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11.20.2017

Lula começa a desmascarar o mercado




REUTERS/Paulo Whitaker

O ex-presidente Lula vinha evitando confrontar-se com o chamado mercado, que ensaia uma reedição do “risco Lula” com que tentou evitar sua vitória em 2002 e chega a considerar Bolsonaro como opção presidencial, na falta de um candidato neoliberal competitivo.  Na entrevista ao Le Monde, Lula criticou pela primeira vez  os movimentos do mercado contra sua candidatura, que produzem alta do dólar e queda nas bolsas a cada pesquisa indicando seu favoritismo.
–  Essa preocupação dos mercados é ridícula e hipócrita. Os mercados não têm medo de Lula porque eles já viveram em um país governado por Lula e foi um dos melhores momentos para a economia" – disse Lula ao Le Monde, complementado:
– O que amedronta eles é que eu não vou deixar vender o patrimônio. Nós não vamos vender a Amazônia, não vamos vender a Petrobras, a Eletrobras ou os bancos públicos. E os mercados sabem que nós vamos privilegiar a produção à especulação".
         Lula poderia ter refrescado a memória dos agentes do mercado apontando alguns resultados de seu governo. Não o fez na entrevista mas certamente haverá o momento de retirar dos arquivos as estatísticas econômicas e sociais sobre o período 2002-2010.
         Quando assumiu a Presidência, em primeiro de janeiro de 2003, o desafio imediato do Governo Lula era baixar uma inflação que havia atingido 12,4% no último ano de FHC, 2002.  A dívida líquida do setor público alcançava elevados 51,3% do PIB. Era preciso sanear as contas públicas.  As reservas internacionais somavam apenas US$ 37,8 bilhões, valor que poderia ser ainda menor não fosse  um empréstimo de US$ 20,8 bilhões concedidos meses antes pelo FMI.
         Empossado, Lula deu início ao ajuste fiscal de 2003, com Palocci no Ministério da Fazenda, começando pela elevação do superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB.  Os juros subiram, para controlar a inflação, de 25% para 26,3% mas em dezembro já haviam caído para 16,5%.  Foi um ano de baixo investimento e contenção de despesas mas o ajuste produziu os resultados esperados, criando condições para a retomada do crescimento a partir de 2004. Um conjunto de resultados econômicos exuberantes foi alcançado ao longo dos sete anos seguintes, garantindo pela primeira vez ao Brasil o cobiçado “investment grade”.
         Para refrescar a memória do mercado, vale recordar alguns destes resultados.
1) A inflação, que Lula pegou em 12,5%, ficaria sempre dentro da meta, fechando o ano de 2010 em 5,9%.
2) O crescimento médio do PIB foi de 4%, destacando-se o resultado espetacular de 2010, quando alcançou 7,5%.
3) Em janeiro de 2003 a dívida pública mobiliária total (líquida) era de 60,3% do PIB, índice que recuou para 41,3% do PIB no final de 2010.
4) Lula quitou a dívida externa do Brasil com o FMI e com o Clube de Paris e pela primeira vez, em seu governo, o Brasil emprestou dinheiro ao Fundo (US$ 10 bilhões).
5) Nos oito anos da Era Lula, as reservas cambiais  saltaram de US$ 37,7 bilhões para R$ 370 bilhões, graças ao “boom” das exportações,  resultado do crescimento e de uma política externa ativa que buscou novos mercados e ampliou a inserção internacional do Brasil.
6) Em janeiro de 2003 a taxa de desemprego  era de 11,3%. Em outubro de 2010 a taxa alcançou 6,1%, menor patamar registrado pela série histórica. Foram gerados no período mais de 20 milhões de empregos graças ao forte crescimento.
7) O notável desempenho da economia garantiu ao Brasil, pela primeira vez, o selo de país com “investment grade”.
8) A taxa interna de investimento, nos oito anos de Lula, passou de  16,4% do PIB em 2003 para 19,5% em 2010.
9) O mercado não se interessa por resultados socais mas vale recordar que a  taxa de extrema pobreza  foi reduzida de 11,49% em 2005 para 7,28% em 2010, com a ascensão de 30 milhões de famílias à classe média.
10) Para completar esta síntese, nos oito anos em que Lula governou o Brasil, as ações em Bolsa de Valores tiveram uma valorização média de 503%.
Hoje, como candidato, Lula não tem nem Palocci nem Guido Mantega a seu lado. O economista mais próximo dele é Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.  Além de apontar a hipocrisia do mercado, ele precisa começar a refrescar a memória dos que começam a fazer terrorismo com seu favoritismo. Mas Lula colocou o dedo na ferida. O que eles temem não é uma política econômica “populista” ou irresponsável. O que eles sabem é que Lula não se entregará à fúria privatizante de Temer, que faz a alegria do mercado e do capital internacional.

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