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12.10.2019

O triste fim do Programa Ciências Sem Fronteiras


O Ciências Sem Fronteiras foi uma conquista do jovem brasileiro. A destruição do Programa não foi e não é um enfrentamento de dificuldades complexas. Foi um recuo do Estado em relação às obrigações que nossa sociedade recentemente pediu que fossem públicas

As opções de intercâmbio internacional no âmbito do ensino de graduação foram retiradas da governança de recursos públicos, ou seja, essas opções praticamente deixaram de existir como política de Estado.
O esvaziamento seguido de descontinuidade do Programa Ciências Sem Fronteiras faz parte de um contexto de radicalização da pauta neoliberal no Brasil, com a qual o diagnóstico de “ineficiência” é seguido do prognóstico “interrompa-se”.
O Programa Ciências Sem Fronteiras foi considerado ineficiente e no jargão das forças que tomaram o Estado essa é a senha para indicar gastos passíveis de interrupção.
Porém, é importante reconhecer que o Ciências Sem Fronteiras dizia respeito, em primeiro lugar, ao compromisso de assumir como questão de Estado o alargamento dos horizontes dos cursos de graduação.
O que se buscava era a institucionalização de procedimentos que pudessem conectar pessoas ao mundo acadêmico estrangeiro, de modo a fazer com que as próprias bases para formação se ampliassem, acrescentando às plataformas de profissionalização possibilidades de enriquecimento cultural e comparação entre diferentes modos de fazer.
A “declaração de ineficiência” foi produzida à distância dos debates educacionais e não há instância educacional brasileira que se reconheça como interlocutora mobilizada para discutir ajustes, avaliação e reorientações necessárias.
Se é evidente que todo programa de Estado deve submeter-se permanentemente a processos de avaliação, é evidente também que o tempo de amadurecimento e consolidação de cada um não coincide com cronogramas expressos em calendários governamentais, especialmente com aqueles que se estruturam sob as demandas da redução da esfera pública.
O Programa Ciências Sem Fronteiras foi uma conquista do jovem brasileiro.
Assim como a expansão na oferta de vagas nas universidades públicas revelou, na sequência, que o desafio da permanência era tão grande e complexo quanto o desafio de garantir maior acesso, a consolidação de programas para formação no exterior depende de planejamento e permanente avaliação para que os problemas que aparecem na caminhada ganhem sempre fórum adequado para discussão e encaminhamento de soluções.
A destruição do Programa não foi e não é um enfrentamento de dificuldades complexas. Foi um recuo do Estado em relação às obrigações que nossa sociedade recentemente pediu que fossem públicas.
Com essa desativação, os números do intercâmbio universitário com o exterior, no âmbito dos cursos de graduação, foram reduzidos a índices bem próximos do zero.
E, para piorar, a iniciativa privada não ocupará esse espaço.
Os jovens que conquistaram esse Programa não terão como participar do processo de aperfeiçoamento que deveria ser engendrado agora.
Apenas lamentarão o esgotamento precoce dessa alternativa e entenderão que austeridade neoliberal quer sempre dizer “Estado que não quer responder”. Irresponsável, portanto.
*Gilberto Alvarez Giusepone Jr.
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