Saiba as vantagens e desvantagens de interromper a menstruação
Cada vez mais mulheres optam por interromper a menstruação. Veja o que os médicos dizem sobre essa decisão
Parar de menstruar pode ser positivo para pacientes que sofrem de cólicas muito intensas
Foto: Getty Images
Hoje, muitas mulheres estão optando por interromper a menstruação.
Segundo um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas, no
interior paulista, 32,5% das mulheres gostariam de nunca mais menstruar e
40% sonham com uma simples trégua, ficando mais de um mês sem sangrar.
“Essa não é uma tendência exatamente nova, mas agora a mulher se sente
com mais liberdade de escolha”, diz a psiquiatra Carmita Abdo, que é
coordenadora do Instituto ProSex, do Hospital das Clínicas de São Paulo.Foto: Getty Images
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Saiba como usar a pílula do dia seguinte corretamente
O assunto rende debates entre amigas e gera opiniões diferentes entre os próprios médicos. “Há dez anos, eu diria que suprimir a menstruação era ir contra um processo natural. Hoje, porém, os métodos estão bem mais seguros”, afirma o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo.
Afinal, menstruar pra quê?
A gente conhece esta história: todos os meses, o corpo da mulher se prepara para engravidar e, quando isso não acontece, o óvulo amadurecido é liberado junto com parte do endométrio, a parede uterina. Isso é um sinal de que o organismo feminino está saudável e que os hormônios estão cumprindo direito o seu papel. Ponto.Para interromper o ciclo, os especialistas indicam anticoncepcionais já conhecidos. “A diferença é que a mulher continua utilizando o método sem os intervalos geralmente recomendados”, explica o ginecologista Jarbas Magalhães, secretário da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
A maioria desses contraceptivos age de forma semelhante: trata-se de moléculas artificiais que agem como o estrogênio e o progestagênio, dois hormônios produzidos durante o ciclo menstrual. Ao simular essas duas substâncias, o remédio encena a fecundação que não ocorre. “O sangramento que as mulheres têm no intervalo da pílula é fruto apenas da falta do hormônio, e não uma menstruação legítima”, esclarece a ginecologista Lucila Pires Evangelista, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Existem várias alternativas para deixar de menstruar, mas alguns médicos são contra qualquer uma delas em mulheres jovens e saudáveis. “Embora esses hormônios pareçam seguros, ainda não conhecemos os efeitos no corpo a longo prazo”, argumenta o ginecologista Flávio Zucchi, do Hospital Santa Catarina, em São Paulo.
A turma de jaleco só concorda em um ponto: para algumas mulheres, parar de menstruar é essencial. “Indico para pacientes que sofrem com cólicas muito intensas e endometriose, quando o tecido que reveste o útero cresce demais”, completa Zucchi.
Sem o sangramento periódico, a tensão pré-menstrual, a famosa TPM, é outra chateação que dá adeus – pelo menos temporariamente. “Em alguns casos graves, em que a sensibilidade fica muito exacerbada, a supressão da menstruação pode ser mais uma arma contra a TPM, mas não podemos fazer dela o único recurso possível”, opina o psiquiatra Alexandre Saadeh, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Antes de tomar qualquer decisão, o mais importante é conversar com seu ginecologista. “É preciso avaliar o seu histórico e realizar uma bateria de exames, como o ultrassom transvaginal”, recomenda o ginecologista Waldemir Rezende, do Hospital Santa Catarina. A supressão é – ou deveria ser – descartada para obesas, hipertensas e diabéticas descompensadas.
Depois de iniciado o tratamento, é importante ficar de olho no comportamento do organismo. “Até mesmo bons médicos se equivocam na escolha do método, e só o acompanhamento vai revelar se a opção foi certeira”, diz César Eduardo Fernandes.
E a fertilidade?
Os efeitos de todos os anticoncepcionais são reversíveis. “Geralmente, indicamos que a paciente deixe de usar esses métodos três meses antes da fase em que deseja engravidar para que o útero, que estava descansando, se prepare para a gestação”, explica Flávio Zucchi. Esse período de recuperação do sistema reprodutor varia de acordo com o tempo de ação de cada contraceptivo, que pode chegar a até 18 meses, no caso da injeção trimestral. Para Renate Michel, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba, a decisão de menstruar ou não precisa ser algo muito refletido. “A mulher deve se perguntar o real motivo desse desejo e decidir de maneira consciente”, finaliza Renate.Qual método eu posso usar?
