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4.26.2008

Comprimido que elimina a menstruação pode ser aprovado pelo FDA

Comprimido que acaba com menstruação gera polêmica

Para muitas mulheres, uma pílula anticoncepcional que eliminasse a menstruação mensal poderia parecer uma ótima novidade. Mas há também grande número de mulheres que consideram que os períodos são símbolos fundamentais de fertilidade e saúde, constataram pesquisadores. Em lugar de sentirem aversão pela menstruação, as mulheres ao que parece têm uma complicada relação de amor e ódio com ela.

Essa ambivalência é um dos motivos para que uma decisão que a Food and Drug Administration (FDA, a agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios), deve tomar no mês que vem venha causando controvérsias.

A FDA deve aprovar a primeira pílula anticoncepcional que tem por objetivo adicional eliminar a menstruação, enquanto a mulher continuar a usá-la. Os médicos dizem que essa forma de medicação não acarreta riscos adicionais, mas algumas mulheres se sentem inseguras com relação à idéia.

"Minha preocupação é que o ciclo menstrual serve como um sinal externo de algo que acontece no corpo em termos hormonais", disse Christine L. Hitchcock, pesquisadora na Universidade da Colúmbia Britânica, Canadá. Ela se preocupa "com a idéia de que uma pessoa possa ligar e desligar o corpo como uma torneira".

Esse ponto de vista aparentemente é um dos motivos para que algumas pílulas anticoncepcionais já disponíveis, cujo uso permitiria que uma mulher tivesse apenas quatro períodos por ano, não tenham capturado porção maior do mercado de contraceptivos de uso oral.

"Não é uma decisão fácil, para uma mulher, abandonar a menstruação mensal", disse Ronny Gal, analista do setor farmacêutico na corretora Sanford C. Bernstein.

Mas se o novo medicamento, chamado Lybrel, for aprovado, Gal prevê que haverá forte campanha publicitária tentando convencer as mulheres a fazer exatamente isso. A Wyeth, fabricante do medicamento, disse na quinta-feira que estava esperando a aprovação da FDA para maio, mas preferiu não discutir seus planos de marketing.

As pesquisas da empresa demonstram que quase dois terços das mulheres entrevistadas expressaram interesse em eliminar a menstruação. Isso se enquadra nas conclusões de uma pesquisa semelhante conduzida por Linda C. Andrist, professora do Instituto MGH das Profissões de Saúde, em Boston. "Não queremos mais confrontar nossas funções corpóreas", disse Andrist. "Estamos ocupadas demais".

Os médicos dizem não conhecer motivos médicos para que uma mulher que está usando anticoncepcionais precise ter menstruação. O sangramento mensal que as mulheres que usam anticoncepcionais enfrentam não é de fato uma verdadeira menstruação. E estudos constataram que não existem riscos adicionais de saúde associados à pílula que suspende a menstruação, ainda que alguns médicos acautelem que não foram conduzidas muitas pesquisas quanto a seus efeitos de longo prazo.

O tópico, no entanto, resultou em um documentário de uma hora de duração sobre o possível fim da menstruação, dirigido por Giovanna Chesler e em exibição no momento no circuito universitário e em eventos organizados por grupos feministas.

Chesler, que é professora de cinedocumentário na Universidade da Califórnia em San Diego, diz que começou a se preocupar com os esforços de eliminação da menstruação quando primeiro ouviu sobre o assunto, anos atrás. "As mulheres não estão doentes", diz. "Não precisam controlar seus períodos por 30 ou 40 anos".

O assunto também gerou debate na Sociedade de Pesquisa do Ciclo Menstrual, organização científica que estuda os aspectos médicos e sociais da menstruação.

Em 2003, o grupo divulgou um comunicado de posicionamento no qual afirma que mais pesquisas eram necessárias antes que as mulheres pudessem realizar uma escolha informada sobre o uso de pílulas para suprimir a menstruação. O comunicado pode ser revisado na reunião que o grupo conduzirá em Vancouver, Canadá, em junho.

Hitchcock, uma das diretoras da organização, disse que embora algumas pesquisas ofereçam indicações reconfortantes, ela continuava preocupada por a ciência médica não compreender plenamente as implicações de longo prazo da interrupção dos períodos femininos. Os mesmos hormônios que atuam no ciclo menstrual atuam no cérebro, nos ossos e na pele, ela disse.

"Seria preciso pensar na possibilidade de conseqüência que desconhecemos, para todo o corpo", afirmou Hitchcock.

Houve também reação adversa entre grupos que celebram a menstruação como processo natural ou espiritual, como a Red Web Foundation ( http://www.redwebfoundation.org ), da Califórnia,. "O foco do nosso grupo é criar atitude positiva quanto ao ciclo menstrual; suprimi-lo não seria positivo", disse Anna C. Yang, enfermeira holística e diretora executiva da organização.

Nos últimos anos, os fabricantes de medicamentos desenvolveram novas pílulas que alteram o ciclo de 28 dias, elevando o número de pílula de hormônios e criando um período mais curto de sangramento.

O laboratório farmacêutico Bar causou sensação em 2003 ao introduzir o Seasonale, um tratamento anticoncepcional que envolvia 84 pílulas de hormônios e sete de placebos. As usuários do método só ficam menstruadas uma vez por trimestre.

Carol Cox, porta-voz da Barr, disse que o Seasonale registrou vendas de US$ 120 milhões nos 12 meses até junho de 2006, antes que um equivalente genérico, produzido pela Watson, chegasse ao mercado. Mas mesmo nesse período de pico, o Seasonale respondeu por um segmento classificado por Gal como "pequeno" do mercado norte-americano de contraceptivos orais, que movimenta US$ 1,7 bilhão ao ano.

Para algumas mulheres que consideram a menstruação como a ordem natural das coisas, as preocupações quanto a esse tipo de médico não são apenas médicas.

"Acredito que exista uma razão para que tenhamos menstruação todos os meses", disse Aviva Bergman, 22 anos, universitária em Maryland, que afirmou que não pretende usar produtos que suprimam a menstruação.

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