Introdução
Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de comportamento de um indivíduo (caráter), pode - se dizer que é o jeito de ser de uma pessoa, o modo de sentir as emoções e a forma de agir.Para se falar de transtornos de personalidade é preciso entender o que vem a ser um traço de personalidade, o traço é um aspecto do comportamento duradouro da pessoa; é a sua tendência à sociabilidade ou ao isolamento; à desconfiança ou à confiança nos outros. Enquanto o normal seria a pessoa ser "um pouco de tudo", ou seja, ter um pouco de cada característica humana sem prevalecer patologicamente nenhuma delas.
Um transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muitos inflexíveis e mal ajustados, ou seja, prejudica a adaptação do indivíduo as situações que enfrenta, esses transtornos geram pouco sofrimento ao portador, mas perturbam muito seus relacionamentos com as outras pessoas, caracterizam pessoas que não têm uma maneira absolutamente normal de viver (do ponto de vista estatístico e comparando com a média das outras pessoas) mas não chegam a preencher os critérios para um transtorno mental franco.
Geralmente aparecem no início da idade adulta e se tornam crônicos se não forem tratados. Existem múltiplas causas para esses transtornos, mas geralmente estão relacionados com vivências infantis e as da adolescência.
Desenvolvimento
Existem vários tipos de transtornos de personalidade:
Transtorno de Personalidade Anti-Social
Caracteriza-se pelo padrão social de comportamento irresponsável, explorador e insensível constatado pela ausência de remorsos. Essas pessoas não se ajustam às leis do Estado simplesmente por não quererem, riem-se delas, freqüentemente têm problemas legais e criminais por isso. Mesmo assim não se ajustam. Freqüentemente manipulam os outros em proveito próprio, dificilmente mantêm um emprego ou um casamento por muito tempo.
Aspectos essenciais:
Insensibilidade aos sentimentos alheios
• Atitude aberta de desrespeito por normas, regras e obrigações sociais de forma persistente. Estabelece relacionamentos com facilidade, principalmente quando é do seu interesse, mas dificilmente é capaz de mantê-los. Baixa tolerância à frustração e facilmente explode em atitudes agressivas e violentas. Incapacidade de assumir a culpa do que fez de errado, ou de aprender com as punições. Tendência a culpar os outros ou defender-se com raciocínios lógicos, porém improváveis.
Transtorno de personalidade Narcisista
Caracterizam-se por possuírem um senso de superioridade e uma crença exagerada em seu próprio valor ou importância, a qual os psiquiatras denominam “grandiosidade”.
• Extremamente sensível ao fracasso, à derrota ou à crítica e, quando confrontado a um fracasso para comprovar a alta opinião de si mesmo, ele pode tornar-se irado ou profundamente deprimido.Os indivíduos com este transtorno acreditam ter necessidades especiais, que estão além do entendimento das pessoas comuns. Sua própria auto-estima é amplificada pelo valor idealizado que atribuem àqueles a quem se associam.Geralmente exigem admiração excessiva. Sua auto-estima é muito frágil. Eles podem preocupar-se com o modo como estão se saindo e no quanto são considerados pelos outros. Isto freqüentemente assume a forma de uma necessidade de constante atenção e admiração.
Transtorno de Personalidade Paranóide
Caracteriza-se pela tendência à desconfiança de estar sendo explorado, passado para trás ou traído, mesmo que não haja motivos razoáveis para pensar assim. A expressividade afetiva é restrita e modulada, sendo considerado por muitos como um indivíduo frio. A hostilidade, irritabilidade e ansiedade são sentimentos freqüentes entre os paranóide. O paranóide dificilmente ri de si mesmo ou de seus defeitos, ao contrário ofende-se intensamente, geralmente por toda a vida quando alguém lhe aponta algum defeito.
Aspectos essenciais
• Excessiva sensibilidade em ser desprezado. Tendência a guardar rancores recusando-se a perdoar insultos, injúrias ou injustiças cometidas. Interpretações errôneas de atitudes neutras ou amistosas de outras pessoas, tendo respostas hostis ou desdenhosas. Tendência a distorcer e interpretar maléficamente os atos dos outros. Combativo e obstinado senso de direitos pessoais em desproporção à situação real. Repetidas suspeitas injustificadas relativas à fidelidade do parceiro conjugal. Tendência a se autovalorizar excessivamente. Preocupações com fofocas, intrigas e conspirações infundadas a partir dos acontecimentos circundantes.
Transtorno de Personalidade Esquizóide
Caracteriza-se primariamente pela dificuldade de formar relações pessoais ou de expressar as emoções. A indiferença é o aspecto básico, assim como o isolamento e o distanciamento sociais. A fraca expressividade emocional significa que estas pessoas não se perturbam com elogios ou críticas. Aquilo que na maioria das vezes desperta prazer nas pessoas, não diz nada a estas pessoas, como o sucesso no trabalho, no estudo ou uma conquista afetiva (namoro). Esses casos não devem ser confundidos com distimia.
