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2.11.2009

MÉDICOS INDICAM ANABOLIZANTES A JOVENS



Medicamentos, que tratam doenças neurológicas, anemia e falta de testosterona, não devem ser usados por pessoas saudáveis.
Apresentando-se como um paciente que queria ganhar músculos para o verão, repórter da Folha passou por consulta com cinco médicos. Obter anabolizante é quase tão fácil quanto comprar aspirina.
Em São Paulo, a Folha encontrou médicos que se especializaram em "tratar" jovens que sonham em engrossar os músculos da noite para o dia. Apesar de os anabolizantes serem indicados exclusivamente para tratar problemas de saúde, os médicos os prescrevem para pessoas saudáveis.
E além de provocarem danos sérios e irreversíveis, essas drogas chegam a ser receitadas sem nenhum tipo de exame. Apresentando-se como um paciente que desejava ganhar músculos para o verão, o repórter se consultou com cinco médicos. Três disseram que os anabolizantes seriam o único remédio e não alertaram para os riscos nem deram a receita.
Outro médico prometeu prescrever a droga na consulta seguinte, depois que o repórter buscasse um nutricionista.
E o último deu a entender que faria o mesmo, mas impôs que o repórter frequentasse a academia nos sete dias da semana. A Folha chegou aos cinco médicos por indicação de professores de musculação e de fóruns na internet.
Três deles trabalham em clínicas de estética (em Moema, no Paraíso e nos Jardins). Os outros dois atendem em consultórios (em Higienópolis e no Ibirapuera). Em quase todas as salas de espera, os pacientes são jovens de peito estufado e braços inflados. Eles desembolsam de R$ 150 a R$ 350 pela consulta.
Embora os anabolizantes sejam achados no mercado negro (em academias e na internet), esses jovens preferem o médico porque acreditam que, dessa forma, as drogas deixam de ser perigosas. Pura ilusão. "Os anabólicos não devem ser usados de forma nenhuma. Nunca.
Nem com fins estéticos nem para melhorar o desempenho no esporte", diz Eduardo De Rose, especialista em medicina do esporte e membro da Agência Mundial Antidoping. Os anabolizantes são derivados da testosterona, hormônio natural ligado ao desenvolvimento das características sexuais masculinas e ao crescimento dos músculos.
Foram criados nos anos 1930 para tratar homens que não produzem testosterona suficiente. Hoje, eles são indicados também para pessoas com doenças neurológicas que afetam os músculos, idosos que precisam de reposição de testosterona e pessoas que sofrem certos tipos de anemia.
Não é indicado para pessoas saudáveis. Para ganhar músculos, jovens usam essas drogas em doses cem vezes superiores às indicadas para tratar problemas de saúde. A lista de efeitos colaterais é extensa. Vai da queda de cabelo ao ataque de coração. De ataques de agressividade ao câncer de fígado.
"Quanto maior a dose, maior o risco. Mas há pessoas que tomam pequenas doses e têm problemas. Essas substâncias são coisas sérias. Não podem ser vendidas sem indicação segura", diz a médica Ruth Clapauch, do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Por isso, anabolizantes só podem ser vendidos com receita médica.
E a prescrição fica retida na farmácia. Quem dá ou vende o produto sem a devida receita comete crime de tráfico de drogas. Outro risco é o vício. Quando a pessoa suspende o uso do anabolizante, os músculos desincham. Como esse "retrocesso" não costuma ser bem aceito, são grandes as chances de que a pessoa volte a usá-lo várias vezes ao longo da vida. "Isso é muito preocupante", diz Daniel Paulino Venâncio, professor de educação física da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "O padrão de beleza é ditado pela TV, mas nem todos podem atingi-lo.
" Para especialistas, a única receita segura para ganhar músculos inclui exercitar-se e alimentar-se corretamente e descansar bem. A ajuda de médicos, nutricionistas e profissionais de educação física também é recomendada.