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Não impede a menstruação, exceto quando a mulher não segue o período de uma semana de descanso.
Anel vaginal
É inserido pela própria mulher e dura 21 dias. Até três anéis consecutivos podem ser usados, resultando num período de 60 dias sem menstruar.
Injeção
Dura três meses, e 60% das mulheres que a utilizam não menstruam nesse período. Pode causar retenção de líquidos.
Implante
Trata-se de uma espécie de bastonete recheado de hormônios e que é inserido no braço. Tem validade de três anos, mas pode causar sangramentos indesejados.
Diu hormonal
O dispositivo intrauterino libera uma pequena dose hormonal todos os dias por cinco anos. Não impede a menstruação, mas diminui muito o fluxo.
Pílula
Para não menstruar, deve ser tomada sem o intervalo habitual e com alterações na carga dos hormônios.
Tire sete dúvidas relacionadas à suspensão da menstruação
Emendar a cartela de pílulas anticoncepcionais e injeções hormonais estão entre os métodos
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Ao longo da história, as mulheres já conquistaram
muitas coisas. O direito ao voto, ao estudo, ao prazer e, recentemente,
algumas delas tem descoberto outro: o de não menstruar. Tida como
difícil e dolorosa para uma parcela das mulheres, a suspensão deste
período pode significar alívio e até mesmo o tratamento males da saúde
feminina, como miomas e cistos de ovário.
A medida divide opiniões. Há mulheres se sentem mais femininas durante a menstruação.
Também há profissionais que alegam que a menstruação pode ser um bom
canal para saber como está a saúde feminina, já que o sangramento
irregular pode significar problemas nas glândulas tireoide e
suprarrenal.
Hoje, segundo o ginecologista Rogério Bonassi
Machado, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia) não vê prejuízos orgânicos em suspender a menstruação.
No entanto, vale ressaltar que não existe a necessidade de bloqueá-la em
todos os casos, cabendo à mulher e ao seu ginecologista de confiança a
livre escolha, independente do critério utilizado para a decisão.
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Para esclarecer as muitas dúvidas que rondam o
processo de suspensão da menstruação, chamamos os ginecologistas Ângela
Maggio da Fonseca, do Hospital das Clínicas da USP, Antônio Júlio Sales
Barbosa, do Hospital Santa Catarina, Carolina Abrogini, da Unifesp, e
Rogério Bonassi Machado, ginecologista e presidente da comissão de
anticoncepção da Febrasgo.
1. Qualquer mulher pode suspender a menstruação?
Qualquer mulher que se sente incomodada com a
menstruação, de alguma forma, pode procurar o seu ginecologista e expor
seu desejo. "Tem pacientes com menstruação muito desconfortável, que
sangram muito, têm muita cólica [a chamada dismenorreia], TPM forte.
Para elas, por que não? Minimiza muito esses desconfortos e sintomas",
diz Antônio, entusiasta.
Outras podem, ainda, ter anemias. Com o fluxo
intenso, nem sempre elas conseguem repor o sangue perdido até o próximo
ciclo. Nesses casos, a sugestão pode vir do próprio médico e, se não
vier, a paciente tem o direito de conversar com o ele sobre o assunto,
lembra Ângela.
Até mesmo quem acabou de ter filhos
pode dar tchau para os sangramentos. Por causa da grande quantidade de
progesterona, mulheres que estão amamentando ficam, naturalmente, com o
seu período suspenso. Antônio conta que esse pode ser um dos períodos
mais propícios para suspender a menstruação, já que a mulher,
naturalmente, não menstrua nessa época. Com uma pílula a base de
progesterona, a mulher prolonga o período sem sangramento.
No entanto, algumas devem tomar cuidado. Mulheres
com problemas de coagulação, por exemplo, devem ter cuidado com a
pílula, que pode agravar os problemas de circulação. Quem tem pouco
fluxo de menstruação também deve repensar. "O hormônio já está inibindo
demais o endométrio [membrana que reveste o útero], então o ideal é não
interromper a menstruação", aconselha Ângela.
2. Há restrição de idade?
A idade varia muito, mas, segundo Barbosa, a partir
do momento em que a moça já faz uso de anticoncepcionais por via oral,
já é possível parar a menstruação. Ângela acrescenta, dizendo que é
aconselhado que apenas utilize os métodos aquelas que já estão com seu
sistema reprodutor amadurecido, o que acontece, geralmente, após a
puberdade. É importante frisar que, antes de iniciar qualquer método
contraceptivo, o ginecologista deve ser procurado para indicar o mais
adequado, caso o corpo da adolescente esteja pronto.
