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7.28.2017

A esquerda e a nova fase do golpe






O país enfrenta uma grave crise. A economia vai de mal a pior. A indústria e o comércio em sérias dificuldades. O desemprego atingiu 14 milhões de trabalhadores. Houve uma queda de 6% de suas rendas.
O governo, no seu objetivo de liquidar com os direitos dos trabalhadores, enfrentou dificuldades para aprovar a reforma trabalhista. A reforma da previdência encontra maiores dificuldades e setores governamentais falam em adia-la, temendo as consequências eleitorais. Mas o empresariado pressiona por sua aprovação.

As denúncias de corrupção contra um grande número de Ministros e o Presidente ilegítimo mostram a verdadeira face do governo. Por outro lado Temer enfrenta a denúncia da Procuradoria Geral da República por corrupção passiva. Tentando impedir seu acatamento, compra deputados.
Como decorrência deste quadro criou-se um clima de indignação contra Temer e seu governo. Tanto assim que as pesquisas indicam que seu governo tem reprovação de 94% do povo brasileiro.
Em face de tudo isto cresce a indignação popular. O povo luta por seus direitos e quer decidir os rumos futuros do Brasil através de eleições presidenciais. Por isto mesmo a direita procura encontrar os caminhos de saída construindo alternativas, todas elas visando impedir que a esquerda retorne ao governo federal.
A primeira delas visa impedir que o ex-presidente Lula seja candidato. Foi com este objetivo que o juiz Sérgio Moro o condenou, sem provas. Esta alternativa encontra dificuldades porque além de depender do julgamento em segunda instância há a possibilidade de recurso ao Supremo Tribunal Federal para assegurar a candidatura do Ex-presidente, conforme garantido pela Lei da Ficha Limpa. Tudo isto, porém está condicionado a prazos o que pode inviabilizar mesmo que a condenação de Lula seja confirmada em todas as instâncias.
A segunda alternativa seria a realização de eleições com um Lula fragilizado politicamente. Esta posição foi defendida pelo prefeito de São Paulo, João Doria, e pelo presidente do Banco Itaú. Para esta alternativa contribuiria a condenação do Ex-presidente. A propaganda da direita procuraria denunciá-lo como criminoso condenado pela justiça. Diante dos altos índices de popularidade de Lula, também esta alternativa enfrenta dificuldades.
Mais recentemente surgiu uma nova alternativa: impedir a realização de eleições presidenciais diante da dificuldade de se colocar em prática as demais alternativas. A lógica neoliberal não admite um retorno às políticas de redistribuição de rendas e de afirmação da soberania do País. Todavia, também não é fácil esta alternativa, sobretudo em função da revolta da população com a atual política resultante do golpe.
A evolução dos acontecimentos é imprevisível. Estamos diante da possibilidade da consolidação do golpe com o aprofundamento de suas políticas de corte de diretos e de entrega do nosso patrimônio. Com este objetivo foi construída uma poderosa aliança de forças internas e internacionais.
A alternativa de impedirem a realização de eleições não pode ser descartada. O desenvolvimento capitalista, nas condições do neoliberalismo, alterou o perfil do estado e colocou a necessidade de novas formas de luta. Gramsci, analisando a luta política nas condições da sociedade burguesa moderna, demonstrou a necessidade da construção de uma contra hegemonia para assegurar a vitória política.
Nos dias de hoje o objetivo da conquista da hegemonia tornou-se mais complexa em função do papel jogado pela mídia, pelo sequestro da maioria da representação política, do judiciário e do ministério público pelo poder econômico. Se isto não bastasse impuseram uma verdadeira subversão das constituições e das leis. Este fenômeno tem sido descrito por destacados juristas europeus que afirmam estar havendo uma superposição do que chamam de constituições informais, aquelas que atendem aos interesses do capital financeiro, sobre as constituições formais aprovadas democraticamente. No Brasil o golpe foi dado sob a falsa alegação de fundamento constitucional.
Este cenário coloca diante da esquerda e do povo brasileiro a importância da continuidade da luta contra as reformas e pelo Fora Temer. A união de importantes setores de esquerda e dos trabalhadores assegurou a realização de grandes mobilizações de rua. Tal aliança deve ter continuidade.
Todavia a nova etapa do golpe, que está sendo urdida, exige uma aliança que ultrapasse em muito a esquerda e os segmentos politizados da sociedade. É essencial que atinja segmentos menos politizados e mesmo despolitizados conquistados pelo falso combate à corrupção, orientado contra a esquerda. E, sobretudo, contra seu projeto de Nação.
Trata-se, portanto de reconquistar a hegemonia política e de ideias junto ao povo brasileiro. E não basta a luta política. Nas novas condições da luta é fundamental a luta de ideias que tem faltado à esquerda. Não se trata de uma tarefa fácil. Mas é a única alternativa possível para a retomada da iniciativa política.
Esta saída passa necessariamente pela construção de uma ampla frente política que inclua os segmentos democráticos e nacionalistas, com protagonismo destacado dos trabalhadores, setores médios da população, segmentos religiosos e do que resta de mídia democrática.
Esta aliança deverá estar alicerçada em um programa que desperte o entusiasmo do povo. Para isto é de muito importante que tal programa reafirme as conquistas obtidas e proponha outras, fruto de uma análise dos erros e debilidades das experiências no governo federal.
A construção de um núcleo de esquerda, com afinidade tática e estratégica, poderá exercer importante papel para o êxito desta nova fase de lutas. No curto prazo coloca-se a luta em defesa das eleições diretas para a Presidência da República.
A hora não é de pessimismo, mas de luta. De trabalho visando reconquistar a hegemonia política e de ideias na sociedade para retomar o caminho civilizatório que o povo brasileiro vinha trilhando
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Aldo Arantes

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