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3.17.2009
Células-tronco para os rins
Estudo em ratos é primeiro passo para reverter insuficiência renal crônica em seres humanos
Os portadores de insuficiência renal crônica podem ter, dentro de alguns anos, uma opção de tratamento capaz de aumentar o funcionamento dos rins. Após introduzir células-tronco retiradas da medula óssea de ratos saudáveis em outros com insuficiência renal, pesquisadores paulistas detectaram que a técnica gerou uma reversão do quadro da doença. Se resultados similares forem obtidos em humanos, o método poderia dispensar a diálise.
Os resultados do estudo, realizado por uma equipe da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foram aceitos para publicação na revista Stem Cells. “Existem muitos estudos sobre células-tronco, mas nenhum ainda havia sido feito no tratamento de insuficiência renal crônica”, afirma a médica Lúcia Andrade, da Faculdade de Medicina da USP.
Andrade e sua equipe induziram a insuficiência renal em ratos por meio da retirada de um rim inteiro e dois terços do outro, reduzindo a função renal dos roedores para 20% — o que, em um humano, equivaleria à necessidade de diálise. A diálise é um processo de filtragem artificial de substâncias indesejáveis no sangue que os rins já não conseguem mais filtrar, como a ureia.
A comparação das quatro imagens mostra a eficácia do tratamento com células-tronco. A imagem A mostra células renais de um rato sadio, e a B, as de um animal com insuficiência renal. As imagens de baixo mostram células renais de ratos que receberam uma (C) e três (D) doses de células-tronco (fotos: Lúcia Andrade).
Cento e vinte dias após a introdução das células-tronco da medula óssea de animais saudáveis, a equipe detectou um aumento de 30% na função renal das cobaias com insuficiência renal induzida. “Um ser humano com 50% de função renal não necessita de diálise”, afirma a médica. “Ele teria uma vida normal, com uma dieta específica e medicamentos para controle da doença.”
Segundo Andrade, as células-tronco melhoram a função renal porque migram para o tecido lesionado e liberam tanto substâncias inibidoras dos agentes inflamatórios responsáveis pela insuficiência renal quanto elementos que induzem a regeneração das células do rim.
“Muitos acreditam que as células-tronco migrem para o tecido, diferenciem-se em células específicas e assim o regenere”, explica a médica. “Mas, de acordo com nossos estudos, acreditamos que o mecanismo de ação das células-tronco seja mais imunológico que regenerativo”, defende.
Quatro grupos
No estudo conduzido por Andrade, foram utilizados quatro grupos de 10 ratos: um sem sofrer qualquer intervenção; outro com a capacidade renal reduzida, mas sem receber tratamento; outro que recebeu uma aplicação de células-tronco no 15º dia após a retirada dos rins; e outro que recebeu três aplicações quinzenais, também a partir do 15º dia.
Não foi detectada qualquer diferença entre os grupos que receberam uma ou três aplicações, e a função renal do grupo que não recebeu tratamento permaneceu em 20%. “Isso indica que o importante não é a quantidade de células, mas o seu tipo”, ressalta Andrade.
O grupo pretende agora verificar se o tempo em que a aplicação é feita influencia os resultados. “Como a maioria dos pacientes com insuficiência renal crônica começa a receber tratamento em estágios mais avançados da doença, queremos simular essa situação com ratos”, explica a médica.
Além disso, Andrade e sua equipe testarão este ano a aplicação de células-tronco em cães e gatos com a doença. Estudos como esse são fundamentais para viabilizar no futuro a aplicação de células-tronco em seres humanos com insuficiência renal crônica. Apesar de promissor, no entanto, esse ainda é um horizonte relativamente distante.
“Precisamos ter mais segurança na administração das células-tronco e na sua caracterização”, ressalva Andrade. “Elas podem migrar para outros tecidos que não o desejado, e há casos em que se diferenciam em células cancerosas”, atenta.
Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line
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