Aspectos essenciais
• Poucas ou nenhumas atividades produzem prazer. Frieza emocional, afetividade distante. Capacidade limitada de expressar sentimentos calorosos, ternos ou de raiva para como os outros. Indiferença a elogios ou críticas. Pouco interesse em ter relações sexuais. Preferência quase invariável por atividades solitárias. Tendência a voltar para sua vida introspectiva e fantasias pessoais. Falta de amigos íntimos e do interesse de fazer tais amizades. Insensibilidade a normas sociais predominantes como uma atitude respeitosa para com idosos ou àqueles que perderam uma pessoa querida recentemente
Transtorno de Personalidade Ansiosa (evitação)
Caracteriza-se pelo padrão de comportamento inibido e ansioso com auto-estima baixa. É um sujeito hipersensível a críticas e rejeições, apreensivo e desconfiado, com dificuldades sociais. É tímido e sente-se desconfortável em ambientes sociais. Tem medos infundados de agir tolamente perante os outros.
Aspectos essenciais
• *É facilmente ferido por críticas e desaprovações. Não costuma ter amigos íntimos além dos parentes mais próximos. Só aceita um relacionamento quando tem certeza de que é querido. Evita atividades sociais ou profissionais onde o contato com outras pessoas seja intenso, mesmo que venha a ter benefícios com isso. Experimenta sentimentos de tensão e apreensão enquanto estiver exposto socialmente. Exagera nas dificuldades, nos perigos envolvidos em atividades comuns, porém fora de sua rotina. Por exemplo, cancela encontros sociais porque acha que antes de chegar lá já estará muito cansado.
Transtorno de Personalidade Histriônica
Caracteriza-se pela tendência a ser dramático, buscar as atenções para si mesmo, ser um eterno "carente afetivo", comportamento sedutor e manipulador, exibicionista, fútil, exigente e lábil (que muda facilmente de atitude e de emoções).
Aspectos essenciais :
• Busca freqüentemente elogios, aprovações e reafirmações dos outros em relação ao que faz ou pensa. Comportamento e aparência sedutores sexualmente, de forma inadequada. Abertamente preocupada com a aparência e atratividade físicas. Expressa as emoções com exagero inadequado, como ardor excessivo no trato com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável, choro convulsivo em situações de pouco importância. Sente-se desconfortável nas situações onde não é o centro das atenções. Suas emoções apesar de intensamente expressadas são superficiais e mudam facilmente. É imediatista, tem baixa tolerância a adiamentos e atrasos. Estilo de conversa superficial e vago, tendo dificuldades de detalhar o que pensa.
Transtorno de Personalidade Dependente
Caracterizam-se pelo excessivo grau de dependência e confiança nos outros. Estas pessoas precisam de outras para se apoiar emocionalmente e sentirem-se seguras. Permitem que os outros tomem decisões importantes a respeito de si mesmas. Sentem-se desamparadas quando sozinhas. Resignam-se e submetem-se com facilidade, chegando mesmo a tolerar maus tratos pelos outros. Quando postas em situação de comando e decisão essas pessoas não obtêm bons resultados, não superam seus limites.
Aspectos essenciais
É incapaz de tomar decisões do dia-a-dia sem uma excessiva quantidade de conselhos ou reafirmações de outras pessoas.
• Permite que outras pessoas decidam aspectos importantes de sua vida como onde morar, que profissão exercer. Submete suas próprias necessidades aos outros. Evita fazer exigências ainda que em seu direito. Sente-se desamparado quando sozinho, por medos infundados. Medo de ser abandonado por quem possui relacionamento íntimo. Facilmente é ferido por crítica ou desaprovação.
Transtorno de Personalidade Obsessiva (anancástica)
Caracteriza-se pela tendência ao perfeccionismo, comportamento rigoroso e disciplinado consigo e exigente com os outros. Emocionalmente frio. É uma pessoa formal, intelectualizada, detalhista. Essas pessoas tendem a ser devotadas ao trabalho em detrimento da família e amigos, com quem costuma ser reservado, dominador e inflexível. Dificilmente está satisfeito com seu próprio desempenho, achando que deve melhorar sempre mais. Seu perfeccionismo o faz uma pessoa indecisa e cheia de duvídas.
