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4.02.2019

Sinais de mudança já são visíveis na linha do horizonte





REUTERS/Ueslei Marcelino


O governo  Bolsonaro está com cara de final de mandato. Ninguém mais se entende. Um caos que praticamente paralisou o país antes dos 100 dias do novo governo, o que evidencia o seu total despreparo para gerir um país de dimensões continentais como o Brasil. E com os mais diversificados problemas. O capitão-presidente, que não tem coragem de participar de debates porque não tem argumentos, parece mais perdido do que cego em tiroteio, mais preocupado com o que diz a imprensa. Na verdade, como o seu governo não tem programa, ele usa as redes sociais para falar bobagens, agravando mais ainda a já grave situação política e econômica do país. O homem que chegou a ser chamado de "mito", considerado por seus eleitores o "salvador da Pátria", e provocou ruidosas manifestações de contentamento por sua eleição e posse, está derretendo a olhos vistos. Produto das fakenews que inundaram as redes sociais do país durante a campanha eleitoral, uma estratégia criada pelo americano Steve Bannon que deu certo na eleição de Donald Trump, Bolsonaro caracterizou-se como um presidente de mentira, cujo governo, em menos de 100 dias, virou pesadelo.
Por conta dessa situação, que inclui uma desastrada política externa conduzida por um chanceler aloprado e completamente divorciado da realidade mundial, o que vem causando enormes prejuízos ao comércio exterior, já surgem muitas vozes, algumas em alto e bom som e outras intramuros, reivindicando o afastamento do capitão do Palácio do Planalto. E mais do que vozes, já são visíveis alguns sinais de movimentos nesse sentido, como, por exemplo, o jantar promovido pela FIESP que reuniu mais de 700 empresários em torno do vice-presidente Hamilton Mourão. O general, que ocupou um grande espaço no governo e conquistou a simpatia da imprensa por suas posições moderadas, parece ser a única opção legal para defenestrar Bolsonaro e assumir as rédeas do país. Ao que parece, estaria faltando apenas definir a maneira como essa transferência se faria, porque aparentemente até entre os militares já haveria algum consenso a respeito. Mourão já teria, assim, o apoio dos empresários, dos banqueiros, da mídia (ele sempre defendeu a imprensa por sua importância para a democracia), dos militares e até, talvez, do Judiciário. Só estaria faltando garantir a participação do Congresso para repetir o golpe dado na presidenta Dilma Rousself, a não ser que o capitão-presidente seja forçado a renunciar.
O vice-presidente, na verdade, não seria a melhor solução, mas no panorama atual é a única que não implicaria numa ruptura da ordem constitucional, pois não se deve ignorar a possibilidade de um golpe militar. Bolsonaro, todos sabem, trouxe os militares de volta ao poder pela via democrática, ou seja, através de eleições livres. O governo está cheio de generais, alguns deles saudosistas da ditadura de 64 que, obviamente, não pretendem entregar o poder de bandeja. Embora não haja hoje uma motivação para esse tipo de golpe, porque o comunismo que serviu em 64 já não assombra mais a ninguém – a não ser aqueles que ainda vivem no passado – parece que está sendo criado um clima que pode favorecer esse tipo de loucura em pleno século XXI. Premeditado ou por burrice, Bolsonaro determinou que o 31 de março fosse comemorado em todos os quartéis, o que deflagrou uma onda de protestos em todos os segmentos da sociedade, que entendem que um regime que torturou e matou muita gente, deixando muitas famílias enlutadas, não tem o que comemorar. E essa reação naturalmente desagradou aos militares, que aplaudiram a ordem do capitão-presidente.
Com essa ordem, Bolsonaro obviamente marcou um tento junto aos militares, mas perdeu apoio dos seus eleitores civis. Mesmo estimado por antigos companheiros de farda, no entanto, parece já haver um consenso de que ele não tem condições de permanecer no cargo. Contra ele, além dos problemas políticos, econômicos e sociais sem perspectiva de solução, como o desemprego de mais de 13 milhões de brasileiros, pesa o seu alinhamento à política de Donald Trump e a interferência dos seus filhos no governo. Os "garotos" – um senador, um deputado federal e um vereador – ultimamente se mostram contidos justamente por pressão dos militares, mas volta e meia um deles coloca a cabeça de fora. E tem ainda o guru oficial, o astrólogo Olavo de Carvalho, que indicou os piores ministros do governo e se dedica agora a atacar o vice-presidente Mourão e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, peça chave para a aprovação da reforma da Previdência. Com o capitão fora do Palácio do Planalto tudo muda, com a exoneração de vários ministros, a começar pelos Olavistas. Talvez nem Moro permaneça, pois até agora, a não ser um projeto polêmico que está ameaçado de ser rejeitado, não disse ainda o que foi fazer no Ministério da Justiça. Parece que ele só sabia movimentar-se dentro da toga, onde se comportava como rei da Justiça, pois como ministro ele não decide sozinho, sem autonomia sequer para nomear auxiliares.
De qualquer modo, é bom que todos fiquem atentos aos acontecimentos, pois é certo que haverá mudanças a curto prazo, considerando a posição quase insustentável em que Bolsonaro se colocou. Ele briga com todo mundo, está mais empenhado em visitar países governados por aliados da extrema direita e só fala em reforma da Previdência, ignorando todos os outros problemas que exigem soluções urgentes, como o desemprego. O terreno está fugindo sob os seus pés, com seus entusiasmados eleitores, agora decepcionados, já em debandada, o que o deixou enfraquecido até na base aliada no Congresso. Aparentemente apenas os militares o estão sustentando, apoio que está escorrendo pelo ralo de maneira vertiginosa. Ninguém se surpreenda se ao voltar de Israel, onde não tem nada o que fazer, ele encontre um Brasil diferente, a exemplo do que aconteceu com Jango quando voltou da China. Afinal, o tempo não parou à espera de que ele aprenda a governar. Como se diz nos dias de hoje – a fila anda...

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