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6.05.2019

Gleisi: ‘Se abandonar Lula for condição para fazer alianças, nós não faremos’

'Tem gente que acha que a defesa dele não é a centralidade. Achamos que é, porque o governo Bolsonaro é a destruição do legado que Lula construiu', diz deputada federal e presidenta do PT
CLEIA VIANA/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Gleisi Hoffmann
“A ação norte-americana contra Lula tem tudo a ver com ferir a soberania brasileira”, afirma deputada
São Paulo – “Jamais abriremos mão do Lula. Tem gente
 que acha que a defesa dele não é a centralidade. 
Achamos que é, porque o governo Bolsonaro é a 
destruição do legado que Lula construiu”, diz a 
deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), 
presidenta nacional do partido, no momento em 
que a prisão do ex-presidente da República pela
 operação Lava Jato completa um ano. Para ela,
 não há como separar a disputa política cotidiana,
 por exemplo no Congresso Nacional, da luta pela
 liberdade de Lula.
“Se não considerarmos que Bolsonaro é fruto, primeiro, do golpe contra Dilma e, segundo, que Lula foi preso 
para que ele ou outro da extrema-direita 
ganhasse, estamos fazendo uma leitura errada”,
 diz. “Fazer uma leitura só conjuntural é 
muito pouco. Se abandonar a luta Lula Livre for
 uma condição para fazermos uma aliança pontual
 e conjuntural, nós não faremos.”
No contexto de 7 de abril, ela destaca a 
Jornada Lula Livre, “uma série de ações 
continuadas” pela liberdade do ex-presidente,
 que começa pelo Rio Grande do Sul, 
passando por Santa Catarina, para chegar
 ao Paraná no domingo, num ato em frente à 
Polícia Federal.
A deputada tem feito contundentes denúncias
 contra a força-tarefa sediada em Curitiba. 
Na última quinta-feira (4), ela acusou a operação
 de cometer crimes de lavagem de dinheiro,
 formação de quadrilha, organização criminosa
 e corrupção passiva.
A deputada acusa a força-tarefa de ter atuado
 com “apoio e orientação do Departamento 
de Justiça dos Estados Unidos” (DoJ). Ela aponta 
que, no próximo mês, vai haver um evento em 
São Paulo que confirma essa afirmação. Dos dias
 6 a 8 de maio, em parceria com a Associação 
de Juízes Federais do Brasil (Ajufe), o órgão 
norte-americano vai bancar um seminário
 que visa ao treinamento de juízes federais 
brasileiros.
“Tudo isso mostra que Lula não era um objetivo
 ao acaso”, diz a deputada.

