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5.15.2009

Hepatites virais

As hepatites são doenças do fígado, de causas várias (vírus, medicamentos, tóxicos, etc.), caracterizadas por inflamação e necrose (morte) de células hepáticas. Se a resposta do organismo é adequada, a hepatite pode curar. Se é demasiado intensa o fígado é destruído (hepatite fulminante). Se é insuficiente, a infecção persiste, com lesões mais ou menos indolentes, mas progressivas. Daí decorrem os maiores riscos para o doente, pois a "ferida" vai-se perpetuando e formando "cicatrizes" (fibrose), que poderão conduzir a cirrose e a tumor do fígado (carcinoma hepatocelular). Quanto ao tempo de duração, as hepatites podem ser agudas (menos de 6 meses de evolução) ou crônicas (mais de 6 meses).

Quais são os vírus das hepatites? Conhecem-se actualmente cinco vírus das hepatites: os vírus A (VHA), B (VHB), C (VHC), D (VHD) e E (VHE). Têm em comum a apetência para infectar as principais células hepáticas (os hepatócitos), mas têm diferenças importantes no que respeita às vias de transmissão, ao modo de provocar a doença e à evolução. Além destes, haverá outro, ou outros, que originarão algumas hepatites cuja causa ainda não conhecemos.

Como são transmitidas? Os VHA e VHE transmitem-se por via fecal-oral (ingestão de alimentos ou águas contaminados) e apenas causam hepatite aguda. A hepatite A é frequente em todo o mundo, mas mais nas regiões com más condições higieno-sanitárias e é pouco grave. A hepatite E existe apenas em certas regiões do globo (Índia, Paquistão, ex-URSS, norte de África), sendo mais grave em mulheres grávidas. Os VHB e VHC transmitem-se por via parenteral (contaminação com sangue e derivados, ou com outros fluidos orgânicos) e causam hepatite aguda ou crónica. A hepatite D ocorre apenas em doentes também infectados pelo VHB e está praticamente limitada aos toxicodependentes.

Como é a hepatite A? A maioria dos casos de hepatite A (sobretudo na criança) não causa sintomas e o doente cura sem se aperceber de que teve infecção. No adulto são mais frequentes os sintomas, a evolução é mais arrastada, podendo causar maior sofrimento. Após um período breve de febrícula e mal estar geral, surgem icterícia, náuseas, vómitos e dor abdominal. Neste caso, deve ser consultado o médico, para que seja feito o diagnóstico e avaliada a gravidade, uma vez que os sintomas são semelhantes nas hepatites A, B ou C e só os exames complementares permitem o diagnóstico. Não existe tratamento para a hepatite A. O repouso absoluto não é necessário. Devem evitar-se as gorduras, para diminuir as náuseas e o mal estar e o álcool, pela toxicidade hepática. Não devem tomar-se medicamentos sem prescrição médica. A vacina da hepatite A está disponível em Portugal.

Como saber se se sofre de hepatite B ou C? Na infecção pelo VHC mais de 80% dos casos evoluem para a cronicidade, enquanto isso só acontece em cerca de 5 a 10% dos adultos infectados pelo VHB. A maioria dos doentes com hepatite crónica não apresenta sintomas ou sinais, sendo detectados em análises de rotina. Quando há sintomas são, geralmente, inespecíficos (falta de força, mal estar indefinido ou falta de apetite). Em Portugal existirão cerca de 150 mil portadores do VHB e mais de 100 mil do VHC. A maioria não apresenta lesões muito graves, mas cerca de 20% dos que têm hepatite crónica virão a sofrer de cirrose e alguns de carcinoma hepatocelular. Todas as pessoas com hepatite aguda no passado, com estadia em regiões de risco (África, extremo oriente), com comportamentos de risco, actuais ou passados (toxicodependência, relações sexuais suspeitas), sujeitas a terapêuticas parenterais com assepsia incorrecta (injecções com material apenas fervido, p.ex.), ou a transfusões de sangue antes de 1992 (data da introdução dos testes para a hepatite C), ou com alterações das análises que traduzem lesão hepática (aminotransferases ou transami-nases) devem recorrer ao médico para que seja feito o rastreio das hepatites B e C.

Qual o tratamento das hepatites crónicas? É possível e necessário tratar os doentes com hepatites crónicas B e C. Actualmente estão aprovados o interferão-alfa e a lamivudina para o tratamento da hepatite crónica B e o interferão-alfa, com ou sem associação à ribavirina, para o tratamento da hepatite C. O acompanhamento médico especializado é importante para o aconselhamento correcto sobre a melhor atitude terapêutica a tomar. Os doentes com hepatites crónicas podem e devem fazer uma alimentação normal. O álcool deve ser evitado.

Como prevenir as hepatites B e C? Existe vacina para a hepatite B, incluída no programa de vacinações português. Além disso todos devem tomar medidas profilácticas: evitar a partilha de agulhas e seringas e demais instrumentos passíveis de contaminação com sangue (lâminas, escovas de dentes, utensílios de manicura, etc.), evitar relações sexuais de risco, usar preservativo sempre que necessário. O convívio diário, a partilha de utensílios de cozinha, etc., não envolve riscos. A contagiosidade da hepatite C é muito menor do que a da hepatite B, porque a quantidade de vírus em circulação é mais baixa. É menos provável a infecção por picada acidental (2 a 5% dos casos) e pela via sexual (cerca de 2 a 4% dos parceiros sexuais de doentes com hepatite C). Se a mãe é portadora do VHB devem administrar-se ao recém-nascido imunoglobulinas específicas (com anticorpos protectores da infecção) e a vacina da hepatite B. No caso da hepatite C deve vigiar-se a criança, que na maioria dos casos não virá a contrair a hepatite. Em todo o caso, não há contra-indicação para a gravidez, nem indicação para interrupção voluntária por motivos médicos.

Prof. Armando Carvalho

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