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3.05.2021

140 motivos para continuar

 


Faz um ano que o Intercept está cobrindo a crise do coronavírus. Essa frase me assusta quando lembro que houve uma reunião, no começo de tudo isso, em que avaliamos que seria uma cobertura que nos ocuparia por uns seis meses.  

Desde 12 de março de 2020, voltamos nossa atenção para a maior pandemia em um século. Foram, até aqui, 140 reportagens, entrevistas, vídeos e artigos em nosso site sobre a crise sanitária, social, política e econômica que assolou o Brasil e o mundo.

Um dos primeiros textos que publicamos tratava de uma informação que demos com exclusividade: uma pesquisa da Universidade de Oxford estimou o impacto da doença caso o  governo brasileiro não adotasse medidas de contenção. A estimativa era de 478 mil mortes. Alguém hoje é capaz de achar que aquele número era exagerado?


Publicamos muita coisa e algumas dessas matérias fizeram mais do que levar informação: causaram impactos reais na vida de muita gente.

Nossas denúncias revelaram exploração e abusos que colocam em risco a vida de centenas de trabalhadores, como os da rede de frigoríficos JBS, em que os funcionários eram orientados a guardar e reutilizar por cinco dias as máscaras da empresa — depois da reportagem, a Justiça determinou que a JBS fornecesse máscaras para troca diária aos trabalhadores. Outro caso em que metemos o bedelho e deu certo foi quando a Alicerce, startup de educação em que Luciano Huck é investidor, dispensou professores sem qualquer ajuda financeira em plena pandemia. Quando jogamos no ventilador, a Alicerce voltou atrás e anunciou que manteria os funcionários. 

Denunciamos a situação na moradia estudantil da USP, documentamos o cotidiano da pandemia na favela de Paraisópolis (São Paulo), onde moradores se uniram e contornaram a ausência do atendimento público de saúde,  mostramos a dura realidade enfrentada pelos coveiros, trabalhadores que também estão na linha de frente. Foram dezenas de reportagens que expuseram a tensa rotina de grupos vulneráveis, de entregadores de aplicativo a empregadas domésticas, além dos profissionais precarizados que lidam diretamente com pessoas infectadas, como técnicos de enfermagem e caixas de supermercado. Tudo isso sem deixar de dar furos sobre os negócios da família Bolsonaro e os acordos políticos que eles querem manter ocultos.

Em Santa Catarina, nossa série de reportagens sobre a compra de respiradores fantasmas que custou R$ 33 milhões gerou uma CPI; o afastamento dos secretários da Casa Civil e de Saúde do estado; pedidos formais de impeachment do governador e uma operação com buscas e apreensões em quatro estados, entre outros desdobramentos. Foi uma das investigações com maiores impactos da nossa história.

Esse número, 140 matérias, pode não parecer muito, tomando como parâmetro grandes jornais que fazem uma cobertura factual. Mas para entender a dimensão disso é preciso olhar para a missão do TIB. Nós não existimos para fazer jornalismo perfumaria, existimos para causar impacto, provocar mudança, incomodar o poder de verdade. Não fazemos matérias para reproduzir aspas absurdas do presidente e ganhar cliques, ou só para mencionar estatísticas. Nosso papel é outro e você sabe o significado dele: é o jornalismo que muda o mundo, que mobiliza, que é regido por valores, não pelo lucro. 

Esse jornalismo custa caro e não é do interesse de governos ou empresas investirem nesse trabalho. Ora, por que investiriam em um veículo que só lhes causa problemas? 


Samanta do Carmo
Coordenadora de Redação

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