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2.22.2010

Chapéu de anjo

- Dificuldade para controlar minhas emoções e evitar demonstrá-las;
- Saber que está certo e todos os outros estão errados;





Volta e meia a gente se depara com alguma situação no trabalho onde temos certeza que estamos certos, mas não nos deixam agir do nosso modo.

Ou ainda, não fazem aquilo que gostaríamos que fosse feito. Diria que meus últimos três anos foram fundamentais para aprender a lidar melhor com isso. Ainda tenho uma porção de lacunas e desvios, mas tive ótimas orientações que me fizeram encarar os problemas de forma mais amena.

Quem melhor me entendeu e foi capaz de domar meu temperamento foi o Rafael Ehlers, meu chefe na Novartis por pouco mais de um ano. Sua visão quase fatalista dos acontecimentos convenceu-me a questionar menos e trabalhar mais. Era um cara que entendia as forças e deficiência das pessoas, ajudando nessas e potencializando aquelas.

Isso sempre foi crucial para mim, porque uma coisa que sempre achei difícil foi controlar algumas emoções – especialmente as negativas. (Que o pessoal do pôquer não leia esse post!) Em alguns momentos isso chegava a representar um entrave ao meu crescimento profissional impedindo, inclusive, que eu fosse promovido ou tivesse atribuições mais nobres. Afinal de contas, por mais gênio que você seja, ninguém é obrigado a aturar o seu mau humor. Ou o meu, nesse caso.

A pior parte de sentir-se contrariado, como disse no início, é quando você acha que está certo. Vivi uma situação dessas recentemente que me fez lembrar muito de um livro que li no ano passado: The Halo Effect – and the eight other business delusions that deceive managers de Phil Rosenzweig (Free Press, 2007).

Com uma clareza impressionante Phil (permita-me...) mostra quais são as principais falácias que deturpam o mundo dos negócios e de que forma elas tornam-se perniciosas no ambiente corporativo. “Halo effect”, ou efeito halo (ou auréola, que nada mais é que o chapéu do anjo) é a nossa tendência a atribuir características positivas a quem tem resultados positivos – e vice-versa.

Se você conseguir superar a fase de discordar abertamente, talvez venha a parte mais difícil, que é controlar suas expressões. Às vezes, mesmo não dizendo nada, seu corpo está mostrando a sua insatisfação. Eu sempre fui meio impaciente e minhas caretas entregavam meus sentimentos. Eu nem precisava falar nada, porque as pessoas liam o meu rosto, onde estava escrito o que eu pensava.

Essa é a parte mais complicada, porque você não está se vendo e algumas reações são quase automáticas. Nesse caso é preciso muito auto-controle mas, em primeiro lugar, reconhecer o que está fazendo.

Peça a alguém de confiança que preste atenção em você numa reunião e depois te descreva suas reações. Controlar isso é muito difícil, mas se você não reconhecer o problema não vai vai poder corrigí-lo.

Saber que está certo enquanto os outros estão errados - muitas vezes isso é mais uma briga de egos do que qualquer outra coisa. Poucas pessoas reconhecem que estão erradas de forma humilde e sem ressentimentos.

Antes de mais nada você precisa avaliar se a questão é realmente importante, se faz diferença no futuro da empresa e se o motivo pelo qual você briga é mesmo relevante. Às vezes a gente se envolve em acaloradas discussões simplesmente por vaidade, para mostrar que estamos certos e os outros estão errados. São dois carecas brigando por um pente.

Se for um problema irrelevante, deixe para lá (e não faça caretas demonstrando que está contrariado!). Caso seja realmente algo imprescindível, mostre com tato e educação o seu ponto-de-vista. Faça-o de forma embasada e sem emoção.

Uma árvore de decisões, com os resultados prováveis de cada alternativa (com probabilidades em porcentagens) pode ajudar a visualizar melhor o problema e escolher a solução mais vantajosa.

Muito cuidado com as palavras. Evite coisas como "Eu acho que...", "Você não está entendendo..." ou "Isso está errado porque...". Tente formas mais conciliadoras como "Que tal se olhássemos por esse ângulo..." ou "O que será que aconteceria se...".

Jogue as alternativas na mesa e deixe que os outros cheguem às conclusões que você já tem. Se parecer que a idéia é do grupo - e não sua - ela terá muito mais força e ninguém parecerá contrariado. E lembre-se sempre que, apesar de todas as suas convicções, ainda assim você pode estar errado.

Se mesmo assim você não convencê-los, tudo bem. Não faça disso um cavalo de batalha, ou você vai ficar dando murro em ponto de faca e ficará com imagem de cabeça-dura - coisa que será difícil se livrar mais tarde. Se no futuro algo der errado, evite a tentação de ficar dizendo "Eu avisei...", porque isso não te levará a nada. Poucas coisas irritam mais as pessoas do que isso. Enganar-se já é suficientemente frustrante e ter alguém lembrando-lhe disso o tempo todo é ainda mais desagradável.


Por: Rodolfo Araújo

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