável que a mulher negra será o principal alvo a ser atingido com a prometida reforma da previdência social. Já no campo da educação, setor composto por uma maioria de mulheres, o enorme impacto implicará na desqualificação do já sofrível ensino público, sucateado há muito tempo. Mas será que todas nós conseguiremos parar?
Imagine um dia totalmente paralisado pelas mulheres.
Um dia em que a trabalhadora do lar, ciente de que está ameaçado o seu direito à aposentadoria, por todos os anos em que manteve a dinâmica de uma casa, e sem remuneração, deixasse de preparar a alimentação, lavar as roupas das pessoas que ali vivem, levar seus filhos à escola…
Militantes da Uneafro-Brasil em manifestação pública

Um dia em que as professoras decidissem abandonar a sala de aula para lecionar nas ruas, invocando seus direitos pela valorização da categoria, pela não redução de seus salários, contra a reforma da educação que elimina matérias de suma importância para a formação de todas nós…
Um dia em que nossas jovens, nossas filhas, que almejam mais do que um diploma de ensino médio, que desejam chegar à universidade, encarar profissões desafiadoras a partir de oportunidades igualitárias, também parassem…
Um dia em que parassem também as trabalhadoras terceirizadas, em sua maioria negra, que limpam as escolas, preparam as merendas, estão no telemarketing, submetidas a empregadores que mais violam os seus direitos pagando cada vez menos e exigindo cada vez mais…
Um dia em que as empregadas domésticas, que demoraram anos para terem seus direitos trabalhistas reconhecidos, e agora, diante da reforma da previdência, vêem a aposentadoria como algo inalcançável, cruzassem seus braços…
Militantes da Uneafro-Brasil em manifestação pública

Talvez não alcancemos o todo da massa feminina brasileira já neste dia 8, mas está evidente a potência mobilizadora da luta das mulheres em todo o mundo. Nossas irmãs, que rompem com o silêncio, com relacionamentos abusivos e violentos, refazem a vida, reconstroem sua história, sua auto-estima, sua luta, e gritam para que não sejam mais um número de vítimas do feminicídio, estão em luta.
As mães negras, que choram a perda de seus filhos por conta da violência policial, verdadeiro genocídio da juventude preta, e ainda, as que enfrentam uma “via crucis” para que seu filho, companheiro, pai, irmão, sobrevivam apesar de um sistema penal seletivo que encarcera pretos de forma massiva, estão em luta.
Somos essas mulheres. Por todas elas e por todas nós, paramos.
Juntas, somos muitas. Juntas, venceremos!

Grupo de formação feminista negra da Uneafro-Brasil

*Rosângela Martins é advogada, feminista negra e coordenadora nacional do movimento Uneafro-Brasil

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