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5.15.2009

Depressão

Como Identificar a depressão
À semelhança do que se vai passando um pouco por todo o lado, são cada vez mais as pessoas que recorrem à Psiquiatria dizendo-se deprimidas. De facto, para muitos, esta é a única explicação que encontram para os seus estados de mau-humor, insatisfação, ou outros aparentados. Em parte, pela banalização popular do termo depressão e, em parte, porque esta é uma explicação com aceitação social para comportamentos que, de outra forma, não o seriam.

Deste modo, o termo depressão tem sido utilizado tão ingénua quanto abusivamente, por todas as partes envolvidas, pseudo-doentes, amigos, familiares e médicos. Saber identificar em si próprio uma falsa depressão é tão importante e útil como reconhecer uma verdadeira. Porque, se nesta última o psiquiatra é imprescindível, na primeira pode ser involuntariamente muito pernicioso. No mínimo, porque é a ele que vai ser atribuída a responsabilidade de uma "cura" que surgiria espontaneamente. Em consequência, o "curado" permanecerá mais vulnerável, insuficiente, dependente e terá desperdiçado uma oportunidade de aumentar a resistência da sua armadura psicológica, isto é, de crescer psicologicamente.

Qual a fronteira entre a depressão e o bem-estar? O problema é exactamente considerar uma em oposição à outra, como se apenas existissem dois estados de alma possíveis, o feliz ou saudável e o infeliz ou patológico. A verdade é que temos vindo a ser treinados para não tolerar qualquer desconforto ou frustração e a reconhecer como aceitável apenas a sua ausência. Esquecendo o largo espectro de estados de alma que caracterizam a nossa existência, incluindo os menos agradáveis. Em vez de perseguir objectivos irrealistas como o do "Bem-Estar" talvez seja mais prático e adequado contentarmo-nos apenas com a Não-Depressão, essa condição saudável onde se observam o largo cortejo de afectos, humores e emoções, melhores e piores, que oscilam de acordo com as nossas circunstâncias, sobretudo de acordo com a forma como as percebemos. Importa compreender que a tristeza é um sentimento de tonalidade desagradável que faz parte do conjunto de experiências humanas possíveis e não é, por si só, patológico ou sinónimo de depressão.

Do mesmo modo, uma reacção afectiva aguda de tonalidade depressiva, em resposta a um acontecimento desagradável, de duração e intensidade adequadas ao motivo e sem significativa repercussão intelectual ou laboral, é um fenómeno normal e com funções adaptativas que pode nunca vir a reunir os critérios de depressão.

Na dúvida, devo consultar o psiquiatra? Por vezes, torna-se importante, no mínimo, excluir o diagnóstico. Na dúvida, é prudente recolher uma opinião ou uma sugestão de profissionais habilitados. Por outro lado, o psiquiatra não serve apenas para tratar a doença depressiva. Foi treinado também para lidar com situações existenciais difíceis, não necessariamente patológicas, pelo que, na ausência de alguém sensato e disponível, pode oferecer um suporte pontual valioso. Importante é não o procurar com diagnósticos pré-estabelecidos nem delegar a responsabilidade exclusiva da busca de soluções em terceiros, sejam eles psiquiatras, comprimidos ou outros. Atenção às manifestações. Se no fim da consulta com o seu médico de família, este lhe sugerir uma consulta de Psiquiatria por ter suspeitado de um diagnóstico de depressão só porque se queixou de fadiga, "dores de cabeça", dores invulgares, perturbações digestivas, perda de apetite, é melhor acreditar nele. A maior parte das queixas que levam o deprimido ao médico são de natureza somática ("corporal"), não são de natureza psicológica. Estes quadros clínicos de depressão mascarada podem arrastar-se penosamente durante bastante tempo e ter um custo elevado a diversos níveis. Constituem indicação para uma abordagem psiquiátrica. Por fim se é apenas um diletante decepcionado por não ter encontrado o Sentido da Vida, recomendo trabalho árduo e duras responsabilidades. Por favor, não procure um psiquiatra.

Dr. Rui Sousa

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