PROFISSIONAIS DEVEM SER DENUNCIADOS E PROCESSADOS, DIZ CFM - O CFM (Conselho Federal de Medicina) afirma que os médicos que prescrevem anabolizantes para pessoas saudáveis cometem uma falta ética grave e devem ser denunciados e processados. Os anabolizantes são indicados apenas para pessoas com problemas de saúde específicos. "Mesmo que o paciente peça, o médico não pode receitar. Os efeitos colaterais são muito nocivos", diz Roberto D'Ávila, vice-presidente do CFM. Denunciado ao conselho, o médico pode ser julgado e até perder o direito de exercer a medicina. Ele também pode ser processado na Justiça comum.
O CFM recomenda ainda verificar se os médicos são, de fato, especialistas. "Eu senti na pele o que sente um viciado" - DA REPORTAGEM LOCAL - "Nunca experimentei drogas ilegais, mas posso dizer que já senti na pele o que sente um viciado. Tive essa sensação quando usei um anabolizante que parecia ser perfeitamente seguro -comprado em farmácia e com receita médica. No final do ano passado, procurei um médico especializado em atender frequentadores de academias de ginástica. Minha queixa: faço musculação há cinco anos e meus bíceps, tríceps e afins nunca "explodiram". Ele me pediu exames de sangue, testes de urina e provas de esteira ergométrica. Duas semanas depois, voltei com os resultados. Tudo normal. Eu esperava um tratamento com algum suplemento qualquer à base de proteína, mas o médico prescreveu um "remédio que dá mais força e disposição". Era um anabolizante. VENCER O MEDO - A palavra, por si só, assusta.
Acabei vencendo meu medo com o seguinte argumento: estou sendo orientado por um médico e fiz todos os exames, então que mal haveria? E fui à farmácia para a primeira das quatro dolorosas injeções semanais. Logo na manhã seguinte acordei cheio de pique para a academia.
As cargas que eu levantava até então ficaram leves como por milagre. Se puxava 12 kg, consegui puxar mais de 20 kg. Bastaram três dias para que meus braços ficassem mais grossos do que em anos de academia. A sensação era ótima. Gostava de olhar no espelho e ver que estava ficando mais forte e mais bonito. Acordava já pensando na academia.
E passava cada vez mais tempo lá dentro -quase quatro horas por dia, sete dias por semana. Pelos tipos físicos, percebi que pelo menos metade dos meus colegas de academia faziam uso frequente de anabolizante.

LESÃO E QUEDA DE CABELO - Comecei a suar muito. A pele do rosto ficou oleosa. O cabelo passou a cair. Tive dificuldades à noite para dormir. Fiquei agitado a ponto de não poder me concentrar no trabalho. Mesmo assim, eu considerava os benefícios do anabolizante maiores que os efeitos colaterais. Só comecei a me dar conta de que algo estava indo mal quando sofri uma lesão no braço por excesso de peso e quando percebi que, com o cabelo rareando cada vez mais, logo teria buracos na cabeça. A gota d'água foram as férias.
Com várias viagens marcadas, como eu conseguiria me exercitar durante aquelas quatro semanas? Foi um pânico. Como um drogado, eu já previa minha síndrome de abstinência. Cogitei a hipótese de passar as férias em São Paulo só para não ficar sem academia.
Tudo isso ocorreu em apenas três semanas. Com ajuda de um amigo, decidi não tomar a terceira das quatro doses.
Em pouco tempo, mesmo indo à academia, meu corpo voltou a ser praticamente igual a antes. Os músculos murcharam. Estou feliz por ter conseguido deixar os anabolizantes. Sei que nem todos conseguem. Mas tenho muito medo do que pode acontecer no futuro à minha saúde por causa de um médico irresponsável e de um desejo fútil de mudar a aparência."
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Fonte: Folha de São Paulo - Portal Médico

Suplemente-se na medida certa

Praticantes de atividades físicas ingerem suplementos nutricionais na esperança de resultados milagrosos.

Suplementação é sem dúvida um tema polêmico. Uns são contra; outros, a favor. Um dos argumentos contra é sua ligação com os anabolizantes, já que pesquisas nos EUA constataram que os consumidores de anabolizantes eram ex-usuários de suplementos. Em contrapartida, nem todo consumidor de suplemento acaba nos anabolizantes. Mas o perigo mais comum é fazer uso de suplementação sem consultar um nutricionista, único profissional autorizado a receitar qualquer alteração na dieta alimentar. É importante frisar que suplementos nutricionais - ou alimentares, como queiram chamar - não são anabolizantes as conhecidas bombas - e não fazem milagre, com muitos acreditam. Essas substâncias não agem de forma isolada e não são pílulas mágicas. Suplementos têm um objetivo muito específico: suprir o que a alimentação, sozinha, não consegue fornecer. "Aminoácidos não fazem crescer o músculo do braço. Essa função fica por conta do exercício físico", exemplifica Márcia Daskal, uma das autoras do livro Nutrição e Bem Estar para a Terceira Idade.