Como avalia a situação de Lula e seu futuro 
um ano depois da prisão, do ponto de vista jurídico
 e politico?
O que estamos descobrindo sobre os contratos de leniência mostram que tinha uma grande articulação 
com os Estados Unidos. Primeiro, temos que
 caracterizar a prisão do Lula, feita num 
julgamento que não evidenciou provas, e 
sequer conseguiu tipificar penalmente os crimes
 cometidos. Lula é um preso político. 
Nos deixou muito apreensivos o adiamento, 
tanto dos recursos no STJ, que eram os recursos
 em relação à condenação pelo TRF4, quanto o 
julgamento sobre a prisão após segunda 
instância no STF. Esperávamos que fosse 
feito agora e conseguíssemos liberar Lula. Não 
entendemos por que ele continua preso 
diante de tantas evidências de perseguição e falhas
 processuais.
Estamos questionando a operação Lava Jato. 
Vamos entrar com a segunda ADPF (Arguição de
 Descumprimento de Preceito Fundamental) em 
relação aos acordos, um relativo à Petrobras, 
outro à Odebrecht, que mostraram que 
a Lava Jato foi engendrada com apoio e
 orientação do Departamento de Justiça 
americano, que começou em 2009 com 
treinamento de setores da Justiça Federal e 
Ministério Público Federal, o que continua. 
Vemos esses acordos pelos quais empresas 
brasileiras têm que pagar a investidores 
americanos e suíços, e 80% volta para o 
Ministério Público e a Justiça Federal para 
eles fazerem o que quiserem. Isso é muito grave.
Vai ter mais um treinamento agora, uma capacitação de 6 a 8 de maio em São Paulo, juntando a Ajufe e o Departamento de Justiça americano. Tudo isso mostra que Lula não era um objetivo ao acaso. Foi quem trouxe o pré-sal, deu força aos Brics, à Unasul, mudou as relações políticas e comerciais do Brasil. A ação americana tem tudo a ver com ferir a soberania brasileira.
Ao longo da Operação Lava Jato, o que você destacaria como atos mais graves contra Lula, a começar da condução coercitiva em 4 de março?
A condução coercitiva, que você já falou, as escutas ilegais, que impediram Lula de ser ministro da Dilma, o que foi muito grave. A primeira condenação foi pelo power point (de Deltan Dallagnol). Começa aí.
Politicamente, não foi demorada a decisão de indicar Lula ao ministério de Dilma na época? Essa decisão não deveria ter sido tomada logo no início do governo?
Podemos até fazer avaliações do tempo político. Mas o fato é que era uma indicação de direito da presidente, e de direito de Lula aceitar. Eles não poderiam ter feito uma escuta telefônica e ter vazado isso de forma ilegal, como vazaram. Fizeram uma escuta num prazo superior ao que era liberado nos autos, o que também é muito grave.
Outra coisa foi a delação do Léo Pinheiro, que negociou com seus executivos para corroborar a delação pagando um milhão de reais para cada executivo. Soubemos disso porque um deles não recebeu e entrou na Justiça do Trabalho contra o Léo Pinheiro. Executivos da Odebrecht receberam e estão hoje em casa, para delatar Lula e corroborar a delação do Marcelo Odebrecht. Uma construção odiosa.
Na atual conjuntura, focar a luta no Lula Livre não prejudica um pouco a disputa política contra Bolsonaro no Congresso Nacional?
Jamais abriremos mão do Lula. Tem gente que acha que a defesa do Lula não é a centralidade. Achamos que é, porque o governo Bolsonaro é a destruição do legado que Lula construiu. Ele é a antítese, ele mesmo disse: “eu vim pra desconstruir”. O Lula foi preso para que ele pudesse fazer isso.
Se não considerarmos que Bolsonaro é fruto, primeiro, do golpe contra Dilma e, segundo, que Lula foi preso para que ele ou outro da extrema-direita ganhasse, estamos fazendo uma leitura errada. Fazer uma leitura só conjuntural é muito pouco. Ou a gente faz uma leitura da história recente, entendendo o que se passa no Brasil, ou vamos achar que esse é um governo da normalidade. Não é. Estamos tratando com um governo da destruição dos direitos do povo, das liberdades, da democracia, de extrema direita. Jamais abandonaremos a luta de Lula Livre. Se essa for uma condição para fazermos uma aliança pontual e conjuntural, nós não faremos.
Mas não acho que esta é a condição. Acho que temos condição de fazer alianças por bandeiras, por exemplo contra a reforma da Previdência, o fim dos direitos democráticos, como estamos fazendo, mas não abriremos mão de Lula Livre.
Como avalia a reforma da Previdência na atual conjuntura no Congresso?
A posição do PT é ser contra a totalidade da reforma, fechamos questão. O que a gente vê na casa é que quem defende a reforma não defende como ela está. A maioria que se diz a favor quer mudanças nessa proposta. Isso ficou muito claro na audiência pública com Paulo Guedes. Inclusive, a base deles não estava coesa na defesa da proposta. Fizeram discursos genéricos, mas não têm coragem de defender diretamente o que estão propondo. Acredito que é uma proposta que vai desidratar demais. Vamos ter condições de fazer alianças com diversos setores aqui para enfrentá-la.

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