3. Quem tem mioma, endometriose ou cisto no ovário pode se beneficiar com a suspensão?
Não só pode, como o tratamento dessas doenças,
muitas vezesm envolve a suspensão da menstruação. No caso do mioma, onde
há problemas de sangramento intenso, pode-se utilizar a pílula anticoncepcional sem pausas. Atenção: para o tratamento dessa doença, a pílula
não pode ser de hormônios combinados (estrogênio e progesterona), mas
só de progesterona, já que o mioma é uma condição que depende de
estrogênio para sobreviver. Quando ele é muito grande, também se usam
injeções de análogos.
Mulheres portadoras de endometriose podem usar
pílulas que combinam os hormônios femininos, assim como injeção. A
ginecologista Carolina Ambrogini, da Unifesp, explica que a endometriose
é uma condição onde o endométrio da mulher se encontra fora de seu
útero, podendo estar na tuba uterina e até no intestino. Quando o
endométrio descama (ou seja, o processo da menstruação), a mulher sente
dor. Por isso a interrupção representa uma alternativa para a portadora
dessa doença.
Para aquelas que têm cistos no ovário, diz Ângela, o
cisto murcha e pode até sumir com o tratamento com base na suspensão da
menstruação. Lembrando sempre que o processo deve ser acompanhado de
perto pelo seu ginecologista de confiança.
4. Quais são os métodos disponíveis para realizar a suspensão?
Em geral, eles funcionam de maneira parecida. A
administração contínua de hormônios - alguns apenas de progesterona,
outros com a combinação dele com o estrogênio - interrompe a
menstruação, que só virá caso haja pausa do método. Para decidir qual é o
melhor para você, consulte o seu médico. Juntos, vocês decidirão qual
melhor se encaixa em seu perfil. Conheça os métodos disponíveis:
- Pílulas anticoncepcionais sem interrupção: é
o método mais barato de todos, mas seu uso, assim como os demais,
depende do acompanhamento médico. Para suspender a menstruação, você
pode usar tanto pílulas comuns quanto especiais - a escolha dependerá de
como o seu organismo reage a cada opção. Por isso, mais uma vez, a
presença de um médico de sua confiança é fundamental. Esse método, como
já dito, não pode ser utilizado por mulheres com problemas de
coagulação, alerta a ginecologista do HC, já que as pílulas podem levar à
trombose.
"Há pessoas que acham que é preciso fazer a pausa a
cada três meses. Isso não existe", defende Barbosa, que explica que, na
verdade, o sangramento da pausa da pílula é meramente artificial. O
sangramento só acontece porque, enquanto a mulher recebe a carga
hormonal vinda da pílula, o endométrio vai se espessando. Quando há a
retirada dos hormônios (estrogênio e progesterona), há o descamamento do
endométrio e, logo, o sangramento. Mas isso é um processo artificial,
já que o hormônio vem da pílula.
Ao contrário do que pode se pensar, o endométrio
não continuará se espessando com o tempo de uso do método hormonal.
Segundo Carolina Ambrogini, a progesterona acabará atrofiando o
endométrio, e a única consequência disso é a diminuição do fluxo
menstrual.
Assim, conclui Antônio Júlio Sales Barbosa, para
uma mulher que já faz uso de anticoncepcionais por via oral, não há
grandes alterações em simplesmente deixar a pausa de lado.
- Injeção: esse
método consiste em injeções mensais ou trimestrais de análogos dos
hormônios liberadores de gonadotrofinas (que são hormônios que estimulam
a produção de estrógeno, progesterona e testosterona). As aplicações
inibem demais a produção de hormônios e, como efeito colateral, podem
diminuir a massa óssea. Por isso, Ângela não aconselha que sejam
utilizadas por muito tempo e lembra que não é o método mais indicado
para mulheres jovens. No entanto, é frequentemente usado no tratamento
de miomas, cistos de ovário e endometriose. Seu preço varia de 400 a 500
reais.
- Implantes subcutâneos: é
colocado um pequeno implante no antebraço, próximo ao cotovelo - região
com pouca irrigação sanguínea. Ele libera quantidades de hormônio
continuamente, durante três anos. Após esse período, lembra Barbosa,
deve ser trocado. O procedimento é feito em consultório com anestesia
local. Suas contraindicações são as mesmas de qualquer outro método
contraceptivo hormonal, que incluem tabagismo e problemas de coagulação.