Para o praticante de exercícios, muitas vezes ingerir suplementos é a solução diante da preguiça de treinar sério ou mesmo encarar um novo cardápio, menos calórico, mais rico em nutrientes. Mas os especialistas alertam: o mau uso pode trazer efeitos colaterais. De acordo com a nutricionista Patrícia Bertolucci, tomar suplementos indiscriminadamente sobrecarrega os órgãos, como fígado e rins, ocasionando disfunções orgânicas e comprometendo a saúde. Exemplo? Patrícia afirma que o uso exagerado de proteínas pode danificar as células hepáticas e até levar à morte por intoxicação.

Vitaminas e minerais, quando ingeridos isoladamente, podem prejudicar a absorção de outros. "Existem uma interação de nutrientes no organismo. Principalmente as vitaminas minerais. A vitamina C favorece a absorção do ferro, que por sua vez inibe a absorção do cálcio, que interage com sódio e zinco", explica Márcia Daskal.

Somente um especialista saberá orienta-lo adequadamente para você não colocar sua saúde em risco e não jogar dinheiro fora. "Existem horários e dosagens recomendados para cada objetivo. Caso contrário, os suplementos podem se transformar nos temidos pneuzinhos", garante Márcia.

Mas afinal quando é preciso ingerir suplementos? Segundo a nutricionista Patrícia Bertolucci, atleta em fase de competição ou treinos fortes tem dificuldade para ingerir as quantidades de alimento que supram suas necessidades energéticas, e por isto neste caso a suplementação é recomendada. Outro caso é quando o atleta precisa reduzir o peso corpóreo para melhor perfomance e tem de diminuir a ingestão de alimentos sem perder a capacidade física. Ou então quando o indivíduo precisa se recuperar rapidamente de um treino e não tem apetite.

Da mesma forma que se consumir aminoácidos ou carboidratos sem necessidade você sai no prejuízo, deixar de toma-los quando necessário também não é bom. "Baixo rendimento e dificuldade de adaptação do organismo às cargas crescentes de treinamento são resultados da falta de nutrientes". Alerta Bertolucci. O cardápio de um praticante de atividade física varia de acordo com a modalidade praticada e o metabolismo do indivíduo, mas de maneira geral podemos afirmar que uma alimentação bem balanceada e com grande variedade fornece todos os nutrientes importantes, sem que precisemos de suplementação.mas existem casos em que o praticante de atividade física não é capaz de ingerir o solicitado pelo organismo. É o caso de Eduardo Pereira Guilherme Christiano, de 22 anos, estudante de engenharia que pratica natação, corrida e musculação.

Somente nutricionistas podem prescrever dietas e receitar suplementação. Considerado - por ele mesmo - magro, com seus 67 quilos distribuídos em 1,86 metros de altura. Eduardo resolveu ingerir suplementos por conta própria. Mas os resultados não foram os planejados. Além de não aumentar sua massa muscular, ganhou uma barriguinha. Ao procurar uma nutricionista, a primeira tarefa foi aprender a se alimentar corretamente, incluindo nutrientes importantes nas refeições, processo que durou cinco meses. Depois dói orientado para ingerir proteína e carboidrato porque seu metabolismo é muito acelerado, não tendo capacidade para ingerir o necessário. Ele precisa, aproximadamente de seis mil calorias/dia. "Estou feliz com os resultados. Se em três meses eu antes engordava 200 gramas, agora engordo um quilo", comenta Eduardo, que está com 73 quilos e tem a meta de chegar aos 80, bem distribuídos.

Para os atletas Michel Bögli e sua esposa Tâmara, o consumo de suplementos acontece somente em situações de extrema necessidade. "Nunca fui consumidor compulsivo de vitaminas e minerais. Mesmo quando era patrocinado por uma marca de suplementos tomava o cuidado de ingerir apenas o que meu organismo de fato precisava. Antes de partir para os complementos vitamínicos, procuro saciar minhas necessidades naturais", declara o triatleta, que se prepara para EMA - Expedição Mata Atlântica, competição que envolve várias modalidades de esportes de aventura. Atualmente, o casal aproveita para repetir, nas devidas proporções, o cardápio da sua filha Michela, de 11 meses, que tem uma alimentação de altíssima qualidade. Bobagens que divulgam por aí:

Quanto mais ingerir suplementos, melhor. Ledo engano: além de engordar, pode intoxicar o organismo.
Os suplementos atuam direto na região do corpo que pretendemos transformar. Ledo engano: não existe um efeito isolado.
Suplementar não engorda Ledo engano: em excesso, engorda da mesma forma que comer demais, do que o necessário.
Proteína e vitamina fazem bem à saúde, por isso é preciso consumir muito. Ledo engano: qualquer nutriente tem uma dose adequada. Mesmo sendo saudável, em grandes doses faz mal à saúde.
Fonte: Revista Academia Esportes - Ano 1 - nº 04

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