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4.29.2021

Eu vigio quem te vigia


O megavazamento de dados de todos os brasileiros vivos e mais 10 milhões de brasileiros que já morreram, revelado no início do ano, chocou muita gente — mas não a mim. Sou Tatiana Dias, Editora Sênior do Intercept e meu trabalho foca especialmente em tecnologia e direitos digitais. Te escrevo hoje para dizer: se eles estão de olho nos seus dados, pode ter certeza, eu e o Intercept estamos de olho neles. 

Mas quem são eles? Ainda não se sabe a origem exata dos vazamentos mais recentes, mas há tempos nós estamos na cola dos poderosos — sejam governos, megacorporações de tecnologia (as big techs, como Facebook e Google) ou parlamentares que definem a regulação do uso dos seus dados digitais.

Pode parecer um papo paranoico, eu sei. Mas o que aconteceu esse ano mostrou o que a gente alerta há tempos: estão rifando a sua privacidade, e isso é um problema concreto. Sabe o que pode acontecer? Criminosos podem usar os seus dados para criar contas falsas. Pedir cartão de crédito em seu nome. Fazer compras. Também podem roubar suas contas: terão todos os dados para isso. Mesmo se você tiver autenticação em dois fatores, eles terão o seu celular – que pode ser clonado para que o SMS de confirmação seja interceptado. Também podem aplicar golpes usando suas informações pessoais – eles saberão tudo sobre você e podem ligar se passando por atendente de uma empresa e terão todo o seu histórico para confirmar. Tudo isso sem mencionar o risco que correm pessoas públicas, políticos, ativistas e comunicadores ameaçados. Suas fotos, endereços, salários: está tudo exposto.

Desde 2018, quando entrei para a equipe do TIB, ganhei total liberdade e incentivo para, com minha bagagem de uma década no jornalismo de tecnologia, destrinchar a legislação e denunciar negligências, abusos e violações nessa área. Também desde 2018, ainda no governo Temer, eu venho denunciando e questionando políticas de dados desastrosas. 

No governo Bolsonaro, os erros na gestão, na legislação e no controle de dados da população (como em todos os outros setores) pioraram: enquanto a Lei Geral de Proteção de dados foi discutida abertamente por oito anos e três governos até ser aprovada, importantes decretos sobre dados receberam a canetada do atual presidente do dia para a noite e criaram, por exemplo, o Cadastro Base do Cidadão (uma megabase sem precedentes de dados da população) e o Comitê Central de Governança de Dados — que influenciam diretamente a sua vida, aumentando o poder de vigilância desse governo sob o pretexto de garantir segurança.

Você pode confiar no Intercept para denunciar esses casos pelo simples fato de que a gente não tem rabo preso com quem se interessa pelos seus dados. Não é uma frase de efeito: com frequência as big techs reúnem veículos de comunicação no entorno de seus projetos. O Intercept nunca está nessas ondas. Eles sabem que o Intercept é treta. Não queremos ser simpáticos: queremos denunciar abusos e defender seus direitos.

Nós não temos e não queremos parcerias nem patrocínios de big techs, governos, empresas de crédito ou seja lá quem esteja interessado nos seus dados. Nós vamos investigá-los e te explicar com cuidado porque é tão importante você proteger sua privacidade. É essa premissa que mantém nossa independência: não temos o dinheiro deles. E é por isso que precisamos da sua força.

Editora Sênior

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