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12.01.2017

Seis coisas que você não deve dizer a uma pessoa com câncer

Tentar impor uma atitude positiva ao paciente, relativizar a doença ou fazer drama, em vez de ajudar, só pioram seu estado de espírito

 A atriz Shannen Doherty com sua mãe depois de receber recentemente um prêmio da Sociedade Americana do Câncer, por sua coragem diante da doença.
A atriz Shannen Doherty com sua mãe depois de receber recentemente um prêmio da Sociedade Americana do Câncer, por sua coragem diante da doença.
Há palavras que continuam assustando, uma delas, sem dúvida, é a palavra câncer. Porque, mesmo com os tratamentos mais personalizados de hoje e melhores prognósticos, a verdade é que o momento em que recebemos o diagnóstico representa um antes e um depois. Tanto para nós quanto para as pessoas de nosso entorno.

A Associação Espanhola Contra o Câncer (AECC) afirma que “o câncer continua sendo a doença mais temida. É verdade que, nos últimos anos, temos avançado muito na normalização desta palavra, devido às campanhas específicas e depoimentos de pessoas conhecidas que falaram abertamente sobre a doença, mas ainda temos um caminho a percorrer. Em qualquer caso, o objetivo não deveria ser perder o medo do câncer, mas falar do câncer com naturalidade”.
Miguel Rojas, psico-oncologista do Grupo Espanhol de Pacientes com Câncer (GEPAC), acrescenta que outra dificuldade é a falta de informação sobre a doença entre a população. “Embora o câncer seja cada vez mais associado a uma doença crônica, ainda é visto como uma doença terminal, independentemente do tipo.” Da mesma forma, o especialista afirma que, embora haja uma importante conscientização no caso do câncer de mama, por exemplo, em outros casos, como um câncer hematológico, “há um grande desconhecimento sobre os sintomas da doença”. Segundo a AECC, existem conceitos que nunca ficam claros “como a diferença entre grau e estágio [da doença]; o que é uma metástase; como os tratamentos são conduzidos e com que propósito; qual a diferença entre diagnóstico e prognóstico etc.”.

O impacto psicológico

Diante desse contexto, um dos principais desafios é, certamente, minimizar o impacto psicológico da doença sobre o paciente. Como destacado pela AECC, “o apoio psicológico pode ser muito benéfico desde o primeiro momento”, e, embora ambas as associações disponham de serviços de apoio psico-oncológico, lembram que grande parte do apoio virá do ambiente social e familiar.
Embora todos estejamos dispostos a ajudar em um momento como este, nem sempre o fazemos da maneira mais adequada. Portanto, especialistas resumem algumas das frases que devem ser evitadas quando alguém nos diz que foi diagnosticado com câncer:

1. “Não se preocupe, não vai acontecer nada”: O GEPAC afirma que naturalizar não é sinônimo de relativizar, afinal, “um diagnóstico de câncer é uma das situações mais difíceis, estressantes e que mais assustam nossa sociedade. Poucas doenças causam tantos problemas que afetam nos níveis cognitivo e emocional”. Não esqueçamos que ainda que hoje em dia, com os exames, diagnóstico precoce e novos tratamentos, os prognósticos sejam mais favoráveis, existem fatores como “sua cronicidade, a incerteza sobre sua evolução, efeitos colaterais dos tratamentos e conotação social da palavra câncer que geram mal-estar psicológico” .

2. “Você tem que aceitar receber ajuda”: Muitas vezes, tentando ajudar, o que fazemos é nos tornar superprotetores e nos empenhamos para criar necessidades que essa pessoa, talvez, nem tenha. Frases do tipo: “Você tem que falar com alguém”; “tem que desabafar”; “você tem que parar de trabalhar; “você tem que pedir ajuda”; ou qualquer outra que comece com “você tem que...”, segundo a AECC, “só geram insegurança no paciente. A ajuda deve ser oferecida, não imposta. Quando uma pessoa é diagnosticada com câncer, não se transforma em outra pessoa, continua sendo ela, com sua capacidade de pensar, de tomar decisões e saber o que quer e o que não quer fazer”.

3. "Se você for positivo, vai se curar": É uma das frases destacadas pelo GEPAC, porque, além de não ser correta, pode gerar uma grande frustração. Ser diagnosticado com câncer não é uma notícia positiva, e, claro, o paciente, como qualquer outra pessoa em qualquer outra circunstância da vida, terá momentos melhores e piores. “Existe uma tendência muito enraizada de pensar que a atitude que o paciente tenha durante a doença irá determinar o progresso da mesma. Portanto, é muito normal que os pacientes ouçam frases como: “Você tem que ser forte e lutar”; “você tem que ser positivo”; sua atitude faz parte da cura”; “você vai ver como tudo vai correr bem, mas depende de você”; “se estiver desanimado, a doença perceberá isso” etc., destaca a AECC. Tais comentários geram uma enorme pressão sobre o paciente, que não consegue estar sempre feliz e positivo, já que o “normal é ter medo, tristeza, raiva e desesperança, de modo que a imposição do positivismo só gera um sentimento adicional de culpa”.

4. “É a pior coisa que poderia acontecer com você”: Embora seja conveniente entender que a pessoa possa ter seus altos e baixos, o que certamente não ajuda é contribuir com nossa negatividade em seus maus momentos. “Há pessoas que confundem drama com empatia e pensam que o paciente se sente acompanhado e compreendido diante de expressões como: “Que horror passar por isso”’; “é a pior coisa que poderia acontecer com você”; “o câncer, já se sabe...”; “sua família deve estar arrasada”... Tais afirmações aumentam o medo que o paciente tem da doença e intensificam seus níveis de angústia”, afirma a AECC. O GEPAC recomenda, em vez disso, melhorar a comunicação com “ferramentas para conviver com a doença”.

5. “Não diga isso”: Muitas vezes, sem perceber, impomos à outra pessoa o que ela deve dizer, pensar ou mesmo sentir, o que a AECC explica como sendo uma “imposição de emoções que o paciente não sente e a recusa em permitir que expresse o que realmente sente”. Assim, surgem expressões como “não chore, você tem que ver a parte boa”; '”não diga isso, porque sua família tem de vê-lo bem; “você tem que estar feliz, porque foi diagnosticado a tempo”. Na opinião da AECC, “essas expressões levam o paciente a lidar com suas emoções na solidão, quando o que realmente precisa é de alguém para dizer “fale como se sente” e que não lhe interrompa, e sim valide suas emoções, sem tentar negá-las ou mudá-las.

6. “Aconteceu o mesmo com minha tia”: Hoje em dia, é difícil não ter alguém próximo que tenha tido a doença, mas nem todos os tipos de câncer são iguais, e as pessoas não o experimentam da mesma maneira. “Comparar a situação do paciente com a de outras pode ser muito contraproducente, uma vez que cada caso é completamente diferente. O paciente sabe disso e não é capaz de se identificar com outros casos.” Além disso, o GEPAC também recomenda evitar frases como “tal pessoa é fenomenal”; há um artigo muito bom que diz...”; “li que há um novo tratamento que cura o câncer...”, porque podem gerar expectativas que não estão relacionadas com a doença concreta do paciente

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