- DIU com progestógenos: o DIU, assim como o
implante subcutâneo, libera doses contínuas de hormônios, mas durante
cinco anos. Em geral, é colocado em consultório, mas, da mesma forma que
o DIU de cobre (que tem apenas ação espermicida), o procedimento pode
ser um pouco doloroso. "Em algumas pacientes mais sensíveis a dor, pode
ser necessário colocar em hospital, com anestesia, mas a maioria
suporta", explica o ginecologista do Hospital Santa Catarina. Depois dos
cinco anos, completa Ângela, o DIU é retirado e, após a realização de
alguns exames, colocado novamente, se a paciente desejar. No entanto,
esse é um procedimento mais caro: em média, varia de 1500 a 2000 reais.
ginecologista Rogério Bonassi Machado também lembra
que esse método não é tão indicado para mulheres com mioma no útero e
infecções uterinas, já que o DIU poderá agravar os casos de infecção e,
no caso de algum mioma, é tecnicamente impossível colocá-lo. Mas, mais
uma vez, a avaliação médica é necessária para determinar a viabilidade
do método.
- Ablação do endométrio:
indicada para mulheres já próximas da menopausa e com prole
constituída, que possuem hemorragias de causa indefinida. Essa técnica
remove por completo o endométrio, o que elimina, de vez, a menstruação.
Apenas o médico pode recomendar a ablação do endométrio, já que seus
efeitos são irreversíveis: a mulher que é submetida a esse método não
poderá mais engravidar.
5. Esses métodos são seguros?
Embora não ofereçam riscos à saúde, a garantia de
que a menstruação será suspensa não existe, independente do método
escolhido. "Existe uma margem de 10 a 15% de mulheres que não conseguem
se adaptar e, mesmo usando algum método, continuam menstruando", explica
Barbosa, que lembra que existem os chamados "spots", menstruações
ocasionais que podem acontecer.
Além disso, no caso do uso da pílula, o sucesso depende da disciplina da
paciente. "A paciente com problema é a que toma cada dia em um horário
ou esquece de tomar. A pílula pode falhar quando não existe controle",
comenta Ângela.
6. Quais são os possíveis efeitos colaterais?
O uso de alguns métodos implica em efeitos
colaterais, como é o caso da pílula. Para quem já está acostumada com
ela, são os mesmos possíveis incômodos: retenção de líquido,
possibilidade de aumento de peso e da oleosidade da pele, espinhas,
diminuição da libido etc. Esses três últimos efeitos, explica o
ginecologista do Hospital Santa Catarina, estão relacionados aos efeitos
androgênicos dos hormônios masculinos, que podem se manifestar com
algumas pílulas.
A boa notícia é que, hoje, há muitas pílulas
disponíveis no mercado. A ginecologista do Hospital das Clínicas conta
que, quando uma apresenta tais efeitos na paciente, o médico faz a
mudança, trocando para alguma que, por exemplo, tenha efeitos
antiandrogênio, para combate às espinhas, ou com progestógeno mais
diurético, caso a paciente engorde muito. Mas tudo isso depende do
acompanhamento profissional.
Há especialistas que associam a inserção de
hormônios femininos vindo destes métodos e o aumento da possibilidade de
câncer. Barbosa garante que não há relação comprovada entre o uso de
anticoncepcionais e câncer. No entanto, alguns estudos já mostram a
relação do câncer de mama com o aumento de estrogênio. "Mas isso é um fator isolado, só para quem tem predisposição genética", afirma o profissional.
7. Quem resolve parar de menstruar
pode, mais tarde, ser mãe?
Sim. O uso de métodos contraceptivos serve para, justamente, bloquear a
ovulação. Isso acontece porque eles deixam o ovário em repouso, sem
ovular, o que impede a gravidez. Assim, quando o método é suspenso, o
ovário retorna a seu trabalho, que é ovular.
Quando uma mulher usa algum método anticoncepcional por muito
tempo, seu ovário fica um longo período em repouso. Para que ele volte
ao normal, estima a dupla de especialistas, é necessário de dois a
quatro meses. "Pode haver a dificuldade em alguns casos raros, mas com
tratamento à base de hormônios ou indução de ovulação, se resolve",
arremata Ângela, que lembra que, geralmente, as que não tiveram
problemas na suspensão não terão problemas posteriores de ovulação.
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