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12.09.2008

Quanto vale uma reputação? Ética Médica.


Quanto vale uma reputação?
Autor: Ciro Mortella*
Reportagens recentes sobre o relacionamento da indústria farmacêutica com os profissionais da medicina, divulgadas em jornais e canais de TV, deixaram de lado um aspecto fundamental: a ética médica.
Profissão das mais respeitadas na sociedade, a medicina se baseia num longo e profundo aprendizado, num saber renovado e acumulado ao longo de toda a carreira e por uma ética que envolve inúmeros aspectos, entre eles a atuação clínica e o relacionamento com os pacientes.

A indústria farmacêutica produz e fornece um bem essencial para a prática médica – o medicamento – e usa os diversos canais de comunicação disponíveis para levar as informações sobre seus produtos para os profissionais habilitados a prescrevê-lo para a população.

O médico precisa das informações dos laboratórios para se atualizar sobre os medicamentos disponíveis, assim como precisa saber das novidades sobre práticas terapêuticas, tratamentos e princípios ativos. São informações que se complementam, sem as quais o médico não pode desempenhar sua função a contento, numa época marcada pela medicina baseada em evidências e a produção acelerada de novos conhecimentos.

Nesse contexto, a visita dos propagandistas dos laboratórios aos consultórios tem uma clara e legítima intenção: a de divulgar entre os médicos as características e as indicações dos medicamentos lançados periodicamente pelas empresas que representam.

No ramo farmacêutico, assim como na área da saúde em geral, a atualização profissional é decisiva. É ela que valida, tanto clínica quanto cientificamente, a escolha deste ou daquele medicamento. É nessa perspectiva que devem ser entendidos os convites dos laboratórios para que médicos profiram palestras ou participem de congressos e encontros de atualização.

Qual é o verdadeiro significado de certas afirmações reproduzidas na imprensa e na mídia eletrônica a respeito da “preocupação com o assédio dos laboratórios farmacêuticos sobre médicos”, ou “o marketing agressivo [que] transmite a imagem de que os novos remédios são mais eficazes e os únicos capazes de curar certas patologias”?

Que os médicos não têm formação nem informação suficientes para escolher as terapias mais adequadas aos seus clientes? Que os médicos abdicariam de sua ética profissional e de seus compromissos com os pacientes, em troca de amostras grátis e viagens?

A que profissionais essas afirmações se referem? Certamente, não aos médicos que levam a sério o Juramento de Hipócrates. Nem aos que, nas palavras de um renomado médico brasileiro, fazem da “medicina uma profissão respeitável”, por meio do “compromisso diário com os doentes (...) e com a promoção de medidas para melhorar a saúde das comunidades”.

O compromisso da indústria farmacêutica não difere daquele assumido pelos doutores. Ele se expressa nos bilhões de dólares investidos anualmente em pesquisa e desenvolvimento (P&D), dos quais resultaram centenas de princípios ativos promissores, atualmente em fase de testes clínicos, para o tratamento de graves enfermidades como aids, doenças materno-infantis, câncer, doenças cardiovasculares, doenças prevalentes entre as mulheres etc.

Médicos e laboratórios têm uma reputação e um importante relacionamento a zelar.

Se a saúde no país vive lá os seus problemas - que não cabe analisar nesse espaço - a medicina brasileira vai muito bem. Transformou-se em referência mundial, graças à qualificação e ao trabalho de profissionais e instituições. E ao apoio da indústria farmacêutica, que lhe fornece algumas das principais armas de seu arsenal terapêutico.

(*) Ciro Mortella é presidente-executivo da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma).

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