Funaro acusa advogado de Temer de fazer sondagem sobre delação
BRASÍLIA — O depoimento prestado pelo operador financeiro Lúcio
Bolonha Funaro à Polícia Federal no início deste mês pode criar
embaraços para Antônio Mariz, o principal advogado do presidente Michel
Temer. Durante o interrogatório, Funaro disse que o escritório de Mariz
foi o primeiro a fazer sondagem sobre o possível interesse dele em fazer
acordo de delação premiada. No período, investigadores da Operação
Lava-Jato já sabiam que uma eventual delação do operador teria potencial
para complicar a situação de Temer. Um dos principais cúmplices do
ex-deputado Eduardo Cunha, Funaro detém importantes informações sobre
estruturas de corrupção no governo federal e na movimentação financeira
de líderes do PMDB.
O
operador também estendeu a acusação ao escritório do advogado Daniel
Gerber, responsável pela defesa de Funaro logo depois de ter sido preso e
transferido para Brasília. "Também chamou a atenção do declarante o
monitoramento feito do seu estado de ânimo dos escritórios de advocacia
que o assessoraram. Primeiro o escritório o escritório do Mariz. Depois o
escritório de Daniel Gerber, que é ligado ao escritório Ferrão
(Eduardo), este próximo ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil)", disse
Funaro em interrogatório conduzido pelo delegado Marlon Oliveira Cajado
dos Santos, no dia 2 deste mês.
Foi o primeiro depoimento do operador desde que ele mudou de
estratégia e decidiu colaborar com as investigações com vistas a obter
um acordo de delação premiada. Funaro não esclareceu, no entanto, como
os dois escritórios fizeram o monitoramento dele. No período ele já
estava preso. Funaro também acusou o ex-ministro Geddel Vieira Lima, um
dos principais aliados de Temer, também de reforçar o grupo de
interessados em saber se ele iria ou não fazer delação. Geddel teria
ligado várias vezes para a mulher de Funaro com o objetivo de saber se o
ex-aliado iria mesmo colaborar com a Lava-Jato. Ainda no interrogatório, Funaro confirmou ter recebido pagamentos
mensais de Joesley Batista, um dos donos da JBS. Confirmou ainda que os
irmão Dante e Roberta Funaro receberam parte das mesadas desde que ele
foi preso, em junho do ano passado. Ele negou, no entanto, que os
pagamentos estivessem lastreados num acerto para que ele não fizesse
acordo de delação, como acusou Batista. O operador alega que tinha a JBS
devia a ele aproximadamente R$ 80 milhões relativos a negócios lícitos e
ilícitos. A divida estaria sendo paga gradativamente. "Que o declarante tinha um saldo credor com a J & F, decorrente
de ações lícitas e ilícitas, num montante de R$ 80 milhões em dezembro
de 2015", disse o operador. A J & F é controladora da JBS. Funaro
disse ainda que não houve nenhum acordo com Batista para que não fizesse
acordo de delação.
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