Aspectos essenciais :
• O perfeccionismo pode atrapalhar no cumprimento das tarefas, porque muitas vezes detém-se nos detalhes enquanto atrasa o essencial. Insistência em que as pessoas façam as coisas a seu modo ou querer fazer tudo por achar que os outros farão errado. Excessiva devoção ao trabalho em detrimento das atividades de lazer. Expressividade afetiva fria. Comportamento rígido (não se acomoda ao comportamento dos outros) e insistência irracional (teimosia). Excessivo apego a normas sociais em ocasiões de formalidade. Relutância em desfazer-se de objetos por achar que serão úteis algum dia (mesmo sem valor sentimental) Indecisão prejudicando seu próprio trabalho ou estudo. Excessivamente consciencioso e escrupuloso em relação às normas sociais.
Transtorno de Personalidade Borderline (Limítrofe)
Caracteriza-se por um padrão de relacionamento emocional intenso, porém confuso e desorganizado. A instabilidade das emoções é o traço marcante deste transtorno, que se apresenta por flutuações rápidas e variações no estado de humor de um momento para outro sem justificativa real. Essas pessoas reconhecem sua labilidade emocional, mas para tentar encobri-la justificam-nas geralmente com argumentos implausíveis. Seu comportamento impulsivo freqüentemente é autodestrutivo. Estes pacientes não possuem claramente uma identidade de si mesmos, com um projeto de vida ou uma escala de valores duradoura, até mesmo quanto à própria sexualidade. A instabilidade é tão intensa que acaba incomodando o próprio paciente que em dados momentos rejeita a si mesmo, por isso a insatisfação pessoal é constante.
Aspectos essenciais
• Padrão de relacionamento instável variando rapidamente entre ter um grande apreço por certa pessoa para logo depois desprezá-la. Comportamento impulsivo inicialmente quanto a gastos financeiros, sexual, abuso de substâncias psicoativas, pequenos furtos, dirigir irresponsavelmente. Rápida variação das emoções, passando de um estado de irritação para angustiado e depois para depressão (não necessariamente nesta ordem). Sentimento de raiva freqüente e falta de controle desses sentimentos chegando a lutas corporais. Comportamento suicida ou auto-mutilante Sentimentos persistentes de vazio e tédio. Dúvidas a respeito de si mesmo, de sua identidade como pessoa, de seu comportamento sexual, de sua carreira profissional.
Diagnóstico
O médico baseia o diagnóstico de um distúrbio da personalidade na expressão de tipos de comportamento ou de pensamentos inadequados do indivíduo. Esses comportamentos tendem a manifestar-se porque o indivíduo resiste de maneira tenaz a mudá-los apesar de suas conseqüências inadequadas. Além disso, é provável que o médico perceba o uso inadequado dos mecanismos de enfrentamento, freqüentemente denominados mecanismos de defesa. Embora todos utilizem inconscientemente mecanismos de defesa, os indivíduos com distúrbios da personalidade os usam de forma inadequada ou imatura.
Conclusão
Tratamento
Embora os tratamentos variem de acordo com o tipo de distúrbio da personalidade, alguns princípios gerais podem ser aplicados a todos. Como a maioria dos indivíduos com distúrbio da personalidade não sente necessidade de tratamento, a motivação freqüentemente é originária de uma outra pessoa. O terapeuta destaca repetidamente as conseqüências indesejáveis dos padrões de pensamento e de comportamento do indivíduo, algumas vezes estabelece limites para o comportamento e confronta o indivíduo repetidamente com a realidade. O envolvimento familiar é muito útil e mesmo essencial, uma vez que a pressão do grupo pode ser eficaz.
Os indivíduos com um distúrbio da personalidade algumas vezes apresentam ansiedade e depressão, as quais eles esperam que sejam aliviadas com medicamentos. Entretanto, a ansiedade e a depressão decorrentes de um distúrbio da personalidade raramente são aliviados de modo satisfatório por medicamentos Além disso, a terapia medicamentosa freqüentemente é complicada pelo uso inadequado das medicações ou por tentativas de suicídio.A alteração de uma personalidade leva muito tempo. Nenhum tratamento a curto prazo pode ter êxito na cura de um distúrbio da personalidade, mas certas mudanças podem ser obtidas mais rapidamente que outras. As atitudes irresponsáveis, o isolamento social, a ausência de auto-afirmação ou as explosões temperamentais podem responder à terapia de modificação do comportamento. Contudo, a psicoterapia prolongada (terapia falada) com o objetivo de ajudar o indivíduo a compreender as causas de sua ansiedade e a identificar seu comportamento inadequado continua sendo a base da maioria dos tratamentos. Alguns distúrbios da personalidade, como os tipos narcisista e o obsessivo-compulsivo, podem ser mais bem tratados com a psicanálise. Outros, como os tipos anti-social e o paranóide, raramente respondem a qualquer tipo de terapia.
Enfermeira Sofia Ramos
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