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8.02.2019

'Ordem de prisão de Lula é ato de despotismo judicial', diz Gilmar Mendes





O ministro voltou a dizer que a situação no Brasil e no próprio 

STF está muito confusa










Célia Froufe, enviada especial
LISBOA - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Gilmar Mendes avaliou há pouco, ao Broadcast, que a ordem
 de prisão do juiz Sérgio Moro ao ex-presidente Luiz Inácio 
Lula da Silva é "absurda", porque ainda não foram finalizados
 todos os procedimentos do Tribunal. Ele classificou a situação
 atual no País como "despotismo judicial". "Estamos vivendo
uma Prokuratura", disse há pouco em entrevista ao Broadcast,
realizada em Lisboa. O termo russo refere-se ao período que a
então União Soviética (URSS) vivia sob a subordinação do
"Soviete Supremo", o poder legislativo soviético.


Gilmar Mendes
Gilmar Mendes Foto: TSE
O ministro voltou a dizer que a situação no Brasil e no próprio
 STF está muito confusa. "Esta foi uma crise embrenhada, mal
gerida pelo Supremo", avaliou na capital portuguesa, onde
participou de uma série de eventos da área jurídica. "A única coisa
 que me conforta nisso tudo é que toda essa crise que estamos
vivendo é fruto de uma desinstitucionalização criada pelo PT",
declarou.
O ex-presidente Lula, conforme o ministro, está sendo vítima
de sua própria obra, ao ter feito, entre outros coisas, más
indicações para o Supremo. "Foram péssimas indicações para
o Supremo. Pessoas que não eram conhecidas foram indicadas,
 não tinham formação, não tinham pedigree. Eram para preencher
 vagas como de simpatizantes do MST, de causas, de grupo afro,
 sem respeitar a institucionalização do País, por ser amigo de
algum político", enumerou.
Para o ministro, personagens como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol
são "filhos de um cruzamento do PT com Luiz Francisco"
Fernandes de Souza, procurador da República. "Eles armaram
 isso tudo. Criaram uma desinstitucionalização. O aparelho
 que hoje existe, o mecanismo ou coisa do tipo, é este: delegado
 procurador, juiz... São essas ações articuladas e o Estado de
Direito ameaçado", pontuou.
Perguntado sobre se mudar de voto no caso do habeas corpus
do presidente Lula também não poderia ser avaliado como uma
 forma de fazer parte do "mecanismo", ele disse que a sua alteração
 não teve importância. "Minha posição todos conhecem há muitos
 anos e tudo é fundamentado. Trouxe para o plenário a rediscussão
 sobre a necessidade de ter limites. Continuo a achar isso, não é
possível simplesmente esperar o trânsito em julgado, porque
isso não existe mais na prática", argumentou.
Mendes, conhecido por suas declarações fortes, avaliou que o
País passa hoje por um "voluntarismo sem precedentes".
 "Acho um absurdo essa ordem de prisão dada assim, sem
sequer se exaurirem os procedimentos do tribunal. Não está
publicada a decisão. A única coisa que me conforta a alma é
que o PT, o que é muito raro, está pagando."

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A trajetória de Lula
O ministro citou a frase do Victor Nunes Leal: "Tal é o poder
da lei que a sua elaboração reclama precauções severíssimas.
Quem faz a lei é como se estivesse acondicionando materiais
explosivos. As consequências da imprevisão e da imperícia não
 serão tão espetaculares, e quase sempre só de modo indireto
atingirão o manipulador, mas podem". Para ele, neste caso,
porém, o PT, apontado como o articulador dos "materiais
explosivos", acabou também sendo uma vítima. "Isso é raro.
Em geral, o legislador que faz as trapalhadas não é atingido
pela explosão. Mas agora foi."
Ao falar sobre sua avaliação de que a ordem de prisão de Moro
 trata-se de um ato de despotismo judicial, ele disse que o País
passa por uma onda de autoritarismo penal que varre o País.
 "Isso tem que ser denunciado e cobrado", disse. Questionado
se Moro poderia sofrer algum tipo de punição, no entanto,
disse que não discutiria o assunto. "Só digo que é fruto de uma
 má ..... essa mixórdia que se fez", disse, usando um termo
bastante lusitano que significa o mesmo que bagunça.
Mendes reforçou que o Partido dos Trabalhadores deixou como
"notório legado" uma Corte institucional mal formada, mal indicada,
 com ministros, de acordo com ele, sem perfil, sem compromisso
histórico, sem conhecimento da máquina. "Daí gera essa bagunça
 que está aí. Fizemos um experimentalismo maluco e o resultado
está aí", afirmou, criticando mais uma vez a condução da pauta
 da ministra Cármen Lúcia no caso do julgamento do HC de Lula.
 Para Mendes, os ADCs deveriam ser analisados na mesma ocasião.


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Prisão de Lula: veja a repercussão

"Fico com vergonha de estar vivendo um momento de totalitarismo
 policial, judicial. Esse decreto da prisão do Lula representa isso.
Meu consolo é que isso é fruto das maquinações do PT, da intenção
de venezuelar o Brasil", criticou.
Na avaliação do ministro, o risco de o Exército tomar conta do
 governo é bem menor hoje do que o de outras áreas da sociedade.
"Na verdade, não é o exército. Quem tem ameaçado o governo
são os promotores, os juízes, são nomeações como a da Cristiane
 Brasil, não é o exército. Trata-se de um governo fraco que vem
enfrentando abusos. A Corte não está à altura do Brasil."

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