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4.29.2019

Folha cortou pronunciamento que Lula fez antes da entrevista. Assista ao vídeo


“Eu sei muito bem o lugar que a história nos reserva, meus 
companheiros e companheiras. E sei também quem estará na
 lixeira dos tempos, quando o povo vencer mais essa batalha”,
 diz um dos trechos da mensagem do ex-presidente
Foto: Reprodução
O vídeo divulgado neste sábado (27) pela Folha de S.Paulo
 como sendo a íntegra da entrevista concedida por Lula aos
 jornalistas Florestan Fernandes Júnior e Mônica Bergamo,
 do El País e da Folha, na última sexta-feira (26), na verdade,
 não mostrava a introdução gravada pelo ex-presidente.
Lula fala que vai fazer um pronunciamento antes das perguntas.
 Esta parte foi cortada. A Fórum mostra, de fato, a íntegra 
do vídeo, filmado pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, que 
acompanha o ex-presidente há anos.
Acompanhem a íntegra do pronunciamento de Lula
 antes da entrevista:
Minha condenação injusta e minha prisão ilegal há mais
 de um ano são mais que o resultado de uma farsa jurídica.
 São consequências diretas do fracasso social, econômico
 e político do golpe do impeachment contra a presidenta 
Dilma Rousseff em 2016.
Aquele golpe começou a ser preparado em 2013, quando
 a Rede Globo de Televisão usou sua concessão pública
 para convocar manifestações de rua contra o governo 
e até contra o sistema democrático. Tudo valia para tirar
 o PT do governo, inclusive a mentira e a manipulação pela mídia.
Isso aconteceu quando nossos governos tinham alcançado
 nossas maiores marcas. Multiplicamos o PIB por várias vezes, 
chegamos a 20 milhões de novos empregos formais, tiramos 
36 milhões de pessoas da miséria, levamos quase quatro 
milhões de pessoas às universidades, acabamos com a fome,
 multiplicamos de modo espetacular a produção e comércio
 da agricultura familiar, multiplicamos por quatro a oferta do 
crédito, e isso em meio a uma das maiores crises do capitalismo
 na história. E ainda assim praticamente quadruplicamos
 as nossas exportações.
O Brasil que estávamos criando junto com o povo e as forças
 produtivas nacionais foi retratado pela Rede Globo e seus
 seguidores da imprensa como um país sem rumo e corroído
 pela corrupção.
Nem em 1954 contra Getúlio, nem em 1964 contra Jango se
 viu tanta demonização contra um partido, um governo, um 
presidente. Centenas de horas do Jornal Nacional e milhares
 de manchetes e capas de revistas contra nós sem nenhuma
 chance de defender nossas opiniões.
Mesmo assim, em 2014 derrotamos os poderosos nas urnas
 pela quarta vez consecutiva.
Para quem não conhece o Brasil, nossas elites dizimaram
 milhões de indígenas desde 1500, destruíram florestas e 
enriqueceram por 300 anos às custas de escravos, tratados
 como se fossem bestas, colonos e operários tratados como
 servos, divergentes como subversivos, mulheres como 
objetos e diferentes como párias. Negaram terra, dignidade,
 educação, saúde e cidadania ao nosso povo.
Mas a Globo, o mercado e os representantes dos estrangeiros,
 os oportunistas da política e os exploradores da gente 
simples disseram que era preciso tirar o PT do governo para
 resolver os problemas do Brasil e do povo brasileiro. Hoje,
 o povo sabe que foi enganado.
Criamos o PT em 1980 para defender as liberdades 
democráticas, os direitos do povo e dos trabalhadores.
 O acúmulo das lutas do PT e da esquerda brasileira,
 do sindicalismo, dos movimentos sociais populares nos
 levou a consolidar um pacto democrático na Constituinte
 de 1988.
Esse pacto foi rompido pelo golpe do impeachment em 
2016 e por seu desdobramento que foi minha condenação 
sem culpa e minha prisão em tempo recorde para que eu
 não disputasse as eleições.
Reafirmo minha inocência, comprovada por todos os meios 
de prova nas ações em que fui injustamente condenado
 pelo ex-juiz Sérgio Moro, sua colega substituta e três 
desembargadores acumpliciados do TRF-4.
Repudio as acusações levianas dos procuradores da 
Lava Jato e denuncio Dallagnol, que nunca teve a coragem
 de sustentar, ante meus olhos, as mentiras que levantou
contra mim, minha esposa e meus filhos.
Mais de um ano depois de minha prisão arbitrária está 
cada dia mais claro para o povo brasileiro que fui injustiçado
 para não ser candidato às eleições presidenciais no ano 
passado, nas quais, segundo todas as pesquisas de
 opinião pública, teria sido eleito em primeiro turno
 contra todos os adversários.
O povo sabe que minha prisão teve motivos políticos. 
Posso reafirmar com a consciência tranquila por ser inocente.
 Os que me condenaram, não.
Fui condenado sem prova e sem crime. Minha pena ilegal 
foi agravada pelo arbítrio de três desembargadores 
do TRF-4, tão parciais quanto o juiz Sérgio Moro.
Os recursos de minha defesa laceados em argumentos 
sólidos foram ignorados burocraticamente pelo STJ. 
Meus direitos políticos foram negados, contra a lei, 
a jurisprudência e uma decisão da ONU pela justiça eleitoral.
Mesmo assim, minhas ideias e meus ideais continuam 
vivos na memória e no coração do povo brasileiro.
 Mantenho minha esperança e confiança no futuro num
 julgamento justo, por causa das generosas manifestações
 de solidariedade que recebo todos os dias aqui em Curitiba
 por parte dos companheiros maravilhosos da Vigília e 
de todos os cantos do Brasil e do mundo.
Eu sei muito bem o lugar que a história nos reserva, 
meus companheiros e companheiras. E sei também quem
 estará na lixeira dos tempos, quando o povo vencer 
mais essa batalha. Mais importante do que isso: sei que
 a injustiça cometida contra mim recai sobre o povo brasileiro,
 que perdeu direitos, oportunidades, salário justo, emprego
 formal, renda e esperança num futuro melhor.
Hoje, estou aqui para falar com jornalistas, como sempre 
fiz ao longo da minha vida. Na verdade, para falar com o
 nosso povo. Esse direito me foi negado por sete meses e
 durante o processo eleitoral, o que estava absolutamente
 fora da lei.
Mas guardo comigo uma certeza: preso ou livre, censurado
 ou não, tenho com o povo brasileiro uma comunhão eterna
 que o tempo não vai apagar. Contra todos os poderosos,
 contra a censura e a opressão, estaremos sempre juntos 
por um Brasil melhor, mais justo, com oportunidades para todos.
Obrigado!
Vejam a íntegra do vídeo:

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