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3.17.2009

Cafezinho pode se tornar arma no combate ao mal de Alzheime


O esquema mostra como a adenosina e a cafeína regulam a atividade dos neurônios. A adenosina modula a ação dos neurotransmissores; a cafeína bloqueia a ação da adenosina nos seus receptores


Duas gotas de adoçante no meu remédio.
Estudo sugere que cafezinho pode se tornar arma no combate ao mal de Alzheimer

Boa notícia para os milhões de brasileiros que têm o hábito de tomar um cafezinho: a dose diária de cafeína pode ser um meio eficaz, barato e bem tolerado pelo organismo para combater o mal de Alzheimer. A descoberta foi realizada por cientistas brasileiros e portugueses. Em testes preliminares com camundongos, eles mostraram que a substância promoveu proteção completa dos neurônios expostos à proteína beta-amilóide, formadora de placas com ação tóxica que se depositam no cérebro dos indivíduos acometidos pela doença.

Segundo o psiquiatra Diogo Lara, coordenador da pesquisa e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), os medicamentos atuais não são capazes de retardar ou atenuar o processo de degeneração progressiva das células nervosas, característico da doença, já que não agem diretamente nos mecanismos de proteção dos neurônios.

A associação entre mal de Alzheimer e cafeína havia sido apontada em um estudo de 2002, que mostrava que pacientes com a doença consumiram durante a vida cerca de 60% menos cafeína em relação a indivíduos sadios. "As evidências em camundongos e essa pesquisa epidemiológica sugerem que o hábito de tomar café protege o indivíduo do desenvolvimento do Alzheimer", diz Oscar Dall’Igna, pesquisador envolvido no projeto.

A cafeína age nos chamados receptores A2A, presentes na membrana dos neurônios. Acredita-se que a presença da proteína beta-amilóide induza o cérebro a liberar uma quantidade maior de adenosina, um neuromodulador presente normalmente em baixas quantidades e que regula a ativação do neurônio. Ao se ligar aos receptores A2A, a adenosina incita a degeneração das células nervosas. Cabe à cafeína ocupar junto a esses receptores o espaço de atuação da adenosina. É o bloqueio desses receptores que protege contra a toxicidade da beta-amilóide.


O paciente de Alzheimer experimenta uma crescente incapacidade cognitiva, funcional e mental. Com causa desconhecida, a doença atinge sobretudo idosos. Há cerca de 14,5 milhões de brasileiros com mais de 60 anos de idade, dos quais 10% sofrem com a doença, segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). Para Diogo Lara, o efeito favorável da cafeína é especialmente importante para esse grupo, já que o número de receptores A2A aumenta com a idade.

Em março de 2004, inicia-se uma nova etapa do estudo, que testará o uso da substância em seres humanos. Metade dos pacientes receberá cafeína e à outra metade será dado placebo. Após um ano serão avaliados os sintomas e as imagens do cérebro dos pacientes que indicam mudanças morfológicas e marcadores químicos de neurônios vivos.

Caso se confirme sua eficácia contra o mal de Alzheimer em humanos, a cafeína poderia revolucionar o tratamento da doença. "As pessoas teriam menos medo de tomar um remédio como esse", diz Diogo. "É uma droga que todos conhecem, bem tolerada pela maioria da população, com poucos efeitos colaterais e baixo custo."

A pesquisa, publicada em abril no British Journal of Pharmacology, teve ainda a participação de cientistas das Universidades de Coimbra e Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Fábia Andérez
Ciência Hoje On-line

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