Foi um pequeno desastre de seis minutos o discurso de estreia de Jair Bolsonaro em eventos internacionais, ao abrir nesta terça-feira a sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça; não há precedente de um presidente brasileiro antes dele ter apresentado um discurso tão superficial e recheado de fake news como o de Bolsonaro; a estreia ainda foi ofuscada pela prisão na manhã desta terça de milicianos ligados a seu clã no Rio de Janeiro, com suspeita de estarem envolvidos no assassinato de Marielle Franco
22 DE JANEIRO DE 2019247 - Foi um pequeno desastre de seis minutos o discurso de estreia de Jair Bolsonaro em eventos internacionais, ao abrir nesta terça-feira (22) a sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Não há precedente de um presidente brasileiro antes dele ter apresentado um discurso tão superficial e recheado de fake news como o de Bolsonaro. A estreia ainda foi ofuscada pela prisão na manhã desta terça de milicianos ligados a seu clã no Rio de Janeiro, com suspeita de estarem envolvidos no assassinato de Marielle Franco (aqui).
Bolsonaro tentou apresentar ao mundo a versão de que teria sido eleito "sendo injustamente atacado a todo tempo", quando teve o apoio unânime de toda a imprensa conservadora do país e um esquema monumental nas redes sociais, financiado ilegalmente por um grupo de empresas.
A seguir, afirmou: "Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados". A frase, além de ser uma agressão gratuita a todos os presidentes que o antecederam é chocante, pois há estupefação internacional com a desqualificação do ministério Bolsonaro.
Envolvido em seguidos escândalos que envolvem seu clã e são registrados pela imprensa internacional, Bolsonaro afirmou que ele e seu governo "Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós" -uma referência às reformas iniciadas por Temer e que pretender desmontar o Estado brasileiro colocando-o a serviço dos grandes grupos internacionais. Mais adiante, ao afirma que o país tem "riquezas minerais abundantes", sinalizou que elas continuarão a ser entregues ao apetite dos mesmos grupos.
Bolsonaro vendeu Sérgio Moro como um trunfo de seu governo como "homem certo como combate à corrupção" -pouco antes, numa mesa do Fórum, Moro recusou-se a responder sobre os escândalos que envolvem o clã Bolsonaro.
Num dos momentos mais patéticos do discurso, o presidente afirmou que "nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir" -o chanceler atual está implementando uma política externa de viés ideológico de extrema direita que está isolando o país e abalando a imagem e a inserção global do Brasil.
Ao fim, Bolsonaro reafirmou o ideário conservador-fundamentalista, dizendo-se defensor da família, da propriedade privada e arrematando com seu bordão, "Deus acima de tudo".
Veja abaixo a íntegra do discurso:
"Boa tarde a todos!
Muito obrigado, professor Schwab!
Agradeço, antes de mais nada, o convite para participar deste fórum e a oportunidade de falar a um público tão distinto.
Agradeço também a honra de me dirigir aos senhores já na abertura desta sessão plenária.
Esta é a primeira viagem internacional que realizo após minha eleição, prova da importância que atribuo às pautas que este fórum tem promovido e priorizado.
Esta viagem também é para mim uma grande oportunidade de mostrar para o mundo o momento único em que vivemos em meu país e para apresentar a todos o novo Brasil que estamos construindo.
Nas eleições, gastando menos de 1 milhão de dólares e com 8 segundos de tempo de televisão, sendo injustamente atacado a todo tempo, conseguimos a vitória.
Assumi o Brasil em uma profunda crise ética, moral e econômica.
Temos o compromisso de mudar nossa história.
Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados. Honrando o compromisso de campanha, não aceitando ingerências político-partidárias que, no passado, apenas geraram ineficiência do Estado e corrupção.
Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós.
Aqui entre nós, meu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o homem certo para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro.
Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos primeiros países em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo. Conheçam a nossa Amazônia, nossas praias, nossas cidades e nosso Pantanal. O Brasil é um paraíso, mas ainda é pouco conhecido!
Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo.
Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis.
Os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que aprender conosco.
Queremos governar pelo exemplo e que o mundo restabeleça a confiança que sempre teve em nós.
Vamos diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos.
Trabalharemos pela estabilidade macroeconômica, respeitando os contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas.
O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional, e mudar essa condição é um dos maiores compromissos deste Governo.
Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios.
Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir.
Para isso, buscaremos integrar o Brasil ao mundo, por meio da incorporação das melhores práticas internacionais, como aquelas que são adotadas e promovidas pela OCDE.
Buscaremos integrar o Brasil ao mundo também por meio de uma defesa ativa da reforma da OMC, com a finalidade de eliminar práticas desleais de comércio e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais.
Vamos resgatar nossos valores e abrir nossa economia.
Vamos defender a família e os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria.
Estamos aqui porque queremos, além de aprofundar nossos laços de amizade, aprofundar nossas relações comerciais.
Temos a maior biodiversidade do mundo e nossas riquezas minerais são abundantes. Queremos parceiros com tecnologia para que esse casamento se traduza em progresso e desenvolvimento para todos.
Nossas ações, tenham certeza, os atrairão para grandes negócios, não só para o bem do Brasil, mas também para o de todo o mundo.
Estamos de braços abertos. Quero mais que um Brasil grande, quero um mundo de paz, liberdade e democracia.
Tendo como lema "Deus acima de tudo", acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.
Muito obrigado."
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